Mais um dia e ele faria 18 anos. Ele seria livre, em todos os sentidos dessa palavra. Livre para fazer suas escolhas. Livre para escolher os seus sentimentos. Livre para arcar com as consequências. E eu? Uma pergunta egocêntrica que o meu subconsciente ordena que faça . Eu Teria ficado com ele mais tempo. Teria feito viagens com ele. Teria tido brigas. Teria sofrido. Teria casado. Teria amado mais. Mas eu apenas Teria. Teria se alguém me permitisse ter. Mas esse alguém não permitiu. E eu apenas Teria de aguentar.
Após esse dia passar. Após eu acordar naquele hospital informal e impessoal, naquele cadeirão que fazia minhas costas queimarem de dor, eu, coloco meus dedos nos dele agora mais gelidos que os meus e pergunto controlando a voz e apenas faço a questão que não saía da minha mente. A minha voz sai clara, precisa. "Amor, vc quer casar comigo?" Senti ele me puxar. Senti que ele tentava falar. Senti uma felicidade imensa. Senti o que queria sentir, antes mesmo dos aparelhos começarem a apitar, o esforço tinha sido imenso. Sabia que não teria muito tempo, mas não achei que esse pouco tempo seria realmente tão pequeno. Enfermeiros chegam e levam seu corpo, agora inconsciente, pelo hospital fora, loucos por salvar uma vida, que é incapaz de ser salva. Passam-se incessantes minutos. Os minutos se transformam em horas descontroladas, imprecisas. Eu desesperada. Os médicos ansiosos. Ninguém sabia o que iria acontecer, tudo dependia da vontade do meu Amor de sobreviver. Ninguém queria acreditar, ninguém nem sabia ou até o conhecia para saber que sua hora tinha chegado e que ele não aguentava mais fazer ninguém sofrer tanto ele próprio como eu e sua avó. Com suas últimas forças fui informada que após estar estável ele proferiu "eu aceito, eu aceito ser seu" e as máquinas apenas proferiram um som. Um som impessoal, um som informal. A historia ainda não tinha acabado. Eu voltaria a vê-lo. E talvez mais cedo do que ele desejaria.