Primeira parte - O garoto de cabelos brancos

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O sol estava alto naquele dia, sua luz iluminava tudo, dando vida e mostrando os pequenos detalhes que me cercavam. Eu estava a caminho de casa, caminhava devagar, apreciando os pássaros, as borboletas, deixando o ar fresco bater em meu rosto e aproveitando a luz do sol, que de certa forma, me fazia sentir bem.

Eu estava quase chegando perto da curva que dava entrada ao residencial onde eu morava, quando ouvi um barulho na mata perto de mim. Curiosa, fui andando devagar, com medo de ser algum pobre animalzinho, pois não queria assustá-lo.

Chegando perto de uma pequena moita, reparei que havia alguém caído ali. Meu coração acelerou um pouquinho, fiquei com medo, mas não pude deixar de ver quem era e ajudar.

Quando tirei a folhagem da frente, percebi que era um garoto. "Meu Deus! O que será que ele está fazendo ali naquele estado?" Pensei comigo em quanto me abaixava para tirar seus incríveis cabelos brancos da frente de seu rosto.

Ele estava muito branco, havia também um corte abaixo de seu olho direito, que sangrava, além de um filete de sangue que escorria de sua boca.

- Ai não! Você esta bem? – Perguntei sacudindo de leve sua cabeça.

Ele então gemeu baixinho e só então pude perceber alguns pontinhos brancos que voavam ao seu redor.

Sabem, às vezes via isso em algumas pessoas, eu não sei o que isso significa, acho que na verdade, são seres mágicos, não tenho certeza, mas sei que um dia eu vou descobrir.

Olhei para todos os lados para ver se havia alguém por perto, mas ninguém se fez presente, chamei por socorro, mas minha voz parecia não chegar aos ouvidos de alguma ajuda.

- Ai... – Gemeu o garoto piscando os olhos devagar, e tentando olhar para mim.

Percebi que seus olhos eram lindos, brancos como um brilho de cristal, com algumas cores destacando-se, quase como quando você coloca um cristal na luz e consegue ver um arco-íris.

- Que bom que você acordou! – Exclamei aliviada.

O rapaz pareceu assustado e tentou se levantar e se afastar de mim. Caí para trás, sentada, pois estava agachada ao seu lado, segurando sua cabeça. Ele por sua vez pareceu estar tonto, mas rastejou até uma árvore próxima e encostou-se nela.

Revirei minha mochila em busca de uma garrafa de água. Graças á Deus aquele dia não estava tão quente e minha garrafa ainda estava cheia.

- Tome. Você deve estar precisando mais do que eu.

Ele hesitou um pouco, olhando para os lados e depois para mim. Ele me olhou profundamente, fiquei um pouco envergonhada, confesso, mas isso não foi empecilho para que eu mantivesse a garrafa levantada em sua direção.

- Pode pegar. É apenas água. – Exclamei balançando a garrafa para que ele visse o líquido se movendo.

- Água? – Exclamou ele pegando a garrafa rapidamente e bebendo tudo com a mesma rapidez.

- Você está bem? O que aconteceu com você? Foi algum animal, alguém bateu em você?

- Ele apenas continuou olhando desconfiado ao redor e terminou de beber a água.

Ficamos em silêncio por um momento. Ele tremia, mas tirou algum tipo de celular do bolso e estremeceu ao mexer um dos braços. Olhando atentamente, pude ver que seu cotovelo esquerdo estava com um feio machucado.

- Espere mais um segundo. – Exclamei. – Não se mova.

- Por quê?

- Apenas não se mova!

Tirei da minha mochila um lenço e amarrei em seu ferimento. Ele agradeceu num tom baixo de voz e relaxou.

- Olhe, eu moro um pouco mais ali na frente, se quiser, eu te ajudo a caminhar até lá, ou posso chamar alguém para...

- Não! – Exclamou ele assustado.

- Não? Você não quer ajuda?

- Não, não é isso... Eu agradeço, mas estou bem, já posso ir embora. – Disse ele se levantando com dificuldade.

Ajudei e ele ficou de pé.

- Você tem certeza que está bem?

- Sim. Obrigado.

- Olha, sei que não é da minha conta, mas me responda apenas uma pergunta?

Ele olhou para mim dando um pequeno sorriso.

- O que você gostaria de saber? – Perguntou ele com um gemido de dor no final.

- O que são estes pontos brilhantes voando ao seu redor?

O sorriso então sumiu de seu rosto e ele me olhou seriamente.

Ouvi alguém vindo pelas árvores e olhei para trás, quando olhei novamente, ele não estava mais ali.

- Carola, está tudo bem? – Perguntou um dos guardas que estava fazendo a ronda.

Olhei novamente para a mata, o guarda olhou para a mesma direção.

- Nada não. – Finalmente disse desapontada. – Acho que vi um pequeno animal, mas acho que ele já foi embora, se assustou quando você se aproximou.

- Me desculpe. – Respondeu ele. – Sei como gosta dos animais da floresta.

- Não faz mal, pelo menos agora tenho companhia para ir para casa.

- É. Acho que sim. – Disse ele sorrindo e enganchando seu braço no meu.

Andamos conversando até perto de minha casa, onde ele me deixou, pois precisava voltar para o seu posto.

Sozinha, na varanda, olhei para a mata e tentei entender o que estava acontecendo, mas não encontrei nenhuma resposta, então entrei em casa e tentei descansar um pouco.

Quando a magia se revelaOnde histórias criam vida. Descubra agora