Nada de importante aconteceu aqui

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Agora que você sabe quem você é

O que você quer ser?

E você já viajou muito longe?

Até onde os olhos conseguem enxergar

(...)

Querido, você é um homem rico

- The Beatles


Dezenove dias.

Isabelle não estava nervosa, muito menos ansiosa. Ela ficava nervosa quando tinha que pedir permissão para algo, quando tinha que sair da zona de conforto dela, quando Helen fazia alguma pergunta díficil para Maxwell e ele esperava que ela soubesse a resposta (ela geralmente não sabia. No fim das contas Robert era um tutor bem medíocre). Isabelle estava pura e genuinamente desesperada.

Ela sentia em todas as fibras do seu ser que ter ido até o Meliorn tinha sido uma péssima ideia, principalmente porque ele fazia questão de lembrar do prazo final dela para sair da casa de Simon e ir embora com ele. Dezenove dias. O humor de Isabelle não estava um dos melhores por conta disso e o belo dia que fazia parecia debochar de sua cara.

Meliorn estava estranho. Ele sempre a apoiara em tudo que ela queria, até porque ele sempre esteve incluído nos planos dela. Claro que ela não falara para ele sobre suas inseguranças e dúvidas, porém ela quase conseguia sentir que ele sabia de seus questionamentos. Isso a assustava de certa maneira: ele estava impaciente, nervoso e, quando ele explodia, ele tendia a ficar agressivo. Ele tinha sido grosseiro mais de uma vez durante esse último encontro e gritara com ela também. Isabelle estava desconfortável com a situação, contudo, como em outras situações, ela ignorava porque ainda era Meliorn e ele sabia o era o melhor para ela. Ela estava insegura e ele era a pessoa com certezas nesse relacionamento.

De qualquer maneira, ela tinha apenas dezenove dias.

Isabelle resolveu espairecer, determinada a esquecer por um tempo seu prazo e o dilema a respeito de suas decisões e pensar apenas em tecidos e nos lindos vestidos que vira em sua última viagem a Paris com seus pais como a "exemplar" donzela Lightwood. Seguiu em direção ao vilarejo com Hunter, seu fiel escudeiro, que parecia estar muito feliz em ir embora do esconderijo de Meliorn.

Como de costume, a jovem foi cumprimentada por diversos mercadores e clientes; já era conhecida e, mesmo que não comprasse tanto quanto os boatos diziam, era querida ali.

Ao chegar na loja do Sr. Charpentier, foi logo abordada por Jean-Jacques, o filho mais velho do dono Louis Charpentier.

一 Bonjour, Mademoiselle Montgomery.

Isabelle forçou um sorriso. Depois de alguns meses, ela já tinha se acostumado com o título (uma parte dela quase gostava de ser chamada assim), contudo ela não estava no clima. No máximo ela queria comprar alguns tecidos e ir para casa remoer seus problemas.

一 Bonjour, Jean-Jacques. O que me traz de novo?

一 Sempre curiosa, mademoiselle, trouxemos cetins bordados da Índia, cores quentes são as mais cotadas para este verão, é uma pena que não possamos trazer uma variedade maior...

一 Ora, mas por que, Jean? Eu acreditava que os negócios estavam indo bem. Vocês precisam de alguma ajuda? 一 A jovem disse a última frase em um tom cuidadoso, a última coisa que queria era ofender a família Charpentier. Sabia como os franceses eram bons em guardar rancor.

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