Capítulo II: A nuvem branca

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Jennifer

Desde o último dia de julho, após a morte da minha melhor amiga Natasha, cada instante da minha vida se transformou em pesadelos intermináveis, dos quais eu não podia acordar e, muito menos, escapar. A dor da perda era constante, e a imagem de Natasha sorrindo, cheia de vida, assombrava minhas noites e atormentava meus dias.

Sacudi a cabeça, tentando me livrar brevemente dos meus piores pensamentos. Observei o céu entardecido, acompanhado de uma pequena nuvem branca que se aproximava lentamente em direção a uma terrível tempestade.

— Natasha... — murmurei. Um vento frio balançou suavemente meus cabelos, e me envolvi em meus próprios braços em uma tentativa inútil de me aquecer. — E minha mãe ainda me avisou sobre o casaco.

Não há pessoa neste mundo que não tenha quebrado a cara graças às benditas palavras pronunciadas por sua mãe. Me lembro do sol radiante que acariciava minha pele nesta manhã, dos passarinhos que cantarolavam no jardim e do céu azul que reinava sem a presença de nuvens. Tudo conspirava ao meu favor, até que ela disse: "Leva o casaco, filha, vai fazer frio hoje." Aquela voz calma que sabia perfeitamente que todas as leis do universo conspirariam a seu favor ao sentir qualquer gota sequer de desobediência. — Ah, quanta inocência.

E aqui estou eu, com frio, com fome, esperando um garoto que não dá bola para mim. Retirei meu telefone do bolso e reli minhas últimas mensagens com Dyllan.

— Ele não vem... — respirei fundo, me encolhendo.

Ao lado do portão, me ajoelhei para ver a pequena placa de metal coberta de ferrugem. Ouvi o som do portão rangendo, e sem nem mesmo perceber, sorri quando vi seus olhos se entrelaçando aos meus.

— Oi — sorriu Dyllan, com apenas um canto da boca. — Desculpa a demora, encontrei Chris e Cloe no meio do caminho e, você sabe, começou um longo interrogatório.

— Tudo bem — sorri, me encolhendo em meus braços.

— Hey, você tá congelando. — Dyllan retirou seu casaco, me cobrindo com bastante cuidado. — Melhorou?

— Só um pouquinho — sorri. — Vem cá, me abraça, senão você que também vai morrer de frio.

Dyllan me abraçou com força.

— Sentiu tanta saudade assim? — perguntei, aproveitando o calor do seu corpo.

— Não estraga o clima — disse Dyllan.

Por alguma razão, Dyllan sempre foi o único, além da Natasha, a me fazer sorrir tão sinceramente. E mesmo diante de todo esse horror, nada mudou. A não ser as pequenas brigas provocadas pelos ciúmes dos dois.

Sorri olhando para o nada.

— Hey, picolé, dá um sorrisinho pra câmera.

— Quê? Não... eu não tô pronta — sorri, tentando tampar a lente da câmera. — Estou com frio, tremendo e parecendo um zumbi.

— Você não tá fantasiada? Nossa... — sorriu.

— Idiota. — O empurrei com os ombros, e ele retribuiu.

— Mas falando sério agora. Você está linda.

— Não tô. — Fiz bico. — Mas... o que você vai fazer com isso? Meu clipe de aniversário?

— Não, tá mais para minha vingança maligna — Dyllan olhou para cima, dando um sorriso malicioso. — Lembra do meu aniversário, quando você postou um monte de fotos zuadas minhas? E ainda iniciou uma guerra de bolo?

— Como vou esquecer? Sua mãe nos colocou para limpar tudo — sorri.

— Nos? Você ficou conversando com a Natasha, enquanto Warren, Chris e eu ficamos com o trabalho pesado — gargalhei. — Ainda me lembro de todo aquele glacê...

Em cima de um galho enorme que lembrava as tenebrosas mãos de um monstro maligno, uma coruja chilreou para mim, alertando-me da escuridão que antes eu não havia percebido.

Perto das centenas de janelas da casa, um vulto negro me encarou. Me assustei ao notar que Dyllan não havia percebido. Agarrei seu braço com força, deixando-o totalmente sem jeito.

— Dyllan, tem alguém nos observando.

Ele se virou rapidamente, seguindo meu olhar. — Onde? — perguntou, sua voz firme, mas seus olhos refletindo a mesma apreensão que eu sentia.

— Ali, na janela. — Apontei, a mão tremendo. — Vi um vulto, parecia estar nos observando.

Dyllan estreitou os olhos, tentando focar na escuridão além da janela. — Não vejo nada agora, mas vamos ficar de olho. — Ele colocou o braço ao redor dos meus ombros, me puxando para mais perto. — Se cuida, tá? Vamos entrar antes que piore esse tempo e a gente acabe se molhando.

Assenti, ainda sentindo o coração acelerado. Juntos, começamos a caminhar em direção ao chalé, deixando para trás a escuridão crescente e as lembranças dolorosas que nos assombravam.

O Último PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora