girassóis enraizados no sol

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Foi-se então o tempo em que eu observava o sol com calma e seguia-o em meio ao campo de girassóis. Eu pulava de alegria, mas a queda sempre me era dolorida. Entretanto, não me importavam as botas sujas, a beleza se tornava mais deslumbrante quando tinha os pés nus e sujos por conta da brincadeira na terra durante toda a tarde. O sol sugava-me o fôlego e beijava-me a pele com tanta ternura nos lábios, tanto carinho e compaixão que me tornava escrava das queimaduras, cegava-me os olhos de amor e beleza. Magnífica era a imagem do sol iluminando as pétalas dos grandes girassóis fazendo com que eu enxergasse toda a alegria do vívido amarelo de tais flores. Era linda a paisagem. O céu parecia pintado por uma divina aquarela que misturava tons de rosa e azul, alastrava a tinta por todo o céu passando várias e várias demandas uma por cima da outra até que se obtivesse uma cor mais vívida que o amarelo das pétalas dos girassóis ou do verde de seus caules e folhas.

E os girassóis enraizados no sol seguiam a beleza da tarde com os olhos vidrados na luz e um sorriso brilhante que arregalava os olhos de quem via. Tamanho era o aconchego da tarde que me abraçava com amor de vó, abraço tão quente que eu me punha a dormir com a cabeça deitada nas nuvens.

Eu, girassol, via o tempo passar e levar as cores consigo. O azul se tornava mais escuro a cada segundo, o rosa se esvaía, as nuvens se escondiam atrás das montanhas e o sol corria pelo céu a caminho de sua casa, a crueldade e o luxo da noite chegavam mais perto a cada milésimo, a pintura do universo passava de "Impressão, nascer do sol" para "Noite estrelada". A grande diferença entre o vento da tarde e da noite era a forma como esses costumavam me beijar, o vento da tarde era calmaria, já o vento da noite, euforia, e eu amava a forma como a lua e o sol dançavam durante toda o dia e noite no céu, às vezes juntos das nuvens, às vezes a sós. Isso tudo me aconchegava assim como aos outros girassóis.

Eu, já com as botas sujas e adornadas com pequenas folhas que caíam pelo caminho - não se importe, leitor, era tempo de cair, não tive a maldade de arrancá-las -, era a mais bela parte de toda aquela arte, com minhas pétalas amarelas, que pareciam ora mais claras, ora mais escuras, e meu grande caule e esbeltas folhas verdes, que dançavam no ritmo da imensa orquestra do universo, eu me deleitava e me inspirava com toda essa obra-prima.

A cálida noite caiu. Assumo que era por volta das sete horas da noite quando um casal de homens apareceu no jardim. O mais alto, de fios morenos, escuros como o céu, e olhos que brilhavam ao olhar para o mais baixo, corria entre os girassóis não se importando também em sujar as botas na terra, de mãos atadas às mãos do mais baixo, ele o puxava olhando em seus olhos, ambos contemplando a noite de corações abertos, ás vezes se beijando assim como o vento da tarde beijava meu rosto, com calmaria. Já o mais baixo, de fios loiros como as minhas pétalas, sorria como o sol olhando para a lua e observava o mais alto dançar entre os girassóis dando pequenas gargalhadas que esbanjavam amor e ternura.

A energia que o casal esbanjava com tanto orgulho se assemelhava à energia que a tarde me punha envolta, era como observar a tarde na noite, era estranha a sensação de tamanho contraste, mas era boa, muito boa. O que me era mais entranho ao olhar nos olhos de estrela de ambos os homens era a sensação de perigo eminente que emanavam seus corações, era perceptível pelo brilho que era um tanto quanto apagado quando seus corações diziam que estavam a fazer algo de errado. Não entendia o porquê de tanto medo, não havia perigo em amar quem te ama, pelo contrário, era mais que certo a reciprocidade. Queria poder dizer o quão linda era a paisagem e a mensagem que este casal me passava, mas era impossível, sou um girassol, girassóis não têm palavras para descrever o sol e a lua.

Certo tempo havia se passado, ouvi as seguintes palavras saindo da boca do mais alto: "Jimin, feche teus olhos e me aguarde aqui, isso, ponha as mãos em frente a estes para que te tampe o brilho da lua e das estrelas, quero dar-te um presente". Me perguntei inúmeras vezes qual seria este presente, um anel de compromisso? Um beijo? Um abraço apertado? Uma simples confissão? Me parecia que todas as opções estavam erradas, então vi que o homem cujo nome eu ainda não sabia vinha em minha direção, sorri e me pareceu que ele viu meu sorriso, se aproximou mais e então disse em voz baixa: "É esse". Não compreendi de primeira até sentir suas mãos envolta do meu caule fazendo grande pressão para cima.

Senti muita, muita dor, meu corpo todo doía e eu só conseguia chorar, lembrava-me de toda a tarde que havia se passado onde em nem ao menos imaginava o que estava para acontecer. O céu me passou em frente aos olhos e eu, olhando para cima, vi o enorme sorriso daquele homem direcionado a mim, ele dizia: "Jimin adora girassóis, são suas flores favoritas, tenho certeza que irá amar".

Me lembrei das folhas que caíram sobre minhas botas mais cedo naquele dia e então percebi que era meu momento de ir, assim como elas se foram. Ainda doía, muito, mas fiquei feliz em saber que seria a felicidade de alguém, um presente de um casal, até que minhas raízes foram arrancadas da terra e, assim, soube que morri.

Meu caule era envolto pelas grandes e macias mãos daquele homem alto que me levava ao mais baixo e eu escutava o coração dele que, agora, mais se assemelhava a um garotinho cheio de inocência e amor. Seus batimentos eram rápidos e fortes. Ouvia seus passos em direção ao menor sem poder ver suas feições, o que mais me chateou.

"Pode abrir os olhos, amor"

"Oh meu Deus, Jeon Jeongguk!"

"Sabia que você iria adorar."

"Eu amei com todo o meu coração, muito obrigado. Eu te amo, Jeon Joengguk"

"Eu também te amo, Park Ji..."

As últimas palavras que ouvi. Eu só pude agradecer aos céus pelos meus últimos momentos terem sido tão abençoados e graciosos como uma dança de balé com o sol, ou uma valsa com a lua.

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muito obrigada por lerem até aqui! fico muito agradecida por você ter tirado um pouco de seu tempo para dar uma chance à literatura.

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