Corria atrasada pela rua. Merda! Dessa vez Kourtney, minha chefe, me mataria, e meus caros, já estive perto da morte várias vezes. Não era um atraso de meia hora, mas ela sempre exigia que chegássemos antes para revisarmos todo o trabalho. Eu acordei mais tarde que o usual hoje, não levar reclamações da chefona era ótimo, só que passar quase uma madrugada conversando com Vin, era maravilhoso.
Ele fazia meu peito aquecer, assim como o motor de seu carro antes de um racha. Meus dentes ficavam dormentes, os meus pelos arrepiados, as bochechas enrubesciam e caramba... meu peito palpitava como se eu fosse um carburador prestes a estourar numa corrida louca em Tóquio.
Vinie, como o chamava carinhosamente, morava em uma cidade, e eu em outra, um pouco distante. Nos víamos dificilmente. Todavia, nossos encontros conseguiam matar toda a insegurança em meu peito, ele sabe como tratar uma mulher, coloca-la para cima, literalmente. Uma vez que pulamos com o carro de um estacionamento no primeiro andar, ele havia perdido o bilhete.
Enquanto passava por um café, o cheiro de muffins de amora e cappuccino capturaram-me a atenção, a barriga roncou inesperadamente, sem problemas, na cantina do escritório havia sempre alguma gororoba, feita não sei quando, que poderíamos engolir. Arrumei alguns fios soltos enquanto abria a bolsa para trocar os chinelos pelos sapatos de salto, acho um saco ter que usar sapatos assim, mas a sensação de superioridade é incrível.
Faltava apenas um cruzamento, vinte minutos a minha frente e eu torcia para que ele abrisse logo: A dama da sorte mostrou a dentadura. S2 S2 tecnologia. Por encarar demais o sinal, acabei não prestando atenção no carro que vinha do outro lado, escutei uma freada brusca e senti uma pancada na perna. Caí sobre meu braço esquerdo. Por 3 exatos segundos vi minha pasta se transformar em um redemoinho de papéis.
A poc horrorosa nem saiu do carro.
-Tá louca, garota, se jogando assim?
-Quem tá doido é você! O sinal estava vermelho! Vermelho! Você é daltônico ou comprou a carteira de motorista? Não frequentou às aulas? Pedestres têm pri-o-ri-da-de.
Observei o dono da cabeleira loira me olhar com desdém por trás do vidro daquele lindo caro, vermelho e importado carro. Decidi deixar uma lembrança, peguei minhas chaves e fiz um risco por toda a extensão do capô. Saí correndo em disparada temendo que viesse passar o carro por cima de mim e terminar o trabalho.
Entrei ofegante no prédio, minha amiga Tiffany do setor de contabilidade estava me esperando ansiosa.
-Menina, você tá atrasadíssima! Kourtney vai te matar!
-Que me matar o que menino, quase que eu morria, fui atropelada durante a vinda, um louco que comprou a carteira queria passar por cima de mim!
-Logo hoje que você vai apresentar o projeto! Que azar – ela olhou por cima do meu ombro – Eita! Te arruma que o chefe vem aí com o novo presidente.
Dei as costas e quase que caio quando vi que o novo presidente da minha empresa era o cara que quase me atropelo. Joguei minha pasta debaixo da mesa e fiquei lá em baixo.
-Que foi? – perguntou Tiffany. – Tuas próteses são de ferro? Levanta daí, tá todo mundo olhando.
-Não. Espalha uns papéis aí que passarei o resto da reunião aqui em baixo. Menina, o novo presidente foi o cara que quase passou por cima de mim!
Olhei para cima e um par de olhos castanhos acompanhados de uma cabeleira loira me encarava.
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Produções da MostraUPE 2018
RastgeleEsta publicação reúne as produções literárias dos participantes da primeira Mostra Científica da UPE (campus Mata Norte) durante a conclusão do minicurso "Wattpad como recurso midiático na formação de escritores/leitores".