Capítulo Dois - Parte 02

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— Não. Se surgir alguma novidade, eu lhes conto.

— Acho bom. Tenho uma parcela substancial de royalties envolvidos nisso — Augusto o lembrou.

— Vou lhe dar um prazo até às 9h da manhã de segun­da-feira, depois disso vou contatar nosso advogado — disse Daniel ao se levantar. — Agora vou para casa, e espero que as crianças ainda estejam dormindo para eu poder voltar e me deitar ao lado da minha mulher.

Ele saiu e deixou Augusto para trás, pensativo.

— O que foi?

— Eu é que deveria estar lhe perguntando isto — disse Augusto.

— Não se incomode, é apenas uma ideia. É bem provável que não dê em nada.

Augusto se levantou devagar.

— Vou lhe dar um conselho — ele disse. — Fique atento. Não se deixe enganar, Poncho.

— Olhe quem fala.

— Exatamente. Acho que sou a pessoa certa para aconse­lhá-lo, e posso ver que está caindo na mesma armadilha.

— Não vou me deixar enganar.

Ele pôs a mão no ombro de Alfonso antes de falar:

— Tome cuidado, está bem? — Augusto saiu e o deixou elaborando os últimos detalhes do seu plano.

Ela disse não. Ele não esperava por isso, mas devia. Quando achou que já era suficientemente tarde, tendo em mente que seu interesse neste problema era bem diferente do deles, ele foi até o anexo e bateu na porta. Alfonso a ouviu gritar alguma coisa, depois escutou os passos dela descendo a escada até parar junto à porta.

— Quem é? — ela perguntou.

— Poncho.

— Poncho? — Ela parecia surpresa. — Alfonso? De ontem à noite?

— Isso mesmo, Anahí, posso entrar?

Depois de muito barulho de trancas e chaves, ela abriu a porta com um ar desconfiado.

— O que você quer?

— Tenho uma proposta para lhe fazer — ele começou a lhe falar.

Ela já ia fechar a porta, mas ele colocou o pé no caminho.

— Não é esse tipo de proposta — ele disse, sentindo-se cansado. Mas seria uma explicação, já que esta mulher e seus pro­blemas o fizeram ficar acordado a maior parte da noite. Ele empurrou a porta lentamente e entrou. — Não se preocupe Anahí, está segura comigo. Só quero conversar com você. Posso entrar?

— Achei que já tinha entrado — ela resmungou e olhou para o embrulho de papel pardo que ele tinha em mãos. — O que é isso?

— Café da manhã, café com croissants.

Ela praticamente arrancou o saco da mão dele e enfiou o nariz para sentir o cheiro. Ela gemeu baixinho e sorriu para ele.

— Entre, mas olhe onde pisa — ela disse radiante e subin­do a escada, passando por uma parede descascada e um pe­daço de papel de parede caindo. O buraco que havia no te­lhado denunciava o que tinha ocorrido durante a noite. Nossa, poderia piorar ainda mais?

Pelo menos o quarto dela estava seco. Ela se sentou, do­brou as pernas e encostou as costas na parede. Com o saco na sua frente ela foi tirando as duas embalagens de café que ele comprara no caminho e deu uma para ele, depois ela rasgou o saco de croissants e se deliciou.

Nossa! Ela parecia estar faminta. Neste momento Anahí olhou para ele, parou da mastigar, limpou a boca nas costas da mão e endireitou-se, apontando para o saco.

— Desculpe-me. Nunca tive boas maneiras quando estava com fome. Você quer?

— Não, obrigado, eu já comi. – ele disse. Horas atrás, quando Alfonso tirou seus amigos da cama para lhes contar as novidades. — Por que não conversamos enquanto você come? — ele sugeriu, sentando-se no colchão e se encostando-se na pare­de também.

— Pode falar — ela disse enquanto comia o segundo croissant.

— Bem, eu queria lhe oferecer um emprego — ele disse. — Como minha empregada.

Ela tossiu, engoliu e o encarou.

— Empregada, eu?

— Você precisa de um lugar para morar, e eu preciso de alguém que cuide da minha casa, que faça jantar e organize as coisas, e se você podia administrar este hotel, facilmente dará conta da minha casa.

— Não posso — ela disse. — Não posso sair daqui. Se os construtores souberem que não estou mais aqui, eles derru­barão tudo, e eu perderei a minha casa. Tenho medo até de sair para buscar comida, temo que troquem a fechadura. E se eu sair daqui, deixo de ser um problema para eles, e se não for mais um problema não terei como forçá-los a ficar do meu lado na briga contra Rafael.

Alfonso queria lhe dizer que ele era um dos construtores e que estava do lado dela, mas depois pensou melhor. Ainda não era hora.

— E se eu lhe disser que vou ajudá-la a brigar pelos seus direitos?

— E por que faria isso? Sem menosprezar sua oferta, mas eu já viajei o mundo todo, conheci muita gente. Conheço bem o ser humano, Alfonso, e a maioria não presta. Por isso me perdoe se não me jogo nos seus braços e deixo que me leve no seu cavalo branco.

— Estou lhe oferecendo um emprego — ele ressaltou, imaginando o que sentiria se ela caísse em seus braços e se deixasse levar, não no seu cavalo branco, mas no seu BMW branco.

— Claro. Sem compromisso.

— Bem, não. Existem compromissos. Quero que mante­nha a casa limpa e arrumada, que faça para mim algo mais saudável do que comida de restaurante e que cuide da minha roupa. Eu vou lhe pagar um salário e, em troca, terá uma casa para morar com a criança, sem risco de o reboco cair. As luzes se acenderão quando precisar, e não irá dormir com fome, nem acordar durante a noite sem perspectiva de comida.

Ele parou da falar ao ver que ela estava quase chorando.

— E por quê? — ela quis saber.

Boa pergunta. Não podia ser sincero. Ela não precisava saber que ele estava envolvido no projeto do hotel e certa­mente não precisava saber que ele passara a noite toda pen­sando nela.

— É a lei da oferta e da procura. — Ele resolveu se ater ao aspecto profissional. — Por que não vem conhecer a casa antes de me responder?

— Vou querer referências — ela disse, sem saber se podia acreditar que fosse verdade, e ele riu.

— Eu não duvido disso. Posso, retribuir o favor.

— George está morto. Ele poderia lhe dizer o que quer sa­ber. Não existe mais ninguém, mas eu não minto, não engano e trabalho bastante. Que tal um período de experiência? Di­gamos de um mês? Assim teremos tempo para ver se pode­mos conviver.

— Mas nem viu a casa ainda.

— Você já me disse que tem luz e um telhado sem gotei­ras. O que mais eu preciso saber?

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora