França, 1975.
- Grávida! Você está gravida, Madeleine?
Eu estava assustada com a maneira que meu pai recebe a notícia, mas eu precisava contar a alguém. Tinha medo de como Gabriel agiria, mesmo que em seus mais profundos juramentos ele dissesse me amar.
Eu podia ver a raiva se instalar nos olhos do homem a minha frente a cada minuto que eu passava em silencio. Mas pude sentir o seu total desgosto quando senti sua mão arder no meu rosto.
- Me responda! – Berra ele.
- O que mais você precisa? – Desta vez grito podendo sentir meus olhos marejados e meu rosto ainda arder por seu tapa.
- Saia da minha casa! SAIA DA MINHA CASA AGORA!
Ele não me deu sequer tempo para me explicar, pedir clemencia, ou qualquer coisa do tipo. Talvez a pessoa que eu achei que fosse me acolher não ligasse o suficiente para a filha... filha gravida.
Eu sai da casa sem sequer olhar para trás ou pegar qualquer coisa que me pertencesse naquele lugar. Mas mesmo que eu não estivesse mais lá, eu ainda não acreditava o suficiente para me afastar. Estava a uns dois quarteirões de distância, esperava talvez que ele se arrependesse, viesse me buscar e me por novamente dentro de casa, talvez quisesse ouvir sobre a criança em meu ventre, que nome eu daria. Mas isso não aconteceu, não aconteceu depois de três horas, nem depois de quatro horas que eu estava parada no mesmo lugar sem saber o que fazer ou para onde ir. E mesmo depois disso eu ainda não tinha ido atrás de Gabriel, não podia ainda, o que diria? Que meu pai me jogou para fora e que agora eu sou completamente dependente dele? Não.
Depois que eu já não tinha mais lagrimas para chorar eu decidi me levantar e caminhar em busca da pessoa que talvez pudesse me ajudar de verdade. Lily e eu costumávamos ser amigas quando eu ainda frequentava a escola, eu estava lá quando ela levou um pé na bunda de Luke então, talvez, ela possa estar aqui quando eu levei um pé na bunda do meu pai.
Finalmente, depois de alguns minutos de caminhada eu cheguei a sua casa e pensei comigo mesma se bateria na porta, e eu o fiz.
- Ângela? Meu Deus o que houve com você?
Ela não demora a abrir e muito menos a falar algo.
- Posso entrar? – É o que eu consigo perguntar antes de novamente voltar a chorar, não achei que estivesse tão sensível.
(...)
- Meu Deus, isso é horrível!
Foi o máximo que ela chegou a falar desde que eu contei o que aconteceu, e eu não a culpava e nem esperava que dissesse algo mais, eu também não saberia o que dizer no lugar dela. Suspiro e levo a xícara de café até meus lábios.
- Bem, o que você pensa em fazer agora? Pretende voltar para casa? – Ela finalmente quebra o gelo que havia se instalado.
-Não! Eu nunca vou voltar para aquela casa, Lily. Não posso, você não viu a maneira que ele ágil, era como se eu tivesse cometido um crime. Não posso!
- Mas de certa...
- Meu Deus, Lily! Por favor, não diga que você pensa algo parecido. Eu só estou gravida.
Eu digo aquilo antes que ela tivesse chance de concluir o que iria falar, podia ser petulante da minha parte, levando em conta a minha posição aqui.
- Tudo bem, me desculpe! – Ela diz e continua. – Mas o que você pretende fazer? Você só tem 16 anos, Ângela. Largou a escola fazem 6 meses, seu pai sabia disso? Você conhece o pai da criança?
Me mantive em silencio enquanto ela me questionava, eu não tinha argumentos para nada daquilo tudo era verdade e eu não tinha estruturas para suportar o fato de que tinha abandonado tudo para no fim estar com medo e não saber qual seria a reação da pessoa pela qual eu deixei tudo, qual seria a reação de Gabriel.
- Sim! – Digo depois de vários minutos de silencio.
- Sim o que?
- Eu sei quem é o pai da criança...
- Graças a Deus, Ângela. Ele já sabe sobre essa criança? Você está com quantos meses?
Termino o café que ela tinha me dado e lhe encaro enquanto fazia as perguntas, suspiro sentindo meus ombros pesarem.
- Não ele não sabe... não tenho certeza se contarei! Talvez eu esteja com uns 3 meses...
Era claro o seu julgamento, estava estampado na sua face, eu sabia que mil coisas podiam estar passando por sua cabeça já que ela não diz nada, não com palavras.
- Não se preocupe... eu não vou ficar aqui por muito tempo.
- Não, não é isso...
Lily rapidamente rebate mas eu sabia que ela só queria ser gentil. Eu não posso me dar ao trabalho de ser esse problema, preciso encarar os fatos. Eu tenho apenas 16 anos, nenhum emprego e agora também não tinha onde morar. Tudo que me resta é a dúvida sobre qual seria a reação do meu namorado em relação a criança que iriamos ter juntos, ou não.
Nunca duvidei dos sentimentos de Gabriel Pierrot em relação a mim, mas mesmo depois de quase um ano juntos e 6 meses de namoro, eu ainda não o conhecia tão bem quanto poderia, não sabia nada a não ser o seu nome e endereço. Tudo, tudo que eu sabia sobre ele era isso e mesmo assim deixei a escola para que nosso tempo juntos fosse maior, me afastei das pessoas que considerava ser meus amigos, como Lily. Pessoas estas que não sabiam dessa relação, porque Gabriel Pierrot pediu que mantivéssemos em segredo e eu nunca soube o real motivo, mas agora, agora era diferente, a uma semana tem sido diferente, uma semana que eu pude ter a certeza dessa gravidez. E agora eu preciso tomar as rédeas dessa situação.
Novamente aquele silencio tinha se instalado e Lily tentava parecer normal mesmo depois de tudo que eu disse a ela, suspiro.
- Posso usar seu telefone? – Pergunto.
- Oh... Claro, fica lá em baixo no balcão da cozinha.
Abri um pequeno sorriso e me levantei da cama, estava determinada do que iria fazer e a cada passo que eu dava em direção aquele telefone eu podia sentir um reboliço na minha mente e no meu corpo.
Mesmo com essa sensação no meu corpo lá estava eu, discando o número que tinha na minha mente e quando começou a chamar eu senti meu corpo vibrar.
"Alô?"
(...)
- Hum... você voltou. Deu tudo certo ao telefone?
- Sim... Obrigado. Hum, Lily, eu posso dormir aqui hoje? Se não for um incomodo a mais...
Ela ficou em silencio por um breve segundo mas sem relutância balançou a cabeça concordando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pierrot
ActionPierrot é uma historia sobre passado. Baseada no RPG (Connected) a trama conta a historia por trás dos sobrenomes dos gêmeos, Julian e Jamie, que aos 14 anos se encontram completamente sozinhos quando sua negligente mãe foi assassinada. Ninguém sabi...