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Em 1996, menos da metade dos alunos de escolas de ensino médio nos Estados Unidos já tinha usado a internet. O Facebook só seria inventado dali a alguns anos. Kara e Lena estão prestes a entrar no futuro delas.

Domingo

Lena.

Não posso terminar com o Jack hoje, apesar de ter dito as minhas amigas que faria isso na próxima vez que o visse. Em vez disso, estou enfiada no quarto, instalando o computador novo, enquanto ele joga Ultimate Frisbee no parque do outro lado da rua.

Meu pai me mandou o computador como mais um pedido de desculpas. No verão passado, antes de ele e minha madrasta se mudarem do interior do estado para o litoral, ele me deu as chaves do antigo Honda e foi embora para começar sua nova vida. Agora, eles tinham acabado de ter o primeiro filho e eu ganhei um computador com Windows 95 e um monitor colorido.

Estou dando uma olhada em vários protetores de tela quando alguém toca a campainha. Deixo minha mãe atender porque ainda não me decidi entre o labirinto de paredes de tijolos e os encanamentos. Espero que não seja Jack batendo à porta.

- Lena! - grita minha mãe. - Kara está aqui!

Isso sim que é uma surpresa. Kara Denvers é minha vizinha e quando nós éramos pequenas vivíamos correndo de uma casa para a outra. Acampávamos no quintal e, no sábado de manhã, ela trazia a tigela de cereal dela para assistir aos desenhos animados no sofá. Mesmo depois de iniciarmos o ensino médio, costumávamos passar um tempão juntas. Mas então, em novembro do ano passado, tudo mudou. Ainda sentamos com o nosso grupinho de amigos, mas ela não esteve na minha casa sequer uma vez nos últimos seis meses.

Escolho o protetor de tela da parede de tijolos e desço. Kara está parada na varanda, batendo os calcanhares do tênis cano alto. Ela é um ano mais nova que eu, o que significa que está no segundo ano. Ela tem o mesmo cabelo loiro caído gentilmente sobre o peito e o sorriso tímido de sempre, mas cresceu uns centímetros neste ano.

Vejo o carro da minha mãe dar a ré na garagem. Ela buzina e acena antes de virar na rua.

- Sua mãe disse que você não saiu do quarto o dia inteiro - diz Kara.

- Estou instalando o computador - respondo, evitando falar do Jack. - É bem legal.

- Se a sua madrasta ficar grávida de novo - continua ela -, você devia convencer seu pai a lhe dar um telefone celular.

- Até parece.

Antes de novembro do ano passado, Kara e eu não estaríamos assim sem jeito, paradas à porta. Minha mãe teria dito para ela entrar e ela teria corrido direto até meu quarto.

- Minha mãe pediu para lhe dar isto - diz, estendendo um CD-ROM. - A America Online dá cem horas grátis se você se inscrever. Chegou pelo correio nesta semana.

Recentemente, nossa amiga Maggie assinou a AOL. Ela dá um gritinho cada vez que alguém manda uma mensagem instantânea para ela. E passa horas debruçada sobre o teclado, digitando uma conversa com alguém que talvez nem seja da nossa escola.

- Sua família não quer? - pergunto.
Kara balança a cabeça.

- Meus pais não querem internet. Dizem que é perda de tempo e minha mãe acha que as salas de bate-papo estão cheias de depravados.

Dou uma risada.

- E ela quer que eu tenha?

Kara dá de ombros.

the future of us. [supercorp au!]Onde histórias criam vida. Descubra agora