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Batalha de Hogwarts (2 de maio de 1998)

Caos. Tudo começou com o caos infernal da Guerra. É engraçado como o fogo expõe nossas prioridades. Eu não fazia ideia de quando "por ela" havia se tornado "por ele", talvez nunca tivesse realmente sido minha lealdade à minha melhor amiga que fizera com que eu me apegasse ao azarado menino, seu filho.

Várias vezes durante os últimos meses eu tenho me flagrado pensando no início de nossa jornada, quando ele ainda era uma criança desnutrida e maltratada por todas as tragédias que a vida havia lhe trazido naquele curto espaço de tempo em que ele tinha existido. E pensando nisso, ninguém deveria ter ficado surpreso com tudo o que aconteceu depois porque, de fato, Potter estava fadado à dor.

A dor recaia presa ao pequeno Harry do mesmo jeito que ele recaia a mim. E ele me odiava. Sempre odiara. Eu não poderia de modo algum me queixar disso, eu merecia mais do que seu ódio depois de tudo que havia feito com e para ele, mas no fundo eu sabia que estava trabalhando para um bem maior.

Tudo aconteceu rápido demais, estava tudo escuro enquanto explosões coloridas aconteciam, e mesmo que minha audição estivesse comprometida, as explosões e os gritos ainda eram audíveis em bom som, fazendo com que um arrepio subisse por minha espinha a cada vez que eu pensava que poderia ser ele gritando de dor, implorando por misericórdia, porque eu sabia que se Lorde Voldemort capturasse Harry Potter, ele o faria sofrer por ter sido o maior obstáculo em sua busca pelo poder absoluto.

O homem – mais para uma cobra humanoide do que homem – me rodeava, falando devagar e suavemente, mas eu conseguia ouvir todo o ódio e veneno escorrendo de suas palavras. Ele iria me matar. Depois de tudo, depois de ter matado um dos melhores homens que eu havia conhecido, Voldemort me mataria para atingir seus objetivos. E então aconteceu.

Eu o tinha em minha mente quando ele entrou rapidamente no recinto, se jogando ao meu lado, me examinando rapidamente, seus olhos percorrendo todo meu corpo e parando em meu pescoço. Fazia poucos segundos que Nagini havia me atingido, e eu conseguia sentir seu veneno se misturando com meu sangue por minha circulação. Voldemort e a cobra haviam saído logo após minha queda, querendo ir de encontro á Harry.

Seus olhos assustados e perdidos, cheios de lágrima que eu sabia que ele não deixaria cair estavam ainda presos a meu pescoço. Seus dois fiéis escudeiros estavam parados á porta, ele relutaram e acabaram ficando ali ao ver a reação de Harry, tentando o dar privacidade.

"Severo" sussurrou ele levantando as mãos para me tocar, mas senti seu medo de só me ferir mais. "Severo, por favor" disse ele. Suas mãos finalmente se encontraram com minha cabeça, e enquanto ele acariciava meu cabelo, a dor sumira.

O olhar dirigido a mim era tão intenso. Não conseguia pensar em mais nada. Era o efeito que ele tinha sobre mim. Inclinei minha cabeça ao seu toque, aquela era a primeira vez que ele me tocava, e seria possivelmente a última também.

AVADA KEDAVRA!, ouvi algum bruxo gritar ao longe. Minha mente se clareou um pouco pelo susto. A guerra ainda não havia acabado, Harry precisava saber. Mas do que ele precisava saber? Eu não conseguia me lembrar do que eu deveria lhe contar.

"Harry, minhas lágrimas" falei lentamente, minha voz falhando feiamente. Ele parecia confuso. "Pegue-as" falei.

"Hermione, me de algo" disse Harry para a garota que tinha um olhar aflito. Ela rapidamente abriu uma pequena bolsa e conjurou um tubo de ensaio, o entregando a Harry.

O menino trouxe o vidro gelado até meu rosto, recolhendo as lágrimas que ele usaria para ver minhas memórias. As memórias que seriam úteis a ele. Eu tinha fé nele, ele era o único que poderia vencer aquela Guerra. Ele era o único capaz de trazer paz ao mundo bruxo, e a mim.

Não tinha percebido o quão perto de mim ele estava. Eu conseguia sentir sua respiração em meu rosto. Mesmo naquelas circunstancias ele continuava lindo. "Não morra" disse ele baixinho. "Por favor, não morra, Severo" disse ele.

"Harry, temos que ir!" sussurrou Hermione nervosa.

Ele me olhou. Seus olhos pareciam ver toda minha alma. Sentia que ele poderia ver todos os meus segredos mais sombrios naquele momento. Parecia que ele era capaz de ver através de mim. Ele dirigiu seus olhos aos meus lábios.

"Não morra" sussurrou mais uma vez ao meu ouvido, e logo depois ele selou seus lábios aos meus. Foi rápido e casto, e eu mal consegui sentir de tão suave. Ou talvez o veneno de Nagini tivesse tirado meus sentidos. Eu não conseguia me importar, afinal ele havia me beijado. Eu não entendia, mas eu faria de tudo para ficar vivo por Harry Potter.

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2018 ⏰

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