Capítulo 6 - Me descobrindo - Parte 1

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 Bem, agora que vocês sabem o começo da minha história de estudante do ensino médio apaixonado pelo jogador de futebol de escola norte-americana cheia de clichês e passarinhos pousando nos meus ombros eu vou contar algumas coisas sobre mim, afinal, vocês só sabem que eu sou uma pessoa tendenciosa a ser alcoólatra, a ter câncer nos pulmões e que tenho alguns problemas mentais.

 Bom, eu nasci no litoral norte, mais precisamente na cidade de São Sebastião. Fui criado num bairro chamado Sertão do Cambury, perto de Maresias, pois é, imaginem ruas de barro e mato pra tudo quanto é lado. Sítios, fazendinhas, gansos, vacas e bois pelas ruas. Se hoje ainda morasse lá iria me sentir na Índia. Fui criado por três mulheres sensacionais. Minha mãe, Cristina, Minha avó, Dona Zefa e por minha tia, que mais parece irmã, Luana. Era uma vida boa, tranquila. Tinha amiguinhos por todo o bairro, brincávamos na lama, no meio dos matos, jogávamos café na porta dos velhinhos chatos, eu era meio atentado. Enfim, tive uma infância de verdade. Brincava de mãe da rua, cada macaco no seu galho, e era literalmente no "seu galho". Brincávamos nas árvores como se fossemos macacos mesmo, inclusive uma vez eu caí no meio da brincadeira e sofri uma fratura exposta, minha clavícula acabou querendo dar uma olhadinha pra ver como era o mundo fora do meu corpo. 

 Tive pessoas maravilhosas a minha volta o tempo todo. Primos, tios e minha bisa, que adorava me mimar. Vivia numa casinha simples de dois quartos, um da minha vó e outro para mim, minha mãe e minha tia. Tínhamos dois cachorros, Sandy, uma poodle que eu amava com todas as minhas forças e Pitoco, o filho dela. Pitoco era uma mistura estranha, sua mãe era Sandy, uma poodle de raça e seu pai, bem, seu pai era um pinscher minúsculo. Imaginem isso: ele saiu grande como um poodle, seus pelos eram enroladinhos mas meio lisos, puxou de seu pai, e era nervosinho como um pinscher.

 Eu nunca tive uma relação muito boa com o meu pai, mas com as minhas tias, irmãs dele, minha avó e meus primos, já era bem diferente. Eu idolatrava meus três primos mais velhos. Cecília, a mais nova, Matheus, o do meio e Léo, o mais velho. Eu adorava brincar com eles, mesmo eles sendo um puco mais velhos que eu, as brincadeiras eram incríveis. Passava o dia todo na praia com eles, e óbvio, eu era um pequeno e quase translúcido saco de pancadas, mas mesmo assim eu gostava.

 Eles me faziam bem mesmo quando o meu pai "cagava" pra mim. Não tinha pena nem dó de mim mesmo, pois mesmo com o meu pai sendo daquele jeito, eu tinha pessoas incríveis ao meu lado sempre e isso me fazia feliz. Bem, tirando essa parte, minha infância foi incrível. Ah e tirando alguns episódios com cobras, comigo tentando botar fogo na casa pela quadragésima vez, algumas brigas com Luana e brigas com os amigos, tudo até que correu muito bem viu.

 Quando eu tinha uns 5 aninhos, minha mãe foi pra São Paulo pra ver se ela melhorava de vida, ou melhor, pra ver se ela conseguia me dar uma vida melhor. Minha mãe trabalhava em dois empregos para pagar as contas e para conseguir me sustentar. Nunca tive nenhuma luxúria, coisas caras e minha vontade sobre algumas cosas não era importante. Mas tinha alguns mimos como brinquedinhos, iogurte todo dia e outras coisas que minha mãe podia pagar. Nesse tempo que minha mãe foi pra SP, ela conheceu um homem, seu nome era Túlio. Eles se conheceram e logo se apaixonaram, foi bem coisa  de filme mesmo, adoro essas conexões instantâneas entre as pessoas. Enfim, minha mãe começou a namorar com Túlio e ela ia frequentemente para o litoral para me ver. Nunca reprovei o relacionamento deles, pelo contrário, agora eu iria poder chamar alguém de pai ou pelo menos ter uma presença paterna na minha vida.

 Depois de uns três meses, eu fiz 6 aninhos e minha mãe decidiu me levar pra SP junto com ela e com Túlio, iríamos formar uma família mesmo. Adorei a notícia mas fiquei triste por deixar minha vó e minha tia, mas vovó tinha o novo namorado, eu chamava ele de Joca e naquele tempo, eles também iriam formar a família deles. Então, fui pra SP no começo do ano para entrar na primeira série do ensino fundamental. Quando nós chegamos no apartamento que iríamos morar, eu fiquei completamente encantado. Nunca havia visto lugar mais perfeito para nós. As paredes do meu quarto eram verdes, eu já tinha uma caminha me esperando e meus brinquedos vieram na viagem. Eu amei tudo aquilo, eu tinha um quarto só pra mim cara. Nossa casinha não era muito grande, mas era boa, era gostosa, era nossa. [

 Quando fiz 7 aninhos, minha mãe me deu uma notícia incrível. Por mais que eu tivesse meus amigos sempre, eu ainda era muito sozinho, e eu não gostava de ser sozinho. Sempre gostei de muita gente a minha volta. Quanto mais gente, mais bagunça, melhor. Minha mãe me disse que estava grávida de dois meses. Eu pulei de alegria. Eu sempre quis um cachorro, mas ganhei um irmão que é quase a mesma coisa. Sete meses depois, Arthur veio ao mundo. Era tão pequeno, tão lindo, tão frágil. Arthur nasceu mais branco que uma folha de papel. Era loirinho mas quase não dava pra ver pois seus sete ou oito fios de cabelo eram tão clarinhos que só dava pra ver quando passava a mão. 

 Comecei a estudar numa escola não muito longe de onde morava, adorei tudo aquilo. A movimentação, o som dos carros, dos ônibus. "Ah mas onde você morava não tinha isso?", claro que tinha né gente, eu não morava no Monte Fuji. Mas não tinha tantos carros, motos e ônibus. Eu não sabia o que era metrô até vir morar em SP. Eu me apaixonei pelo bairro, que ficava na zona leste, pelas pessoas e logo arranjei amiguinhos. Minha vida estava cada vez melhor, até eu começar a ser o capetinha da família de novo. Perdi as contas de quantas vezes apanhei da minha mãe. Eu aprontava demais. Já quase botei fogo no apartamento, irritava as senhoras do prédio jogando bombinhas em suas janelas, gritava e berrava com os outros e falava palavrão como um adulto ou até mais. 

 Era sapeca, mas inteligente. Sabia conversar como gente grande. Conversava com as pessoas do prédio, as que eu gostava claro, sobre livros que já tinha lido e filmes que já vira. Adorava ser tratado como um deles, me sentia bem, culto. Fui bem feliz. 

 Depois de terminar a quarta série, fui para uma nova escola, a escola onde meus amiguinhos do prédio onde morava estudavam. Ai eu me senti gente grande mesmo. Fui pra uma escola que tinha ensino médio também, então iria ficar lá até terminar a escola mesmo. Logo que entrei na escola já fiz novos amigos e alguns não-amigos. Não gosto da palavra "inimigo". Sempre foi muito fácil pra mim me enturmar e fazer amigos, sempre falei muito, tipo, muito mesmo, chega a irritar. Enfim, vivi a minha quinta série bem tranquilo com meus amigos e com o pessoal do fundão me chamando de viado, mal eu sabia que eles estavam certíssimos.

 Conforme os anos foram passando eu fiquei menos arteiro, por conta das surras, e fazendo mais amigos e mais não-amigos por conta da minha língua solta. Então, as "brincadeiras" foram aumentando cada vez mais. Nunca me importei com isso. Não ligava para o que eles falavam de mim, eu estava seguindo a minha vida do mesmo jeito que sempre fiz. Até entrar no ensino médio.


Hey amoressssssss! Agora começa a baixaria hahahaha, brincadeira, mas é verdade. O que estão achando? Comentem aqui! Até a próxima.

XOXO

Olhos CastanhosOnde histórias criam vida. Descubra agora