Capítulo 7 - Me descobrindo - Parte 2

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  Quando entrei no ensino médio, comecei a me descobrir sexualmente. Já havia tido algumas namoradinhas e já sabia de algumas coisas. Foi aí que muitas zoações pararam, quando comecei a namorar uma menina da minha sala. Namoramos por três meses, foi bem fofinho, namoro de criança mas com beijo de língua. Nunca me defini sexualmente, rótulo é pra roupa não pra pessoas. Sempre gostei de pessoas, nunca me importei se era homem ou mulher, me apaixonava por mais que um órgão. Quando decidi me assumir, minha tia Luana foi a primeira a saber. Eu queria que fosse minha mãe, mas primeiro contei a ela pra saber o que ela achava que minha mãe iria dizer, complicado né? Pois é. Criei coragem e contei tudo pra minha mãe. Mesmo com Luana dizendo que ela iria me aceitar sem dúvida nenhuma, eu ainda estava com receio. 

 Quando terminei de contar pra minha mãe, ela simplesmente me abraçou e começou a chorar. Ela disse que não importava se eu gostava de homem, de mulher ou dos dois, disse que eu era seu filho de qualquer forma. E que ia me amar sempre. Eu chorei como criança, mas era de felicidade, uma imensa felicidade. Agradeci tanto à Deus por ter me dado a melhor mãe do mundo. Eu sei que muitas pessoas sofrem com a resposta que os pais dão à ela sobre sua sexualidade, mas minha mãe não foi rude ou preconceituosa, ela foi a mulher mais maravilhosa desse mundo como sempre. Cara, como eu amo essa mulher. Depois de contar à ela, tive que contar para Túlio, minha avó e para a minha madrinha, que era mãe de Túlio. Mas tudo correu bem.

Quando estava no primeiro colegial, me apaixonei pela primeira vez por um menino que conhecia desde o ensino fundamental. Foi meu primeiro namoradinho, então imaginem, era aquele negócio que se eu visse hoje, iria ficar com ânsia. Mas na época era incrível, eu me sentia muito militante por namorar um menino. Queria mostrar para o mundo todo. Eu nunca tive medo do preconceito, pelo contrário, sempre o enfrentei. Já meu namorado, sempre teve um cagaço enorme de apanhar na rua ou de seus pais que não o apoiavam. Eu ficava pasmo, mas não o forçava a nada, afinal, isso tinha que partir dele.

 Guilherme foi um dos garotos que mais mexeu comigo, eu achava que nunca iria amar alguém como amava ele, e realmente não iria. Existem vários tipos de amor. Você é capaz de amar várias pessoas, cada uma de um jeito diferente, de uma forma diferente.

 Guilherme foi meu "Karma" por muito tempo. Inicialmente namoramos por três meses mas ao todo, foram quase dois anos de relacionamento, contando as idas e voltas. Guilherme era mais velho que eu e queria coisas diferentes. Eu queria acompanhá-lo em tudo, mas ele não me queria perto, então, um certo dia ele decidiu terminar tudo de vez. Eu lembro de estar em uma festa de um primo, e aquela mensagem acabou comigo a noite toda. Como iria conseguir ficar sem a pessoa que amo? E quem me ensinou, foram os meus familiares. Todos eles sentaram comigo chorando e me encorajaram a seguir em frente. Todo mundo já teve o primeiro amor e sabe como é doloroso perdê-lo.

 Depois de toda essa tristeza, esqueci Guilherme, ou melhor, não me importei mais com ele. Ou pelo menos tentei. Após isso, tive alguns namorados e namoradas, mas nada mexeu comigo como ele mexeu. É como eu disse antes, a gente ama cada pessoa que passa pela nossa vida de forma diferente. Nenhum amor é igual ao outro. Você não vai amar alguém da mesma proporção que amou a outra. 

 Eu nunca fui daquele tipo de pessoa que sofre uma desilusão amorosa e se fecha para um outro romance. Sempre segui o baile e fui feliz. Conforme fui passando de ano, fui me apaixonando mais e mais por pessoas. Tinha paixões estrondosas que não me deixavam dormir. Lembro de outro menino que amei muito, seu nome era Thiago. Conheci ele pelo Instagram, quando namorava com Guilherme ainda mas não dei bola. Depois de um tempo eu e Thiago começamos a sair e nos apaixonamos rapidamente. Na época eu trabalhava e Thiago terminou comigo pois eu não conseguia dar um tempo maior pra ele. Cara, eu estudava de manhã, trabalhava á tarde e saia de noite, depois do trabalho ia pro teatro e só depois de tudo isso voltava pra casa. Eu quase não mexia no celular e ele não gostava disso. Demos um tempo um do outro.

 No dia do meu aniversário, Thiago me chamou pra ir numa festa que a amiga dele iria fazer na casa dela, lá na zona norte. Chamei um amigo pra ir, Bryan, e ele aceitou. Nos encontramos em casa para fazer a maquiagem de caveira mexicana pois o tema da festa era halloween. Fomos pra festa e lá, foi coisa do destino pessoal, conheci a melhor amiga que alguém poderia desejar, Julia. Julia é minha melhor amiga desde aquela festa em 2015. Naquela mesma festa, Thiago me pediu em namoro e eu aceitei sem pensar. Eu amava ele e compartilhava dos mesmos ideais. Éramos um casal comunista, brincadeira. Mas sempre estávamos em manifestações contra o governo ou contra alguma coisa que não fazia sentido, como por exemplo o fechamento das escolas em SP proposto pelo governador na época.

 Enfim, namoramos por três meses também, esse sempre foi o meu record galera. Mas num belo dia de carnaval, Thiago decidiu terminar comigo pra curtir a vida. Fique arrasado, mas fazer o que né? Fui pra farra também. Estava triste, mas não estava morto, então fui pros bloquinhos de rua pra beijar loucamente. 

 Depois de terminar com Thiago, me mudei de novo para o litoral com a minha família. Adotamos uma cachorra enorme chamada Mafalda, ela já veio com esse nome. Era uma ursinha. Gorda e marrom. Parece um botijão de gás enferrujado. Ângelo, meu irmão mais novo, adorou a mudança, vivia na praia comigo e com nossos pais. Ficamos lá por um ano. Foi o ano que terminei o terceiro colegial. Agora imaginem uma coisa: Eu me mudei no final do primeiro bimestre e caí de paraquedas numa escola onde só conhecia Malu, minha amiga de quando eu era criança. 

 Eu e Malu praticamente nascemos juntos, eu nasci em outubro e ela em dezembro, desde muito pequenos fomos amigos. Éramos vizinhos e nossas famílias se amavam, logo viramos melhores amigos, e hoje temos dezoito anos de amizade, quase dezenove. Conheci pessoas maravilhosas como Monica, Lana e João, que se tornaram um dos meus melhores amigos. Fazíamos festas na casa de João que morava sozinho, éramos todos bestões. Crianças no corpo de quase adultos.  Curti muito o tempo que fiquei lá, me aproximei mais das duas partes de minha família, que em grande parte, moram no litoral.

 Quando o ano acabava. pensava na minha faculdade, o que iria fazer e onde iria fazer. Minha mãe disse que iríamos voltar pra SP e morar com a minha madrinha, Elisa. Então já comecei a me planejar para o vestibular. Iria fazer jornalismo numa faculdade bem conhecida na Mooca. Conversei com Julia sobre a faculdade e para a minha surpresa, ela também iria fazer jornalismo e na mesma faculdade. Pronto, agora sim eu estava feliz. 

 Me mudei para uma casa bem maior por conta da Mafalda que não é nada pequena nem espaçosa. Comecei a fazer minha faculdade. Me encantei e me assustei com aquele mundo de gente grande. Na faculdade eu comecei a ver um mundo que desconhecia, um mundo de desespero e mágoa. Mentira pessoal, faculdade não é ruim assim, é pior. Mas pelo menos eu tinha minha melhor amiga ali comigo.


Heyy amoressssss! Esse cap tá meio corrido, eu sei, mas se eu fosse falar tudo, o livro seria sobre a minha vida e não sobre minha história com Miguel. Mas me falem o que vocês acharam e não esqueçam de votar se gostaram tá? Ah, e aquela coisinha fofa na capa é a Mafalda, a cachorra que mais parece uma ursa Até o próximo...

 XoXo

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2018 ⏰

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