VIII

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O movimento das ondas do mar sob seus pés o deixava enjoado, já era o segundo dia no barco e passara metade deles vomitando. Alice também tinha esses mesmos problemas, seus cabelos estavam crescendo de maneira espetacularmente rápida, mesmo assim optara pelo seu velho cabelo curto um pouco acima dos ombros, eles cresciam em suaves caracóis. Deixar o cabelo curto foi bem útil, assim o vomito não grudaria neles. Vitor cortara seus cabelos antes de subir a bordo, o capitão o proibira de ter seus longos cabelos pretos, o que foi bom, já que estava com preguiça de cortar. Morpheu como cabelereiro era um ótimo cavaleiro d'A Ordem e quase deixara Vitor sem pele para cobrir os ossos da cabeça.

O Sol estava próximo de nascer quando Morpheu o gritou da área inferior do barco. O pequeno navio era composto por 3 andares, o mais baixo era um compartimento oco feito de madeira e ferro com agua salgada e gelada que batia até o joelho, isto por que os tripulantes e marinheiros eram Merman's, criaturas meio peixe meio homem, não eram bonitos, mas eram uteis, o segundo era composto pelas cabines onde o grupo e os marujo dormiam e por último o convés, um pátio de uns 30 metros com um mastro alto de carvalho adornado com figuras de peixes em bronze, carregava uma bandeira branca, já meio amarelada nas bordas.

A proa tinha uma carranca em forma de peixe-espada, mesma figura que adornava as bordas do navio, local onde Vitor e Alice reservaram para vomitarem e onde muitos Merman's faziam suas atividades de limpeza.

- Os melhores para conduzir um barco – disse Morpheu ao encontrarem o capitão em sua cabine.

Chamava-se Estarosa, tinha pernas e braços humanos, com músculos saltando da pele escamosa, verde e úmida, sua face não era a mais bonita de se encarar, olhos amarelos que nunca piscavam, uma boca com grossos lábios que e abria e fechava buscando ar, barbatanas enfeitavam o lugar onde devia estar suas orelhas, trajava um sobretudo azul de lã pesada, molhada e desbotada, botas e luvas de couro rachadas graças ao mar e ao sol e uma calça de lã negra, mas nada além disso. Vitor achou aquilo interessante e alterou suas roupas para um sobretudo apenas, deixando o peito coberto com duas faixas de sobra em forma de X.

Vitor caminhou até as escadas, o vento frio do amanhecer beijava sua face e seu peito, fazendo a respiração ficar um pouco mais pesada o queimando por dentro, desceu ouvindo o ranger melancólico dos degraus a cada passo. O corredor que se seguiu era trevas, mas o garoto não precisava se preocupar, já que as sombras o informariam se algo estivesse no caminho, seus instintos sempre gritavam quando entrava em perigo e no escuro era mais ainda. Podia sentir a portas de carvalho polido dos lados, contou nove ao todo até chegar nas ultimas escadas, rangeram tristemente também quando Vitor as desceu.

Tentou caminhar o mais suave possível até sentir a agua gelada molhando seus pés, também reconheceu Morpheu, apoiado em uma parede fumando um cigarro, um pequeno fragmento de luz era gerado pela brasa fazendo com que a fumaça ficasse visível por alguns segundos.

- Está atrasado – disse jogando os últimos restos de cinza na agua – posição... – e Vitor convocou Maria, Nina e Lucia das sombras.

Posicionava-as de maneira que duas o defendiam e uma circulava Morpheu o atacando, uma boa estratégia, já que Maria e Lucia o protegiam de maneira involuntária. Nina atacava ao menor pensamento de Vitor, sem hesitar. No entanto a foice sempre era mais rápida, desviando todos os ataques, formando por um breve momento uma chuva de faíscas que iluminavam o local.

Já estavam ofegantes quando Morpheu, em um rápido movimento, se transportou para as costas do garoto deixando a lamina da foice quase encostada em seu pescoço. Vitor sentia o aço negro gelado em sua garganta, tocando sua pele de maneira que a deixava arrepiada.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now