1. Doce da vida

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Vida!

Qual o seu verdadeiro sentido? Pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem todos os dias. É o cumprir de uma missão.
Alguns vivem intensamente, outros apenas existem, por diferentes razões e não adianta procuramos por respostas nos livros. Acredito eu que seja esse o mistério, o "ar da graça" de estar vivo, por que já imaginou se vivêssemos da mesma forma?
Nós vivemos em busca de uma razão para estarmos aqui. E no final, há mesmo uma? Nós nunca sabemos, até que finalmente sentimos. Porque é claro, temos um propósito. Todos temos. Alguns vieram para mudar o mundo inteiro, alguns, para mudar um mundo específico... O mundo de alguém.
Eu, por outro lado, vim para salvar vidas.

Quando criança, não convidava as amiguinhas para uma tarde de chazinho com as bonecas. O estetoscópio me era mais interessante. Lembro-me de espalhar os mais diversos ursos pelo chão para serem examinados. Eu sempre quis ser médica e hoje, com vinte e sete anos de idade vejo meu sonho se tornar realidade a cada sorriso dado pelos meus pacientes ou a cada esperança de cura.
Ser médica não é tarefa fácil, a começar pela quantidade de horas estudadas, adolescência perdida e horas extras. Mas, a facilidade torna-se mais alcançável quando amamos o que fazemos.
Muitos amigos e familiares me perguntavam se eu não me sentia solitária, pelo fato de não ter alguém ao meu lado. Mas eu realmente não sentia, o meu amor era a medicina e eu havia me encontrado ali. Se um dia, eu sentisse algo tão grande por alguém como eu sinto pela medicina... com certeza, eu não precisaria de muito para pedi-la em casamento!

A cafeteria estava vazia, o que era estranho, já que desde que comecei a frequenta-la notei que muitas pessoas tomavam seu café da manhã ali. O tempo estava frio, o céu escuro e as nuvens cinzas, combinando com o meu humor. E com os meus últimos dias.
Deixe-me explicar: sim, a medicina é o meu amor maior. Mas ultimamente, tenho sentido falta de algo. Algo o qual eu não sei explicar exatamente. É como se faltasse uma peça, que eu não soubesse como achar.
Adentrei a cafeteria, sentando em uma das mesas. Gostava daquele lugar, era aconchegante e... tinha cheiro de casa! Assim que me sentei, abri um dos cardápios e enquanto escolhia os meus pedidos, uma bela moça de cabelos ruivos caminhou em minha direção - aparentemente uma nova garçonete, já que nunca tinha visto a mesma por ali. Ela se aproximou e eu pude vê-la mais claramente, ela era realmente linda. Seus cachos era bem cuidados, apesar de estarem presos para trás. Ela era pequena e seus traços eram finos e delicados, sua pele pálida.

- Bom dia! Posso ajudá-la? - perguntou e eu neguei com a cabeça, tentando afastar meus pensamentos e voltar ao normal.

- Bom dia. Uh... me traga um café. Sem açúcar.

- E o que mais, senhora? - anotava algo no bloquinho de papel que estava na sua mão. Discretamente olhei o seu nome no crachá pendurado em sua roupa.

- O que me sugere?

- Bom... temos uma deliciosa torta de morango com calda de chocolate. É a minha preferida.

- Pois bem! Me traga o café e um pedaço dessa torta. - ela assentiu e se virou para sair. - Hey! - chamei.

- Pois não?

- A torta é para viagem.

A garota ruiva assentiu e logo caminhou para dentro do estabelecimento, provavelmente entregando os pedidos. Como a cafeteria estava um tanto quanto vazia, ela estava sentada no caixa, fazia movimentos com a boca, os quais não eram audíveis para mim. Provavelmente cantarolando alguma canção, o que me fez me perguntar como seria a voz da moça cantando alguma música em alto e bom som.

Eu fiquei distraída com meus pensamentos, ora olhava a chuva que havia começado a cair lá fora, ora olhava a moça no caixa. Da última vez ela não estava mais lá, e logo reapareceu, com o meu pedido em mãos. Entregou-me o café e uma sacola com a torta que eu havia pedido.

- Café sem açúcar? E o doce da vida?

Ela perguntou, soltando uma risada e eu pude perceber o quão adorável ela era ao realizar tal ato.

- Doce da vida? - perguntei sem entender.

- Sim! Para alegrar o seu dia. Dizem que se comer um por dia, aos poucos a vida torna-se melhor.

- Ou você adquire uma diabetes! - soltei uma gargalhada e neguei levemente com a cabeça, vendo a garota rir juntamente comigo. Parei de rir e balancei a sacola que estava em minhas mãos.

- Eu aposto que isso é açúcar suficiente para adoçar o meu dia. Mas o que realmente adoçou ele foi ver um sorriso tão sincero vindo de uma moça ruiva! - falei com um sorriso em meus lábios, vendo que a moça se envergonhou, mas sorriu de volta. Ela me olhou e olhou para dentro do estabelecimento, como se dissesse indiretamente que tinha que ir.

- Tenho que ir... bom dia!

- Bom dia, Caroline! - murmurei e vi ela sorrir novamente, sem esconder a surpresa quando pronunciei seu nome.

Nenhum doce seria capaz de adoçar mais o meu dia.

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Oi, amores! Sejam bem-vindos a nossa fanfic.
Essa é uma ideia minha, Manu (@manumorgado, autora de "Um Bebê Entre Nós") e da Paola (@kccmorgado, autora de "Esperar"). Espero que vocês gostem.

10 Coisas Para Se Fazer Antes De MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora