Nova Era - Sedenta De Sangue

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Todas as linhagens vampíricas tem um progenitor, um ancião que foi o primeiro de sua raça. Em Naestria, existem somente três linhagens e portanto, deveriam haver três anciões, mas isto não é o que acontece. Somente a anciã dos Edel, Eleanor Von Edelstein, está viva e ativa ainda hoje enquanto o ancião dos Masakh nunca se revelou, mas segundo suas crias mais antigas ou dignas de saber os mais antigos segredos masakhianos, ele permanece vivo e os ordenando, protegido sob as sombras mais escuras e mais antigas de Naestria. Tudo que se sabe pelo que eles contam é que o ancião é um homem sábio tão antigo quanto a civilização, amaldiçoado com sua aparência horrível assim como suas crias e dotado de grandes poderes.

Mas o ancião ou anciã dos Dýrið já se foi a milênios e seu nome já se perdeu no tempo antes mesmo de seu povo ser escravizado pelo Senhor da Guerra e Rei Demônio, Kein Kahandim. Seu coração fora destruído pela espada sagrada de um valente guerreiro, mas não antes de amaldiçoar a arma e seu portador.

O guerreiro amaldiçoado retornou à sua terra natal vitorioso e sem saber sobre a maldição, mas ao longo de várias noites ele teve pesadelos vendo os rostos assustados de pessoas que no dia seguinte estavam desaparecidas ou eram encontradas esquartejadas. Alguns logo suspeitaram do guerreiro, inclusive ele mesmo pensou ter se tornado um lobisomem, mas outros acreditavam que os vampiros queriam vingança.

O guerreiro se juntou às tropas de investigação, mas nada encontraram e as mortes continuaram sempre que voltavam para a vila. Uma certa noite eles foram mais longe e dormiram em um acampamento, então o guerreiro amaldiçoado se levantou e pegou sua espada. A lâmina de prata abençoada, forjada com o fogo eterno de uma pira sagrada agora emanava uma aura caótica, selvagem e sedenta de sangue assim como os olhos do guerreiro.

Naquela noite, somente um dos guardas sobreviveu vendo seus companheiros sendo atacados pelo herói do povo enquanto dormiam. Eles não tiveram chance de reagir, o herói era forte e sua espada era poderosa, mas a maldição fez ele trair todos os votos que o mantinham puro.

"Dýrið..." - disse o homem assustado com tamanha selvageria no ataque do traidor. Esta palavra significa besta e coincidência ou não se tornou o nome da linhagem de vampiros que abandonaram seus velhos costumes nobres e esnobes para se tornar fortes e brutais quando foram aprisionados e escravizados pelo rei demônio.

Ironicamente, após mais noites de terror, o guerreiro foi morto por uma dhampira caçadora da mesma linhagem que soube sobre os casos de desaparecimentos e esquartejamentos noturnos. Este recolheu sua espada e sentiu a maldição vampírica que emanava dela, então clamou pelo seu novo verdadeiro nome: Blóðþrýsting!
Blóðþrýsting, que significa Sedenta de Sangue, já era uma arma viva antes da maldição, mas agora ela dá um enorme poder ao portador em troca de uma incessante busca por matar e saciar a sede da espada. A espada também compartilha seu poder vampírico com o portador, regenerando sua força vital conforme corta seus alvos.

Mas o uso constante da Sedenta de Sangue pode levar o portador a loucura, corrompendo sua mente com doces sussurros que caso não atendidos se tornaram berros incessantes até que a espada se alimente novamente ou um novo portador tome a espada. A maldição não permite que o portador entregue ou venda a arma, somente uma pessoa amada ou um herdeiro de sangue pode receber a espada, mas assim que passada a espada indus o novo portador a matar seu dono anterior.

Quando a dhampira matou o guerreiro, ela recebeu esta maldição e por consequência, se tornou o que lutou para destruir. Ela usou a espada contra muitos inimigos da humanidade, mas logo se tornou um deles e foi morta nas mãos de outro herói, um ronin draconiano.

O samurai sem mestre notou que a espada possuía o mesmo poder que sua katana, uma lâmina viva que se alimenta de sangue e cresce em poder junto com seu dono. Ele levou a esta espada para o leste com intenção de vender para um senhor feudal ou outro samurai sem conhecer o fato de que a maldição aprisiona a espada ao seu portador. Quando tentou vender, ele foi tomado por um sentimento egoísta e recuou se negando a vender a espada, dizendo que foi um erro e inventando mentiras de que era um tesouro de família.

O ronin fugiu abraçado com a espada e em seus sonhos ele viu uma mulher pálida com cabelos negros de sua própria raça coberta em sangue como se tivesse se banhando em uma cachoeira rubra. Motivado por este desejo insano, o draconiano acordou e seguiu vagando pela noite em direção a um templo.

Enquanto as sacerdotisas faziam seu ritual de purificação se banhando sobre a água corrente da cachoeira e a luz da lua, o draconiano escalou a montanha e invadiu o templo. Lá ele assassinou os monges desavisados e deixou o sangue deles correr sobre os rios, maculando o ritual das sacerdotisas e as donzelas assustadas gritaram ao ver a água se tornando sangue e escorrendo sobre suas cabeças e ombros. O drako insano se jogou do penhasco com a espada em mãos e abriu suas asas, sob a luz da lua e o brilho de sua espada ensanguentada, ele fez um juramento: que todo sangue ali derramado seria amaldiçoado como ele e aqueles que beberem do sangue derramado neste rio seriam se levantariam como suas crias.

Assim foi com os monges mortos, assim foi com as donzelas que ingeriram o sangue e água enquanto gritavam em terror. Neste dia nasceu o clã Odo Omi, que ao recomeço de cada ciclo* refazem o ritual sombrio banhando suas sacerdotisas o sangue de vítimas recolhidas na última noite de lua nova do ciclo, mas a espada se cansou disso e em uma certa noite de ritual ela atraiu um grupo de aventureiros para matar seu atual portador e conseguir um melhor.

A espada vampira propositadamente fez o drako perder a luta e o anão bárbaro das montanhas do norte cravou o seu machado no ombro do ronin louco e rasgou seu corpo ao meio com sua força titânica. Os vampiros do clã Odo Omi se dispersaram e fugiram, mas não se foram para sempre.

Os aventureiros dividiram justamente os espólios, mas só havia uma espada mágica e todos queriam ela. O elfo druida disse que deviam destruí-la, mas na realidade queria esconder e ficar só para ele. A goblin ladina tentou pegar a espada sem ninguém ver e levou um tapa na mão, a humana clériga a olhou com repreensão, mas olhou a espada com desejo e por fim o anão bárbaro pegou a espada e um único ataque giratório decepou todos seus antigos companheiros. Ele percebeu o que fez depois que já estava coberto de sangue e tentou largar a espada, mas sua mão não se abriu para soltar o cabo da arma. Em um grito de fúria e dor ele golpeou a espada contra seu próprio peito tentando se matar para se redimir e se unir aos seus antigos companheiros, porém a espada amaldiçoada o impediu parando a centímetros de sua carne dura por mais que ele botasse força no cabo para empurrar a espada.

O anão berrou, então chorou e então riu. Riu loucamente como se tivesse se convencido de que era tudo um sonho, mesmo sabendo que não era. Ele ouviu o sussurro em sua mente dizendo que era tudo real, mas que ele não precisava deles porque agora ele tinha a espada.

Ele deixou para trás seu machado e os corpos de seus companheiros, então seguiu pelo deserto que divide as terras humanas do oeste e do leste, todas as noites ele admirava a lâmina fria e prateada, impecável mesmo após tantos anos derramando sangue de todo tipo, cortando através de ossos e metal sem quebrar ou arranhar.
Nas palavras de um anão: "uma arma digna de um anão."

O bárbaro ficou impressionado com a arma e buscou pela sua origem, mas sendo ambicioso como qualquer anão e agora também corrompido pela maldição da espada, ele juntou tropas e invadiu a cidade humana onde a espada foi forjada em busca da pira sagrada para forjar outra arma como essa. Mas a espada sabia que se outra arma fosse forjada na pira sagrada e feita por anões, seria mais poderosa do que ela mesma então os sussurros se tornaram gritos para que anão matasse todos e destruísse a pira sagrada, o anão atormentado tentou resistir, porém mais uma vez ele traiu seus amigos e família para obedecer a espada. No momento que seria sua glória teve seu crânio trespassado pela lança de uma valquíria, a guardiã da pira sagrada.

Ela levou a chama eterna de volta para os céus e selou a espada em um altar de pedra sagrada, escondida aonde nenhum mortal ou desmorto ousaria chegar, protegida por ser quase impossível de se encontrar e entrar no local.
Mas "quase" não é impossível.

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Editado por Th.L

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