Capítulo Único - HOT

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A música terminou e meus pés reclamaram por estarem em movimento há tanto tempo. Meu último copo de champanhe deveria ter sido o segundo, antes da primeira música começar, e eu perder a conta de quanto senso moral tinha. Agora não sabia nem onde estavam meus sapatos, nem o quanto eu fiquei me exibindo na pista de dança junto com a noiva. Resolvi ir para um canto qualquer para me encostar e recuperar a memória, andei cambaleando até o balcão onde serviam as bebidas e me apoiei nele. Poucas pessoas ainda estavam na festa, os garçons já tinham ido embora, e só membros da família e padrinhos faziam companhia aos anfitriões.

De súbito me lembrei de que era uma das madrinhas, e que naturalmente tinha um acompanhante, e que ele tinha sumido. Dançava comigo há um tempo, mas agora sumira, me deixando descalça e sem como ir embora. Sentei-me no banco adaptado no balcão e tentei ajustar o vestido novamente ao meu corpo, ele era azul naval e apertado demais na cintura, mas se abria mais no quadril formando pregas lindas no pano sofisticado. Ele tinha uma abertura nas costas em formato de um coração arredondado, e na frente o detalhe que contornava os seios, os deixando empinados os suficientes para parecer que existia mais do que na verdade tem.

Suspirei e joguei os cachos desfeitos para o lado esquerdo do meu rosto enquanto olhava para o salão, e então pude enxergar Jeon a certa distância de mim, conversando com os noivos enquanto segurava sandálias pratas na mão. Seus olhos às vezes desviavam dos receptores e vagueavam em mim. Era desconfortável, principalmente por saber o motivo de tanto incomodo em mim, mas eu sempre fui alguém ridiculamente orgulhosa, e ele também não podia ceder ao charme de ser um teimoso.


Finalmente ele seguiu em minha direção, a blusa branca meio transparente balançando pra fora da calça, o terno nos ombros, a gravata frouxa demais e o maldito sorriso, aquele debochado e inteligente, que falava sem precisar de vocábulos. Seus cabelos lisos tinham perdido todo aquele penteado pomposo e agora balançavam livremente pela testa me causando um sentido estranho no ventre.

- Por que me deixou? - Questionei sem vergonha de ser pega carente.

Ele sorriu mostrando os dentes e tirou os cabelos da testa os jogando para trás. Parecia satisfeito em saber que eu me importava onde ele estava. Cretino!

- Os garotos já estavam me olhando inquisitivos. Você mesmo disse que isso ia acabar causando discórdia então resolvi ser solteiro, assim como você.

Eu costumo ser bem sincera quando estou sob efeito do álcool, e aposto que minha expressão era de nojo e raiva. Agora o porquê não me pergunte.

- Também era melhor para te observar de onde eu estava! – Continuou, piscando um olho como se isso bastasse para me fazer sentir melhor.

Será que ele não ia entender que sua existência era especialmente feita para me deixar louca com todos os tipos de sentimentos ruins, bons e proibidos?

- Tanto faz! - Disse com tédio. - Me dá os sapatos.

Ergui as mãos para pega-los, mas ele os afastou alegando que eu estava bêbada demais para me equilibrar em um palito de 12 cm.
Nem era tão alto!

- Me dá Jeon, agora! - Disse a ponto de ver meu cérebro entrar em processo de ebulição.

Jeon continuou zombeteiro, e para me provar que eu era uma idiota ele retirou a minha pequena Chanel de dentro de um dos bolsos internos do seu terno. Engraçadinho, provocador, lindo, e odiava perder uma luta. Bem, obrigada por me lembrar de que só não esqueço meu cérebro porque ele está preso dentro do meu crânio.

- É melhor darmos o fora daqui. – Disse se aproximando com a voz grave. – Eles acabaram de se casar e acho que você vai concordar comigo que, quando se quer uma coisa, ter empecilhos e interrupções é pior do que o diabo querer te levar para o inferno.

Eu não posso te perderOnde histórias criam vida. Descubra agora