Hannibal Lecter e Chiyoh faziam parte do público que visitava o Museu Kuwana, na província de Mie, Japão. Eles estavam ali para ver a coleção de Katanas Muramasa, consideradas malditas. Katanas são espadas japonesas comumente utilizadas por samurais no passado, peças incrivelmente belas, transmitindo um conjunto de tradições culturais profundas e valores estéticos. No entanto, algumas katanas diferem não só pela obra de arte visual, mas sim pelo poder e afiação de sua lâmina, forjadas especialmente para batalha, ou seja, matar, porque isso é precisamente o que elas são projetadas para ser. Símbolos de prestígio e poder, muitas das katanas mais preciosas do Japão foram feitas especificamente para servir como herança de família ou como objetos cerimoniais mantidos em santuários xintoístas.
Segundo a lenda, um dos famosos artesões de espadas no Japão era Soshu Muramasa. Ele forjava lâminas capazes de cortar tubos de cobre sem perder o fio. Algumas pessoas começaram a suspeitar da qualidade das espadas de Muramasa, pois, elas pareciam desafiar a física do metal a partir do qual elas foram forjadas. Boatos começaram a surgir de que sangue fresco era utilizado na fabricação das lâminas e rumores diziam que cadáveres eram frequentemente encontrados perto da oficina de Murasama. A partir dali, atribuíram as obras do artesão às forças demoníacas, quem possuísse uma de suas katanas se tornaria perigoso. Em 1603, o imperador Shogunato Tokugawa proibiu os samurais de empunhar as espadas, sendo retiradas de circulação e apreendidas. Um número significativo dessas katanas foi preservado por colecionadores na época e agora estavam em exposição.
Chiyoh quando soube, sugeriu a Lecter que fossem conferir as tais espadas malditas de perto. Ela recordou-se de ter visto uma réplica de uma das espadas na casa do penhasco, nos Estados Unidos. Infelizmente, a réplica tinha sido deixada para trás.
Devaneando sobre o passado, a oriental pensou nas as águas que rodeava aquele local.
O profundo mar azul dolorosamente salgado.
E então, o passado veio até ela, trazendo de volta aquela noite.
A costa íngreme erodiu e em breve, tudo aquilo seria engolido pelo oceano. A maresia seria capaz de corroer não só o concreto e gesso da casa, mas também oxidaria os momentos vividos ali. Havia mais terra compondo a falésia quando Abigail esteve lá. Enquanto aquele local serviu de cativeiro para Miriam Lass, as ondas marítimas colidiram com menos força contra as rochas. Chiyoh zelava o local, mesmo após a prisão de Hannibal Lecter. Ela não poderia voltar para a Lituânia e ficar no Castelo Lecter após o suposto assassino de Mischa — que foi mantido preso por longos vinte anos — ter sido morto por suas próprias mãos. E ela estaria lá sempre, como um cão fiel e vigilante, pronta para proteger Hannibal quando necessário, mesmo que custasse a sua vida garantir o bem estar do homem.
Chiyoh conheceu Hannibal quando ainda trabalhava como empregada para sua tia, a senhorita Murasaki. A japonesa tinha mais ou menos a mesma idade de Hannibal quando ele chegou até a casa de seus tios. Uma jovem criada, órfã como ele.
Murasaki Shikibu era uma bela mulher, além de ser extremamente educada e compreensiva. Se Chiyoh tivesse conhecido sua mãe, gostaria que ela fosse que nem a lady. Robert Lecter tivera sorte ao se casar com a oriental. Para agradar a sua esposa havia convertido a prensa de vinhos da casa em uma sauna japonesa, o tanque de pressão estava cheio de água quente, graças a um aquecedor de pressão Goldberg adaptado a partir de uma destilaria de conhaque feita de cobre. A sala cheirava a lenha e alecrim.
Lecter parecia um gato arisco, não falava sequer uma palavra. Magro, pálido e desconfiado. À noite sempre chamava por sua irmã. Mischa. Certa vez, Robert — agora conde Lecter após a morte de seu irmão — e Murasaki tiveram que invadir o quarto de Hannibal . Ele havia rasgado o travesseiro com os dentes e as penas voaram pelo cômodo, pareceu estar nevando por conta da penugem alva. Rosnava como um animal e gritava de forma contínua. A jovem serva ouvindo todo o barulho causado pela confusão atravessou os corredores de pedra até presenciar a cena de perto.
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The Broken Teacup
FanficWill Graham sempre foi um castelo de cartas inacabado esperando ser demolido a qualquer momento. Ele só não esperava que o psiquiatra canibal viria a criar gosto por derrubar as cartas, aguardando que fossem reconstruídas para serem levadas ao chão...