Eyes.

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Ao adentrar minha residência e presenciar a empregada dando seus últimos ajustes na casa antes de se retirar, vejo o quão silencioso está o local. Ergo uma de minhas mãos em direção a cabeça em sinal de dor, o que fez a empregada se preocupar.

  - Senhor, precisa de algo?- Mesmo baixa e hesitante consigo ouvir sua voz. Poderia falar que aquilo era apenas um mal estar, ou dizer o real motivo da tal dor que me afligia, uma mulher. Nunca soube diferenciar, se todas aquelas noites em que eu passei em branco eram sinais de uma possível sinusite, ou se eram meus olhos reclamando por não a ver.  Talvez a empregada que impaciente pela resposta que ainda não foi dada, pudesse tirar essa angustia e me responder o meu real problema.

- Preciso de uma aspirina apenas, não se preocupe eu mesmo irei pegar já passou do seu horário, está dispensada.- Ainda com a mão em minha testa a massageando, vejo a empregada assentir e ir em passos calmos em direção a porta que estava entre-aberta.

  - Por favor, antes que você vá, me responda algo, alguém telefonou
enquanto eu não estava presente?.- Pergunto ansiando uma resposta positiva.

  - Não, senhor.

E aquilo foi o ápice, vejo ela apagar as luzes antes de se retirar, e em passos largos vou em direção a parede espelhada, me dando total visão das ruas acezas e movimentadas de Nova York. Meus olhos cansados, e castigados por gastar movimentos de pupilas com um outro alguém ao invés de você, começaram a doer. Sinto necessidade de ligar, ligar para ouvir sua voz, para ver se tudo aquilo passava, eu queria certeza, certeza de que você era o único remédio que eu precisaria para melhorar. E eu liguei, e liguei, e liguei, até dar caixa postal.

  - "Deixe seu recado após o sinal"- E por um momento eu queria que o sinal não tocasse, talvez por insegurança ou por não ter o que falar, não me programei para um recado que talvez nem fosse ouvido por você.

  - Anelise, minha cabeça dói e eu não consigo olhar para baixo.- Suspiro hesitante em continuar.

  - Coincidentemente, faz tanto tempo que eu não vejo você e eu não sei se isso é só sinusite ou se são meus olhos reclamando por não te ver.- Pronuncio cada palavra com cautela, como se minha vida dependesse da sua resposta, e dependia.

-E eu queria te ver, a como eu queria te ver.- Sorrio.

  - Pra ver se passa, pra ver se é isso ou se eu tomo um aspirina...

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