Meu dia começou como um outro qualquer, joguei meu braço para o outro lado da cama e a senti vazia. Minha mente pesou ao lembrar da briga da noite passada com meu marido. Jonathan. Nos conhecemos na faculdade e depois de alguns anos nos casamos e pouco tempo depois engravidei da nossa filha. Ele sempre demonstrou me amar, porém de um tempo pra cá todo o seu temperamento mudou, vivemos brigando e algumas vezes ele acaba me agredindo. Acredito que seja o trabalho, as coisas andam bem difícil então posso dizer que é por isso que estamos brigando.
Me sento na borda da cama e respiro profundamente, passo minha mão sobre minha nuca ajeitando alguns fios e levanto meus braços fazendo os ossos estralarem. Uso minha mão como pilar na borda da cama e me levanto indo em direção ao banheiro, assim que entro me olho no espelho e percebo que meu olho esquerdo esta roxo, ponho a mão em cima de maneira devagar e sinto aquela região do meu rosto arder, sem se preocupar muito retiro minha roupa deixando a caída no chão e entro no box, abro o chuveiro e deixo a água fria escorrer sobre meu corpo, deslizo os dedos sobre meu cabelo, tirando o excesso de água. Assim que termino enrolo uma toalha sobre meu corpo e volto para frente do espelho. Abro uma das gaveta e pego uma bolsinha com maquiagem. Faço algo simples no rosto apenas para esconder o roxo do olho, assim que termino olho para meu rosto no espelho.
"É apenas a pressão do trabalho, Elenna" - sussurro para mim mesma.Assim que termino de por minha roupa caminho até o quarto de Suzy. Minha única filha. Assim que me aproximo da porta para bater ela se abre já prevendo a minha aproximação.
- Bom dia, mamãe - Suzy diz enquanto passa a mão em seu olho ainda despertando de seu nome.
- Bom dia, querida - me ajoelho perante dela - acordou sozinha hoje né
- Mais ou menos - ela boceja antes de continuar - tive um pesadelo, sonhei que você e o papai haviam brigado
Sinto um arrepio percorrer todo meu braço e ir até minha nuca
- Ó... Foi apenas um pesadelo querida, um péssimo pesadelo por sinal - sorrio de maneira forçada
- Eu sei mamãe, é que pareceu tão real sabe, como se realmente estivesse acontecendo aqui na nossa casa - seu tom de voz de torna triste.
- Os pesadelo são assim mesmo querida, são apenas para lhe por medo - mordo o lábio inferior - agora vá se arrumar e esqueça isso, foi só um sonho.
Ela assente com a cabeça e sai correndo em direção ao banheiro. Me levanto dos joelhos com um breve suspiro e fico a observando entrar no cômodo. Apesar de ter apenas 6 anos, Suzy é bastante inteligente, não querendo ser muito egocêntrica, mas essa qualidade ela puxou de mim. Desço as escadas com a mão sobre o corrimão e sigo até cozinha e preparo o lanche de Suzy, não é muita coisa, apenas um suco de pêssego e alguns biscoitos que ela adora, ponho algumas uvas para variar no sabor de seu lanche. Assim que termino decido tomar apenas un iogurte, meu estômago estava quieto sem representar nenhum alerta de apetite.Assim que estaciono o carro levanto o pulso para olhar a hora e percebo que estou no horário. Como sempre. Arrumo todas as pastas sobre meu colo e logo após saio de dentro do carro travando o mesmo com a chave, abraço alguns livros sobre meu peito enquanto caminho no corredor da escola. Alguns dos meus alunos abrem passagem para mim e me cumprimentam com um bom dia, enquanto alguns me olham de relances e pigarreiam algo com seus amigos que voltam a atenção para mim. Não sei do que estão falando mas acabo me sentindo desconfortável e acelerando meus passos até a sala dos professores. Sinto a pressão de meus ombros se aliviarem assim que passo pela porta e debruço meu corpo sobre a mesma. Abro os olhos segundos depois e percebo que alguns dos professores estão sentado me olhando. Minhas bochechas coram no mesmo instante
- Oh, Bom dia - saio da porta e caminho até minha cadeira
Sinto o peso dos olhares deles em mim enquanto caminho pela sala.
Abby e Katie me olham de relance e depois se viram para conversar algo, Stefan vem até mim e põe sua mão sobre meu ombro
- Bom dia Elenna - ele sorri de forma otimista - como você está hoje?
- Olá, Stefan - sorrio para ele - vou bem sim obrigada, e você?
- Vou bem sim, você esta muito bonita hoje
- Ah... Obrigada Stefan - abaixo a cabeça meio tímida - é só um pouco de maquiagem, disfarçar as olheiras sabe
- Disfarçou muito bem, bom agora tenho que ir para minha luta diária. Ensinar matemática
- Não é uma luta tão difícil, eu diria que ensinar história e mais difícil, temos que ouvir os dois lados da história e saber que nem todos vão concordar com sua opinião
- Nunca pensei por esse lado Elenna, sinceramente acho que concordo com você
- Você concorda, talvez outro professor não. Como eu falei, os dois lados da moeda
Stefan concorda com a cabeça e sai logo após com a bolsa sobre o ombro em direção a alguma sala para dar sua aula. Não tenho nenhuma aula nesse primeiro horário, então decidido ficar na sala corrigindo algumas avaliações, abro minha bolsa e pego uma pequena caixinha que contém meu óculos de leitura. Não é uma avaliação muito complexa, pedi aos alunos que fizessem um pequeno resumo do filme que passei para eles sobre a ditadura militar no Brasil em 1964. Enquanto leio as folhas tamborilo os dedos na mesa de maneira suave. Entre um resumo e outro acabo tendo minha atenção voltada para de um aluno. Ele relata que na ditadura muitos cantores foram proibidos de terem sua música tocadas em show já que de certo modo em suas letras continham mensagens do que realmente estava acontecendo. Perco total atenção da leitura quando meu telefone toca, viro a tela e o nome de Jonathan aparece, desligo a chamada e coloco o celular na mesa com a tela para baixo, suspiro de maneira controlada enquanto passo as mãos sobre meu cabelo.
Em questão de instantes o alarme toca, arrumo minhas coisas dentro da bolsa e me preparo para minha rotina de aulas, a primeira seria no primeiro ano, estamos estudando sobre a era paleolítico. Não é um assunto tão difícil e nem muito longo, mas que exigo total atenção já que em minhas avaliações as questões costumam envolver perguntas que requer toda sua atenção. As horas vão passando rápido e quando percebo já estou na última aula do dia.
- Bom dia turma - falo bem alto pra que todos ouçam.
- Bom dia Professora - Alissia é a primeira a responder.
Logo após toda sala responde aleatoriamente
- Eu espero que toda turma tenha usado o fim de semana para estudar, porque hoje nós vamos continuar falando sobre o assunto da aula passada - pego um pilto em minha bolsinha - alguém pode me relembrar qual foi?
- A ditadura militar no Brasil em 1964 - Marco fala logo após ter estendido a mão
- Isso mesmo Marco! - vou até a frente do quadro e ponho o título da aulaDitadura militar no Brasil
- Algum de vocês sabem me explicar por qual motivo aconteceu isso com o Brasil? - Olho em volta da sala procurando algum voluntário - Já que vocês não se oferecem, vou escolher - um resmungo percorre toda sala - Alan! Responda pra nós por favor
Olho para o garoto tímido e percebo suas bochechas corarem pela enorme atenção recebida
- Bom, pelo que eu li um dos motivos foi a guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética - ele para de falar.
- Certíssimo, podemos dizer que foi uma briga entre o capitalismo e o socialismo, mas isso eu vou deixar para próxima aula
Me viro novamente para o quadro e volto a escreverEstados Unidos X União Soviética
Capitalismo X Socialismo
A disputa pela economia mun...Antes que eu terminasse o tópico alguém me interrompe chamando meu nome.
- Sim? - olho em volta procurando pela voz que me chamou.
- Professora, seu braço ta roxo - alguém diz do meio da sala.
Assim que abaixo a cabeça percebo que meu braço esta muito roxo, a cena de Jonathan apertando meu braço na noite anterior vislumbra sobre minha cabeça. Fico em choque instantemente por não ter percebido antes.
"Era por isso que todos estavam me olhando e cochichando mais cedo", penso comigo mesmo.
- Estão todos liberados - falo de maneira séria e em alto e bom som.
Arrumo minhas coisas e saio da sala parando na porta e me virando para turma.
- Por hoje é só pessoal, estão liberados.
Me viro e caminho em direção a saída e logo apos ao estacionamento entrando já em meu carro e cantando pneu para fora da área da escola.
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Psicologia do amor
RomanceElenna Light é professora de história em uma escola com alunos do ensino médio, apesar de se demonstrar sempre otimista em sala, a vida dela está indo por água abaixo. Em especial, o seu casamento. Elenna conheceu seu marido na faculdade, apesar del...