12;; a proposta ;;12

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mth; eu já não impedia meus sentimentos de escaparem
porque sabia que nada mudaria
   

O cachorro a guiava pelas ruas movimentadas da cidade enquanto ela ansiava por escapar daquela multidão barulhenta que os entornavam. A camiseta extra grande que cobria seu tronco e o shorts, começou a deixá-la desconfortável depois que alguns homens assobiaram para ela e soltaram risadinhas entre os comentários sobre seu corpo— quando será que eles aprenderiam que nem todo elogio é bem vindo, e que nem todos os adjetivos que, tecnicamente, elogiam são bons? Jiwoo se sentia envergonhada por se sentir desconfortável no próprio corpo.

Ela tinha noção de todas as pessoas que transitavam pra lá e pra cá, algumas andando com pressa outras nem tanto, ela sabia que algumas delas estavam acompanhadas, talvez falassem no telefone. Mas ela nunca saberia como era a aparência delas, não saberia dizer como era o carro que passou de seu lado com o motor rugindo, nem a cor da moto que fazia barulho ao rasgar o ar. E de repente tudo aquilo pareceu a atingir com uma força inexplicável, afinal, ela pensava que já havia aceitado que aquela era a sua realidade e nunca poderia mudá-la; eles olhos marejaram, e um bolo de ar pareceu agarrar-se à sua garganta, ela apressou o passo, torcendo para chegar logo na academia.

Tropeçando mas rachaduras, batendo nos ombros das pessoas, embolando cada vez mais a coleira do cachorro, ela chegou até a porta da academia. Tentou se recompor respirando profundamente antes de abrir a porta e adentrar o recinto, quando o fez, Kimi a cumprimentou e perguntou se ela não queria ajuda pra chegar na sala. Jiwoo negou com a cabeça antes de continuar.

Ela havia decorado o caminho– dez passos pelo corredor, virar à direita e depois mais 5 passos– nas primeiras semanas lá. Chegou sem problemas. Sentou-se no chão, com as costas encostadas na parede de começou a acariciar as costas felpudas de Spooky, levando a mão pra baixo e pra cima, como num mantra repetia em sua cabeça que deveria se acalmar.

—Jiwoo?— Já era a segunda vez que Matthew a chamava, ela não tinha escutado quando ele a deu bom dia, nem quando chamou sua atenção, perguntando se já podiam começar. Se ajoelhando ao lado da mais nova, tornou a perguntar:—Tudo bem?

—Ahn? Ah, sim, mais ou menos.— Balançou a cabeça, tentando voltar a órbita.— Só vamos dançar, por favor.

Ambos se levantaram, enquanto Jiwoo se alongava, Matthew ligava a caixa de som e conectava na sua playlist para que começassem com alguma coisa aleatória, a garota lhe parecia abalada então ele deixou com que ela se divertisse dançando músicas famosas com as coreografias chicletes que ela já conhecia para se animar um pouco.

Conforme os refrões passavam e aos poucos ela ia ficando mais animada, ela começavam a entrar na própria bolha, sem perceber as poucas pessoas que paravam para ver ambos se divertindo um pouco. Dançaram os clássicos de Girls Generation, AOA, Super Junior e SHINee antes de partirem para a música que estavam coreografando.

Matthew colocou Gold para tocar e assistiu a garota começar a dança enquanto ele numerava as passadas e falava os passos que viriam a seguir. Ele assistiu a garota atingir  as batidas com maestria, como se a música estivesse correndo pelo seu corpo, a camiseta lhe proporcionava a mobilidade que precisava e ainda assim deixava com que todos os movimentos que fazia fosse notados com facilidade. Ela terminou a música com calma, mesmo que o peitos subisse e descesse com rapidez. O Kim a aplaudiu e como resposta, ela se curvou, agradecendo.

—Foi bom?— ela perguntou, sentando-se e tomando da garrafa de água. Parte do canela havia se despendido do rabo de cavalo e agora caia sobre a face corada pelo esforço.

—Odeio admitir, mas foi.

Quando a Finesse substitui a outra música, ambos se juntaram em frente ao espelho e continuaram a praticar a coreografia que haviam criado. Era algo mais divertido, só para soltarem o corpo e relaxarem, queriam que combinasse com a vibe da canção, e mesmo assim pareceu impressionar o grupo de pessoas que já havia se amontoado do lado de fora da sala.

A porta de vidro davam a visão do cômodo e tudo o que acontecia dentro dele. Os jovens esticavam o pescoço par ave melhor e soltavam exclamações sempre que algo mais marcante acontecia; sentada em uma cadeira estava uma dançarina profissional procurando por competidores.

A chegada da mulher não foi avisada a ninguém na academia, e até o momento ninguém parecia ter notado-a ou se notou, não percebeu o que sua presença significava. Os curtos cabelos castanhos escavam presos em um rabo de cavalo apertado que passava pela abertura na parte de trás do boné branco, no torço havia um cropped igualmente branco combinando com as calças largas vermelhas. Ela estava gostando do que via, não achava a coreógrafa tão impressionante mas havia química entre aquela dupla—ao mesmo tempo que o rapaz parecia guiar a garota, ela agia como se ditasse o tempo da música e estivesse fazendo-o se mover.

Quando a música acabou, os outros dançarinos ovacionaram  a dupla. Matthew se curvou em agradecimento e Jiwoo ficou estática no mesmo lugar, confusa com as palmas, até que o outro disse para ela agradecer  também, ela se curvou pausadamente.

Depois que os alunos se dissiparam, a profissional continuou na porta observando-os. Ela observou a garota tatear o chão, e depois de um tempo agarrar a garrafa de água já pela metade; viu ambos discutirem sobre coisas que haviam feito errado e sobre o que poderiam melhorar. Matthew sorria o tempo todo e nem tentava conter-se, não impedia o sorriso tomar conta de seus lábios, não desviava o olhar do rosto sério e felino, ele não parecia se importar. E quanto ambos se calaram, ele continuou a falar com ela pelo olhar— saboreando a doçura das expressões.

Ela bateu na porta antes de entrar e logo começou a falar: —Olá, sou Kang Seulgi, e estou procurando por novos talentos.— ao ouvir o nome, Jiwoo quase se engasgou com a água e por muito pouco não a cuspiu longe. Seulgi era, simplesmente, uma de suas artistas favoritas.

—Um concurso de dança irá acontecer no meu estúdio e cada um dos professores tem que escolher pelo menos duas pessoas de fora para participar... Eu estive observando vários dançarinos daqui, mas a química que eu queria eu só achei em vocês. O que me dizem? Querem participar?— ela estava ansiosa pela resposta, ávida em saber se finalmente teria achado a dupla que tanto queria, no entanto, eles não pareciam sentir a ansiedade pairando no ar.

Matthew sabia que Jiwoo se perguntava se aquilo realmente daria certo; se Seulgi já tinha notado que a mais nova era cega; se eles realmente conseguiriam ser tão bons quanto ela parecia achar que eram.

Mas mesmo assim, depois de se lembrar da forma que seus corpos se moviam juntos, como se fossem um só, de acordo com a música e de reviver a sensação que sentiu ao ver o quão bonita era aquela imagem, ele não teve dúvidas de que amaria participar.

—Nós amaríamos, mas precisamos pensar. Você pode deixar seu número ou qualquer outro jeito de falarmos com você com a secretária?

—Claro, mas eu preciso de uma resposta rápida.— ela assentiu e saiu da sala lhes desejando uma boa tarde, feliz com. os resultados da procura.

Matthew continuou observando a garota pensar, ela quase poderia ouvir as engrenagens trabalhando dentro de sua cabeça e sentir conforme uma resposta ia se materializando e tentando escapar da boca de Jiwoo. Depois do que pareceram milênios, ela lhe disse o que lê queria ouvir:

—Acho que deveríamos fazer isso.

blind dancer [bwoo/taeso]Onde histórias criam vida. Descubra agora