Conhecendo a Mila

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Hoje foi meu primeiro dia no lycée, que seria o terceiro nível obrigatório de estudo Francês, equivalente ao ensino médio. No meu caso, escolhi seguir o ensino lycée général et technologique, que seria o ideal para quem quer cursar alguma faculdade após a conclusão do lycée.

 Bom, em meu primeiro dia não aconteceu nada de importante, a escola Lycée Saint-Louis é bem perto de minha casa, apenas 8 minutos de ônibus e com meus passos de tartaruga uns 12 a pé. Sai da escola as 13h15 da tarde, me atrasei 15 minutos pelo fato de ter me perdido na escola, mas ela é enorme então acho que é aceitável.

 Minha opinião sobre a escola? Bom, é uma escola particular e oferece, como previsto, uma ótima qualidade de estudo, mas não pude deixar de me sentir completamente deslocada e sufocada pela quantidade de deveres e tarefas jogados em nossas caras sem ao menos uma introdução. Sei que foi muita gentileza de meus pais adotivos terem me colocado em uma escola com um ensino tão privilegiado e tão perto assim de casa, mas sinto falta dos meus antigos amigos do orfanato, quer dizer, eu vivi minha vida inteira naquele lugar, sempre fui a escola publica do bairro com os mesmos amigos de sempre, de repente nas férias de verão sou adotada por um dos casais mais ricos de Paris. Sei que devem estar me achando um tanto mesquinha e ingrata, mas logo verão o porque esse casal é tão abominável.

Como já estava atrasada de qualquer forma, resolvi passar na livraria gibert joseph no caminho para pegar um exemplar e reler pela milésima vez meu livro favorito, vulgo Harry Potter e a Pedra Filosofal. O mundo e os ensinamentos do bruxo sempre me encantaram de uma forma inexplicável, desde criança sonhara em receber uma carta de Hogwarts e ser assumida como uma bruxa de sucesso que foi a primeira criança a sobreviver a um grande e impiedoso feitiço proibido. 

Passei menos de 3 minutos pegando meu livro na livraria, já era conhecida lá pelo dono Oliver Blanchard, já que havia passado praticamente minhas férias inteiras na livraria lendo livros e escrevendo em meu velho caderno forrado com uma grande capa de couro marrom, era um lugar realmente admirável e com uma paisagem maravilhosa vista pelas grandes janelas de vidro que cercavam as paredes do local. Logo após isso continuei minha caminhada para casa, imaginando a fúria que meus pais deveriam estar pelo meu atraso, tentei desviar isso de minha mente enquanto fitava os pássaros e as borboletas voarem em torno de flores nos parques municipais pelos quais passava, sim parques no plural, no caminho pela minha casa era possível passar por 2 deles, e um pertencente exclusivamente ao Museu de Cluny. Tenho que confessar, a vista era excelente. 

Exatamente as 13h30 passei pelos seguranças na entrada da mansão de meus pais, e como eu esperava eles já estavam saindo para seus respectivos escritórios, minha mãe adotiva era contadora e meu pai um advogado muito requisitado de Paris, já esteve em casos como a separação do antigo presidente e sua esposa e, alguns dos maiores casos envolvendo políticos do país, mas não fui certamente convencida de que ele tenha ficado do lado certo destas histórias. Como ambos estavam de saída, não tiveram tempo o suficiente para me dar um sermão, ou pelo menos era o que eu achava. Pouco depois de minha mãe adotiva sair, meu pai me puxou pelo braço esquerdo me fazendo sentar na poltrona da sala ao lado dele. 

- Preste atenção mocinha, a próxima vez que ousar chegar atrasada em casa vamos ter de tomar medidas um tanto drásticas. Por tanto, suba ao seu quarto e estude a tarde inteira até eu e sua mãe voltarmos, a noite iremos para uma exposição no Museu do Louvre de uma obra de um dos amigos da família, iremos te apresentar oficialmente como nossa filha perdida, não como uma aberração sem pais que foi tirada de um lar adotivo. No fim da tarde uma moça virá aqui repassar as aulas que tem tido as férias inteiras sobre bons modos e etiqueta. Sua mãe e eu estamos com grandes expectativas, então faça o favor de agir como a tal que esperamos que seja. 

Dito isso ele se levantou pegando sua grande maleta de couro do chão ao lado de sua poltrona, dando um beijo forçado e sujo em minha testa e saindo fechando sem o maior cuidado a porta principal, sempre tive medo ao vê-lo fazer isso devido a porta ser de vidro, mas com o tempo já estava chegando a conclusão que ela seria inquebrável. 

Dei um suspiro longo e apenas subi para meu quarto no segundo andar seguindo as ordens de meu pai, abri a porta e me deparei com minha cama que eu esperava me jogar em cima sem pensar duas vezes, cheia de livros grandes e grossos encadernados e com pastas de estudo em todo lugar. Sério que eles queriam que eu estudasse tudo aquilo em uma tarde? Nem que eu tivesse o cérebro mais inteligente do mundo o faria, então pra ajudar em tal tarefa decidi pedir pra empregada da casa, Nina, me trazer um café com tanta cafeina que minha próxima noite de sono seria só daqui 50 anos, enquanto ela o fazia apenas tomei um banho quente e relaxante pensando em quanto minha vida havia mudado em apenas alguns meses, será que algum dia eles iriam mudar? iriam ser menos rígidos? me aceitar como uma filha que não é apenas uma aberração retirada de um lar adotivo? isso é oque eu anseio desesperadamente 

Um amor FrancêsOnde histórias criam vida. Descubra agora