PROGRAMAÇÃO

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Roberto alinhou a caneta exatamente com a borda do monitor. Dois centímetros a direita. Retirou uma flanela e uma garrafa de álcool isopropílico da gaveta da escrivaninha. Esfregou o mouse exatamente duas vezes. Depois, o teclado. Mesmo número. Ajeitou a posição da cadeira para exatamente a mesma que estava antes, só por precaução. Conferência dupla. São dezoito segundos para o Windows ligar. Ele digita a senha. Vinte e seis caracteres. Seis especiais. Oito maiúsculas. Dois números. Mais vinte e dois segundos para fazer login.

Haroldo virá cumprimenta-lo. Ele sabe. São oito e quatro. Ele sempre vem.

— Bom dia Roberto. — Um homem corpulento anuncia, tropeçando nos próprios pés. A mesma cara de sono. Roberto apenas acena enquanto ele atravessa a divisória da sua baia para se sentar perto da janela.

Roberto abre sua planilha de controle. Já sabe quais as tarefas do dia, mas confere mesmo assim. É bom checar duas vezes. Vai ser um dia calmo e normal. Tem que entregar um relatório de evolução até o meio dia e o detalhamento funcional de um módulo de um sistema até as dezoito. Nada novo, sem surpresas. Do jeito que ele gosta.

Ele ajusta o brilho do monitor para exatos oitenta e três por cento. Por alguma razão o Windows insiste irritantemente em definir a configuração para oitenta. Mas oitenta é ruim. Não é claro o suficiente.

Seus dedos correm lentamente pelo teclado, com maestria e destreza de um mestre modelando argila, dando forma a uma obra de arte em forma de números. Fórmulas, macros, formatações condicionais. Ainda não está bom. As informações não estão em tempo real o suficiente. São do início da manhã, quando a equipe de operação divulga a primeira parcial do dia. Ele monta tabela dinâmica com dados atualizados pela internet, alimentados pelo próprio sistema de banco de dados da SYMCOM, afinal precisão é essencial.

Ele imprime o relatório. Duas cópias. Melhor conferir fisicamente. No monitor alguma coisa pode passar batido. Lá está, linha G:935. Um dado mal formatado. Alinhado para a esquerda. Pega a régua e checa, a linha é aquela mesmo. Assinala com um lápis na cópia um. Posiciona a cópia dois ao lado — para referência. Só depois que checar todas as linhas é que ele vai corrigir eletronicamente. Mas não, sem é claro, usar as duas cópias para se assegurar da confiabilidade da informação.

Às dez e cinquenta e dois ele termina. Três vírgula dois porcento de evolução do módulo em relação ao report anterior. Trinta e um porcento e setenta e dois. Nada mal para vinte e cinco dias de projeto. Isso que é eficiência, aliás, eficácia, melhor dizer. Roberto confere o prazo, pregado ao lado do monitor. Ele sabe o dia, mas verifica mesmo assim. Ainda tem quarente e sete para terminar. Tudo sob controle.

Ele tem um bom prazo até o almoço. Vai entregar o relatório exatamente ao meio-dia, afinal foi o horário final acertado. Bom momento para sua maior diversão, checar o e-mail. Classifica apenas um e-mail como spam. Logo menos sua caixa estará livre. Trinta e cinco pastas e doze marcadores de conteúdo, separados por cor. Nenhuma resposta pendente. Tudo em ordem.

Chega um e-mail inesperado. E chega Diogo. As duas coisas que ele mais odeia. Diogo, com sua cabeleira loura e sorriso de comercial de pasta de dente, e imprevistos.

— E aí Robertãooo! — A voz dele é irritante. Ele envolve Roberto em um abraço desnecessário. Roberto odeia apelidos. — E aí, você vai participar né?

Roberto não sabe do que ele está falando. Ele precisa ler o e-mail. Tem que ler. Não suporta aquela marcação negra sinalizando a "não leitura". Ele sabe que Diogo não vai deixá-lo em paz enquanto ele não der atenção, mas ele não quer. Ele aponta o mouse para o e-mail e tenta clicar.

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