A Cavalgada Albuquerque

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O dia 15 de outubro de 2006 era um domingo ensolarado na nossa linda Viçosa. Acordei mais cedo do que de costume naquele dia, porque era uma ocasião de festejo para nossa estirpe, o dia da tradicional cavalgada da Família Albuquerque. Tudo isso começou a muitos anos atrás, quando meu avô resolveu comemorar seu aniversário no bar Toca do Velho, um bar de seu amigo que fica localizado na praça Duas Vidas. Ele mandou selar alguns cavalos e junto com alguns peões da fazenda foram a cavalo com o destino a esse bar. No ano seguinte, resolveu fazer a mesma coisa, no terceiro ano, os cavalos e cavaleiros tinham aumentado, tornando-se não um simples passeio até o bar, mas sim uma grande cavalgada, com toadas, aboio, berrantes e muita cerveja. Infelizmente, meu avô faleceu, no entanto, meu pai mantinha a tradição da cavalgada viva e cada ano mais gente se juntava ao nosso comboio.

Eram oito horas da manhã e eu estava no Ford Ecosport vermelho de minha mãe dirigindo entre as ruas de paralelepípedos de Viçosa. Aos domingos essa cidade parecia uma cidade fantasma, não se via ninguém na rua, não se ouvia barulho nenhum, não se via carros, motos, bicicletas, nada. Era como se todo mundo hibernasse o dia todo, ou viajasse, mas na verdade, acho que passavam o dia sentados em um sofá assistindo televisão sintonizada em algum programa global.

Finalmente cheguei na fazenda, meu pai já estava lá, junto ao meu tio nos preparos do evento. Os dois faziam uma bela dupla para manter a fazenda sempre próspera. Meu tio se encarregava dos empregados, animais e do campo. Já o meu pai com a parte burocrática: contratos, pagamentos e contas.

— Até que enfim você chegou Gabriel, pensei que iria dormir o dia todo — Reclamou meu pai.

— Não demorei, agora que são oito e meia! — Contestei.

— Muito tarde! Você sabe que temos que deixar tudo pronto, a cavalgada começa às dez horas. Você trouxe o restante das bebidas? — Ele perguntou. Todas as festas que fazemos ele ficava assim, zangado e preocupado. Ele sempre queria que as coisas saíssem perfeitas, para ninguém sair falando nada. Mas sabemos que sempre vai existir aquele que encontra algum defeito e sai comentando aos quatro cantos.

— Trouxe sim pai, estão no porta-malas.

— Muito bem, coloque nas caixas térmicas e não esqueça do gelo. — Ordenou meu pai.

Algumas horas depois todos já estavam prontos para mais uma cavalgada. Tinha muita gente com seus lindos cavalos, todos vestiam uma camisa amarela com um desenho de um cavalo e uma frase estampada: CAVALGADA DA FAMÍLIA ALBUQUERQUE 2006. Meu pai e meu tio usavam botas de couro; perneiras (uma espécie de calça de couro, por cima da calça jeans normal); gibão (que é um colete feito de couro); a camisa amarela de algodão com o nome da família por baixo do gibão; e para proteger do sol um chapéu de couro pequeno e redondo. Esse figurino era o que meu avô costumava usar em todas as cavalgadas, para homenageá-lo eles usavam também.

Eu estava em pé, escovando o mestre, meu cavalo preto com manchas brancas da raça mangalarga marchador. Usava uma bota de couro preta, uma calça jeans azul, a camisa da cavalgada e um chapéu branco de couro. Ao meu lado estavam Pedro e Henrique, ambos já montados em seus cavalos e segurando uma latinha de cerveja na mão.

— Quem diria em pessoal, domaram meu amigo Gabriel. — Pronunciou Pedro, em um tom irônico.

— É! Colocaram rédea no cavalo sem-rédea. — Acrescentou Henrique. Ele costumava a chamar-me de cavalo sem-rédea devido ao meu temperamento explosivo e por nunca ter namorado sério com alguém.

— Que conversa! Não colocaram nada de rédea em mim. Ainda continuo livre e solto, meus amigos. – Disse isso montando em meu cavalo.

— E quanto a sua amada Júlia, em? — Perguntou Pedro.

Meu nome é GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora