Capitulo 3 - Irmã Durona

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Samantha Gluck

– E aí, neném. Tudo bem com você? – Eu perguntei enquanto alisava o capô do meu jipe. O motor estava novo em folha e os pneus estavam calibrados. Meu velho carro estava pronto e agora eu já podia voltar a trabalhar normalmente.

– Gostou do trabalho? – T-Dog perguntou. Além de sermos amigos, era ele que me patrocinava nos eventos de MotoCross.

– Ficou perfeito. Amanhã vou pintá-lo.

– Beleza. O que foi isso no seu braço? – T-Dog estava curioso desde que eu havia chegado. Ele estava de olho no meu cotovelo, mas só agora resolveu manifestar sua curiosidade.

– Um idiota me atropelou.

– Foi muito sério? Porque você sabe... Se os caras verem que você tá machucada, eles vão querer te tirar da competição. – Sua voz saiu ríspida, como se ele estivesse me brigando.

– Eu to bem, valeu?! Só machuquei meu cotovelo. – Eu disse enquanto revisava os quatro pneus do carro.

– Vem cá. – Chamou ele. Eu fiquei em sua frente. – Levanta a blusa. – Mandou.

– T-Dog...

– Levanta a blusa, Sam. – Ordenou autoritário. Suspirei. Por fim, levantei a blusa. T-Dog avaliou. – Agora vira de costa. – Fiz o que ele disse. – Tem alguns arranhões aqui. Trata de passar algum remédio nisso aí, senão os outros concorrentes vão ficar frescando com você.

– Tá. Agora eu já vou indo. Matt deve estar com fome e conhecendo Dorothy como eu conheço, nem deve ter colocado o jantar dele. – Anunciei já entrando no meu carro. O cheiro era de carro limpo com um leve toque amadeirado de pinheiro.

– Você é mais mãe daquele garoto do que ela. – T-Dog comentou. Era verdade. Era eu quem cuidava de Matt e obviamente seria eu que cuidaria do inocente ser que minha “amada” mãe gerava.

– É. – Suspirei. Enfiei chave na ignição e girei, fazendo o motor ranger um som melodioso aos meus ouvidos. Perfeito. O motor estava perfeito. – Valeu, T-Dog.

– Que nada garota. Precisando... É Só me telefonar. E fica esperta. Depois de amanhã vamos treinar, ok? Quero ver minha garota brilhar na competição. – T-Dog não era um cara que sorria muito. Estava sempre carrancudo e muito concentrado, mas ele acabou sorrindo mostrando sua jovialidade de um homem de 45 anos. Seus olhos azuis piscina reluziram sobre a baixa claridade de sua oficina mal iluminada. Ao redor de seus olhos, pequenas e simpáticas rugas se destacavam, deixando-o mais charmoso.

– Obrigada mesmo. Fica com Deus. – Ele assentiu e eu dei partida. Pelo retrovisor o vi acenar e eu apenas sorri para ele. Era bom sentir a brisa da noite abraçando meu corpo, eu me sentia livre, solta, como se meus problemas sumissem por um determinado tempo. Na minha vida, a única coisa boa que eu tinha era Matt, mais nada. Minha mãe era uma desnaturada viciada em álcool e drogas. Era eu que pagava as contas no fim do mês e fui eu que quitei a casa. Só não colocava Dorothy para fora porque ela estava grávida. Caso contrário já estaria no olho da rua. Ela não me ajuda em nada e ainda por cima é uma pessoa muito mal agradecida. Faço de tudo para mantê-la confortável, mas ela continua sendo ingrata. Não espero mais nada dela e já nem me surpreendo mais com seus atos, mas se tem um ser do qual eu sinto pena é meu querido irmãozinho Matt. Ele não deveria está passando por aquilo. Ele sofria ao ver nossa mãe bêbada andando pela casa, enquanto desferia palavrões constrangedores. Matt coitado, apenas corria para o quarto e se trancava por horas. O trauma no menino foi tão grande que ele já nem a chama mais de mãe. Criei-o desde que nasceu, e ele era muito agarrado a mim. Como T-Dog disse, realmente eu era mais sua mãe que Dorothy. Por fim, suspirei. Estava preocupada com Matt. Ele estava estranho ultimamente. Não queria conversar comigo, e andava sempre cabisbaixo. Acho melhor verificar isso assim que chegar em casa, vou conversar seriamente com ele. Vamos pôr tudo em pratos limpos.

Em hiatus - Bálsamo InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora