Classificação Indicativa: +16
Avisos: Este conto contém Violência explicita.
_______________________________________________________
Ele não tinha nome. Não tinha, não interessava. O musculo do peito subindo e descendo, os ombros largos, os braços de curvas delineadas, as pernas grossas e o quadril rígido. Era um corpo quase perfeito. Quase, havia algo de errado. Carlo molhou as mão no óleo e observou a peça branca, voltou-se para o rapaz deitado na cama e novamente para a peça branca.
Algo estava muito errado.
Quase perfeito, o corpo estava certo, mas o rosto ainda precisava de ajustes. Os cachos do cabelo não foram difíceis, só demorados. O queixo liso e quadrado e as maçãs do rosto estavam acertados. A boca ainda podia melhorar. Molhou outra vez as mãos e as levou aos lábios do garoto.
O rapaz olhava paciente para Carlo. Sua pose não incomodava, não era mais necessário nenhum desconforto. Nas sessões anteriores tinha conseguido esculpir todas as proporções de sua anatomia, faltando só acertar detalhes. Mas o rosto precisava ser feito de uma vez, se esperasse a pedra endureceria e amolecer novamente deformaria todo o trabalho, tornando impossível alcançar o resultado perfeito.
Na verdade, isso poderia acontecer em qualquer parte depois de alcançado um nível de detalhamento, mas o rosto era diferente. O rosto era construído em detalhes, eles davam a forma, a identidade e a vida. Então só precisava que o garoto permanecesse confortavelmente sentado naquela última visita.
"Como está ficando?" O garoto perguntou.
Era um rapaz novo, com talvez pouco menos que 20 anos, Carlo não lembrava mais. Era mais complicado conseguir modelos masculinos. Normalmente as pessoas queriam cobrar para posar e por isso eram o tipo de gente que cobrava por outros serviços. As exceções eram as encomendas do ego, ricos da alta sociedade que queriam imortalizar sua própria imagem. Quando encomendavam figuras indeterminadas, Carlo encontrava com facilidade nos bordéis dos subúrbios. Entretanto aquele rapaz fora diferente.
Haviam se encontrado num leilão de uma de suas peças. Carlo reparou que o rapaz o observava fixamente, acompanhado da família não teve coragem de se aproximar e desviou o olhar assustado quando percebeu que fora descoberto. O filho mais novo de uma família de um lorde, não tinham dinheiro para levar nada do leilão, mas estavam lá marcando a presença. O escultor manteve o contato visual desafiando o garoto com o olhar o resto do evento, mas não seria naquele dia que se falariam.
Mais tarde o rapaz apareceu em sua casa. Uma encomenda. Carlo sorriu e lhe mostrou o estúdio. Ele continuava nervoso quando fecharam o contrato e se despediram, bem como nos outros dias em que voltou para começar o trabalho. Sempre que se despia, o porte aparecia e Carlo dizia que aquilo era completamente normal, mas sabia que eram só palavras e não iam acalmar o garoto. Ainda assim, nada aconteceu em nenhuma das sessões até aquela.
"Não fale." O artista retrucou autoritário.
Passava o polegar pelos lábios de novo e de novo, ainda estava errado. A boca não estava mais no mesmo lugar também, não era mais a mesma. Carlo apertou os olhos buscando enxergar o rosto certo na face imperfeita. Passava o polegar pelos lábios, mas cada vez estava mais errado. Não eram tão finos, não tinham tão pouco volume. Estava tudo errado!
Ele parou e afastou as mãos com asco daquela atrocidade e olhou para o garoto. Voltou para a escultura e desistiu.
"Está bom por hoje, mais tarde termino." Disse pensando como se livraria daquilo.
"Achei que essa era a última sessão."
"E é. Eu chamarei quando estiver pronta para entregar." Ele se levantou colocando a mão na escultura e desviou para se aproximar do rapaz passando descendo a mão até o quadril de argila. Percebendo seu desconforto com a proximidade, perguntou: "Deseja mais alguma coisa?"
O garoto se levantou de repente denunciando o volume na calça e gaguejando alguma coisa, mas Carlo o empurrou contra o sofá para que ele sentasse outra vez. Passou a mão molhada pelo seu rosto fechando seus olhos, sujando-o com o líquido branco, o polegar pelos seus lábios e o garoto gemeu com uma careta ao sentir o gosto frio do material. Vendo-o Carlo entendeu o que estava errado na estátua, ficou atrás do sofá e massageou seus ombros. Não era a boca, eram os olhos.
Sorriu e passou a mão sobre os olhos fechados, mas o garoto gemeu outra vez, agora de dor sentindo o líquido entrar. Tentou se levantar, mas o escultor segurou seu rosto com as mãos firmes. Não era a boca, eram os olhos. Não era o rosto da escultura que estava errada, era o do próprio garoto.
Imperfeito.
O garoto gritou quando os dedos entraram furando seus olhos. Ele se debateu e gritou. Se levantou cego e tentou fugir, mas tropeçou e caiu derrubando a estátua consigo. Carlo pegou o pote de argila, sentou sobre o dorso do rapaz e calmamente começou a cobri-lo com a argila. Passando a massa sobre o rosto imperfeito que chorava. Quando preencheu seus olhos com a argila, ele não mais se incomodava, frio como a argila, finalmente ficava perfeito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dos Contos de Carceri
HorrorUma coletânea de terror pra quem gosta de ler aquele conto de terror numa sexta feira a meia-noite. Boa sorte lendo e muitos pesadelos. Huahuahua Os capítulos em geral devem ser independentes, mas se tiver alguns contínuos, deixo avisado logo no ini...