1. O Soldado de Inverno

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"Onde está o meu verdadeiro eu?
Estou perdido e isso mata-me por dentro
Estou paralisado"

NF- Paralyzed

Quartel da Hydra
Sibéria, 1974
B U C K Y

Quem sou eu? É uma pergunta que faço a mim próprio todos os dias mas nunca tenho respostas.

Não sei quem sou. Não sei onde estou. Não sei o ano ou dia em que estamos.

Só sei que vivi algo mais para além disto, pois tenho alguns momentos onde me lembro do meu passado.

Às vezes, vejo o rosto desfocado de um homem e ouço-o a gritar por mim, mas não consigo lembrar-me de quem é. Vejo-me rodeado por algo que parece neve e sinto-me a cair num vazio sem fim, mas a lembrança do lugar apagou-se da mente, como a chama de um fósforo.

Quanto a nomes, sei que também tive um nome no passado.

Uma alcunha.

O resto é apenas um borrão desfocado.

Agora, apenas respondo pelo nome que os militares que pairam nos corredores deste inferno me chamam.

Soldado de Inverno.

A culpa é deles.

Eles tiraram tudo de mim e tornaram-me num fantasma.

Não tenho nada a não ser o meu corpo e até nisso já deixei de ser eu por causa do maldito braço metálico que está preso a mim como uma mensagem silenciosa que mostra ao mundo aquilo que eu verdadeiramente sou.

Um espetro de alma vazia.

Uma máquina que trabalha no automático e que foi feita para capturar e matar.

Nada mais.

Neste momento, estou a ser arrastado através dos corredores escuros do quartel por dois guardas e sei exatamente para onde me levam.

O laboratório, onde sou acorrentado e electrocutado como um animal.

Não preciso de pensar muito para perceber que a Hydra vai-me enviar numa missão e preciso de ser preparado para isso.

Preciso de ser apagado.

Um assassino perfeito não sente e não lembra.

Mas eu lembro-me, por mais desfocada que seja a memória.

Todas as pessoas que já sofreram nas minhas mãos. A memória delas é fraca, mas o sangue grosso e os gritos de misericórdia ficarão marcados em mim a ferro e fogo para o resto da eternidade.

Sou um assassino. Sou um monstro.

Chegamos ao laboratório e um dos brutamontes que me arrastou até aqui larga o meu corpo durante uns segundos para ir falar com um dos encarregados e volta com uma pasta na mão.

Sou carregado até à maca onde me prendem com algemas de aço maciço, de modo a não me conseguir libertar.

Elas foram criadas para conseguir conter-me na minha máxima força, pois nos primeiros tempos em que vivi no quartel da Hydra, ficava muito violento e até cheguei ao ponto de magoar gravemente um dos encarregados do laboratório.

Agora apenas deixo que façam comigo o que quiserem, porque as minhas forças para lutar desaparecem cada vez mais a cada dia que passa.

Ouço os encarregados a conversarem em russo em frente à mesa que reprograma as máquinas que me torturam.

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2018 ⏰

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