Único

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— Está bem, já pode me dizer o que está acontecendo. – Encarava minha filha, ainda que o que via não se parecesse nem um pouco com ela.

Chouchou já não tinha o mesmo brilho no olhar, o corpo estava completamente diferente, sua personalidade então...

Arrisco dizer que nem ela mesma estava gostando daquilo.

Eu tentava encontrar situações e hipóteses para tudo que se passava em sua cabeça, buscava maneiras de responder todas suas dúvidas, sentimentos e medos; se pudesse, definitivamente transferiria tudo para mim.

No entanto, sabia que as coisas não funcionavam daquela forma.

Ela estava crescendo, todas aquelas reações eram comuns à sua idade, desde o primeiro amor até os tabus com o próprio corpo. Sempre tentei encontrar maneiras para que essa dor fosse amenizada, porém, sinto que falhei.

Me sentei ao seu lado, aguardando uma resposta que não veio.

— É por causa daquele garoto, não é? – Perguntei, e apenas recebi um olhar triste. – Sinto muito, filha. – Eu a abracei, como se ela ainda fosse a mesma garotinha que cabia em meus braços.

— Por que não consigo ser para sempre daquela forma, mãe? – Seu questionamento me entristeceu, porque eu sabia que ela falou a respeito do próprio corpo.

Sim, ainda que tivesse certeza que uma hora ou outra isso iria acontecer, não deixava de ser difícil e preocupante.

— Você sempre foi muito segura de si filha, o que aconteceu? – Sabia que não teria resposta, então prossegui. – Você é linda, ChouChou.

— Você é minha mãe, claro que me acha linda, mas ele...- Se interrompeu, e tive vontade de bater naquele moleque por causa disso.

— Não é ele que tem que achar alguma coisa, e sim, você. - Me olhou espantada, prosseguindo em silêncio.

— Eu sou gorda, mãe... - Olhou para o próprio corpo. – E sendo assim, magra, chamo mais a atenção e...

— Ser gorda não é problema, aliás, gorda não é um xingamento ou ofensa. Também não é algo depreciativo, querida. – Seu olhar abaixou, e eu me penalizei por ser tão dura. – Você não precisa chamar a atenção de ninguém além de si mesma, meu amor. – Amenizei meu tom, na esperança de que compreendesse minhas palavras. – Eu sei que deve doer não ser como os outros, se olhar no espelho e não se encaixar em um padrão...mas filha, não tem nada de errado com seu corpo. Você é linda, segura de si, vai se tornar uma kunoichi muito poderosa...não é um garoto que deve fazer você se sentir inferior.

— Ele não é qualquer garoto, mamãe, ele é...o homem da minha vida! – Acabei rindo do exagero, porém, fiquei aliviada por ver que ela estava voltando ao normal.

— Se você precisa mudar por causa dele, então, definitivamente, esse garoto não te merece. – Respondi, e recebi um olhar espantado em seguida. – O homem da sua vida irá te amar do jeito que você é.

A expressão dela passou a melhorar e, aos poucos, fui me tranquilizando.

— Obrigado, mamãe. – Vi uma pequena lágrima escorrendo por seu rosto, a limpei com meu dedo.

— Mas saiba, minha filha, que antes de qualquer amor de terceiros, deve existir o próprio. – Continuei. – Não há problemas em se aceitar, se gostar como é. Você é perfeita com seus centímetros a mais, em cada parte do seu corpo e personalidade. Nunca deixe que ninguém te diga ao contrário.

Recebi um sorriso e um abraço em troca, aos poucos, vi a minha ChouChou voltando ao normal como deveria ser. Eu sabia que o mundo era cruel, que as pessoas são maldosas e provavelmente ela iria sofrer por xingamentos, opiniões que ninguém pediu e, principalmente, olhares julgadores.

Talvez, eu vou ter que repetir minhas falas várias vezes, fazê-la perceber do poder que tem no próprio corpo e, principalmente, em sua alma. Não posso defende-la para sempre, só posso tentar todos os dias lembra-la do quanto é perfeita até que ela compreenda isso sozinha. 

LindaOnde histórias criam vida. Descubra agora