One

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                                           Kyungsoo era como uma ave prestes a voar.




   Passou pela porta da sala onde seu pai permanecia sentado no sofá desde que saíra para a aula. Ele lia alguns papéis enquanto, com a outra mão, segurava uma garrafa de álcool da qual bebia um longo gole em intervalos de segundos.

Temia a reação dele ao saber que, sem aviso ou permissão, seu filho entrou em um clube de teatro e em dois dias se apresentaria como um dos coadjuvantes de uma peça escrita por seus colegas de classe.

Nunca teve um relacionamento saudável com seu pai. Abandonado com uma criança pela sua mulher - mulher da qual o garoto nunca soubera o nome e a conhecia apenas por A Puta Que Te Abandonou —, culpava Kyungsoo de todos os males que sofreu. Afogou-se no alcoolismo e jogou sua cria em uma escola pública qualquer e além disso, o negligenciava fisicamente falando e com palavras ofensivas. O Do mais novo, por sua vez, nunca o odiou de fato, ele o amava e se esforçava para ser um filho melhor, sofria com a rigidez do velho que colocava em sua cabeça que tudo aquilo era para seu bem.

— Pai... — chamou, apertando a alça rasgada de sua mochila velha.

O homem, por trás dos óculos de lentes sujas, estreitou os olhos. Hesitante, o adolescente tirou de seu bolso um convite.

— Eu tenho uma apresentação. — disse, um pouco intimidado.

Largou as contas no estofado e pegou de supetão o pequeno papel das mãos do garoto, lendo-o com dificuldade.

— Vou pensar em seu caso, garoto.— falou com embargo.

Soltou a respiração que nem percebeu ter segurado, o alívio se propagou por seu corpo. Talvez estivesse embriagado demais para ter noção do que estava fazendo.

— Você vai estar ocupado?

Não o respondeu. Kyungsoo sabia que seu pai não tinha ocupação alguma além de jogos de futebol a serem transmitidos pela televisão antiga e chiada daquele cômodo.

Olhou para o chão e caminhou até o seu quarto — se aquilo podia ser o seu quarto, já que era um cubículo único no apartamento; na maioria das vezes dormia no sofá da sala e deixava que o Do mais velho, exalando uma ressaca dolorosa, se acomodasse na cama —, colocou sobre a mesinha seus materiais escolares e sentou-se no carpete desgastado. Puxou debaixo das almofadas largadas no chão um roteiro de dez páginas, com todas as suas falas e ações. Seus olhos brilhavam ao ler cada palavra ali escrita. Sempre quis filiar-se ao teatro do colégio, e em seu primeiro papel atuaria como principal e não conseguia conter-se de ansiedade.

Colocou sua cabeça para fora das cortinas, procurando pelo pai entre o aglomerado de pessoas ali presentes assistindo à apresentação. Desânimo. Ele não estava em nenhum dos assentos reservados aos familiares. Voltou para o camarim improvisado em uma sala pelos auxiliares onde a movimentação estava turbulenta. Foi parado por Nayun, uma das garotas responsáveis pela caracterização da peça, que colocou em sua cabeça uma coroa de galhos e folhas e o entregou uma capa marrom.

— É a sua hora, Tarjei.

Kyungsoo sorriu com nervosismo e juntou-se à fila de atores abotoando o sobretudo com os dedos frios e suados. Achava divertido a maneira livre dos estudantes, que faziam barulho, mexiam braços e pernas, alongavam-se, pulavam, tudo pelo meio artístico, em forma de aquecimento.

O som do microfone, das músicas de fundo e da multidão se misturavam, o deixando levemente confuso. Seus acompanhantes de cena faziam agora gritos de guerra e citavam, com gestos exagerados, frases motivacionais. Toda aquela energia o contagiava e um sorriso que nunca dera antes o entregava facilmente.

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⏰ Last updated: Jul 28, 2018 ⏰

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KyungsooWhere stories live. Discover now