Descer do avião foi estranho, estava em pleno outono Austríaco, essa estação trazia ainda um resquício do verão ameno e um inicio do inverno rigoroso, naquele lugar as pessoas eram mais fechadas e tudo tinha arte, música e história. Graz, no sudeste do país, era uma cidade linda e agora eu só rezava para me adaptar. Suspirei com certa tristeza, para quem nunca havia ido a Europa, eu estava conhecendo meio mundo.
No fundo, eu não sabia como seria recebida pela minha mãe, nos nunca convivemos, mas ela disse que podia vir, então estamos aqui. Liguei para vovó e deixei ela ciente do que havia ocorrido, pulei uns detalhes... lógico, porque não sou louca! E até que ela estava calma, concordou comigo que era melhor eu me afastar e me apoiou, isso me acalmou bastante. Fiz meu primo prometer que ia cuidar dela e que não a deixaria fazer loucuras em minha ausência e o ameacei bem ameaçado, caso isso não se cumprisse. E principalmente, pedi que não houvesse nenhuma palavra para Leônidas.
Dois meses depois...
Agora encarando minha janela e vendo a neve cair, me sinto cuidando de mim mesma. Moro num bairro afastado e super gostoso, é fácil ir de bicicleta para todos os lugares e conhecer pessoas do mundo todo. Quando cheguei achava que estava indo para um lugar de pessoas frias e distantes, agora sei que estava errada. Sorrio de leve me lembrando do Tio Haizeng da Padaria em frente.
Minha mãe tinha uma nova família, isso incluía um marido e um filho de cinco anos. Ela sempre quis ir ver o mundo, então quando ela saiu de casa e se mudou para França, foi um pouco pela necessidade de ajudar a família e também para ser livre. Agora sei que ela aprontou todas até se acertar. Lembro de quando ela levou minha "madrasta" para conhecermos, a mulher era terrível, e durante sua visita me humilhou o quanto pode, e minha vó que a colocou no seu lugar e fez ela me deixar em paz. As duas brigavam muito também, não deu muito certo. Graças a Deus!
Depois de anos minha mãe conheceu Gerard, o atual marido, e agora parece feliz com a nova família. Há um tempo cheguei a pensar que ela havia me substituído, e de certa forma tinha razão. Minha mãe não pode ser minha mãe realmente, fui criada pela minha avó, então Bastitt, meu irmão, era chance dela de ser mãe com a força da palavra e encarar a vida com mais regras. Não que ela não me ame, é só que é difícil, e por mais doloroso que seja eu entendo. Só somos estranhas uma a outra. Eu não cabia naquele espaço, mesmo ela tentando retomar nossa relação, por isso me dediquei ao máximo para morar sozinha nas primeiras semanas da minha chegada aqui na Áustria.
Com três semanas consegui integrar a equipe que administrava os museus das cidade, mesmo minha experiência não sendo nessa área, o meu conhecimento em administração e minha formação como relações internacionais garantiram minha passagem. Agora com um mês se passando já me sinto como da família, aprendi tanta coisa que nem sei.
Suspiro e levanto da cama fazendo um coque frouxo no cabelo.
A quem eu quero enganar???? Estou aqui tentando mostrar para mim mesma que está tudo bem, mas aonde??? Estou igual aquelas mulheres de alta sociedade sonsas falando sobre a vida ou bancando a "Kátia Cega"... A verdade é que estou cansada. Procuro todos os dias uma foto, uma noticia de Leônidas no google. Eu sofro. Eu sinto dor. E todo o momento me recordo de cada coisa, de cada palavra. Veneza parecia perfeita, Veneza era perfeita! Porquê ele foi me trair? Porque ele me enganou ? Droga! Eu o amo! Eu sinto falta daquele homem!
Choro alto. É assim quase todas as manhãs. Levanto, fico pensando que a minha vida está boa, apesar disso, apesar daquilo, mas aí a ficha cai... Porque a falta dele incomoda. Estou vazia. A única coisa que me alimenta é o trabalho e Batistt, só.
LEÔNIDAS
Quando cheguei de Veneza igual a um louco para achar Helena tomei um soco na boca do estômago. Eu queria noticias e as encontrei, havia um email de Helena, mas não para mim, mas para toda a Empresa:
"Queridos,
Os chamo de queridos, pois o são. Cada um de vocês contribuiu para que eu fosse quem sou hoje. Ajudaram a construir essa empresa maravilhosa a qual dedicamos nossa vida. Somos amantes do café, chegamos a casa de cada família todos os dias, pois somos os melhores.
Somos a família Vidal Cofee.
Agora, deixo a Vidal agradecida, mas não a nossa família.Não se preocupem!
Meus trabalhos, projetos e afazares foram repassados a cada interessado, e tudo com cópia ao email da Gerência. Qualquer coisa que os setores precisarem para continuarem seus trabalhos estará disponível.
É uma nova fase meus queridos!
Nos encontramos na vida, e eu queria encontrar a cada um de vocês, meus 738 amigos.
Abraços calorosos,
Helena
Analista Plena da Presidência"
Arremessei meu notebook longe assim que terminei de ler o email, não me dei por satisfeito e pulei em cima dele. Sai chutando tudo o que podia, quebrei mesa, joguei tudo no chão e só parei quando um dos seguranças entrou na minha sala.
_ Senhor?!? - Ele estava assustado.
_ FORAAA!!!- Estava fora de mim.Sentei no chão e chorei. Uma vez ela me disse que a ela trabalhava para 739 funcionários, e me disse que me considerava neste meio. Naquele email ela agradece a 738, não estou mais incluso. Ela me odeia! Eu a perdi.
Agnella invadiu o quarto, falou asneiras, disse que somos noivos... Mas o pior foi o beijo. Foi um selinho, mas foi o suficiente. Não esperava aquele encostar de lábios, estava tão a vontade com meu amigo que fui surpreendido por Agnella, infelizmente pelas câmeras vê-se que é o momento exato que Helena nos vê. Ela nunca iria acreditar nas mentiras contadas a ela se aquele beijo não tivesse acontecido.
Precisava resolver isso. Me levantei e fui na única pessoa que podia me ajudar. Sabia que não seria bem recebido, mas era o jeito.
_ O que faz aqui?- Ela me recebeu com uma colher de pau na mão.
_ Olá! Dona Nadir. Como vai?- Falo tristonho.
_ Não sei onde ela está, pode dar meia volta!- Lá iamos nós.
_ Só vim conversar.- Com ela me sentia próximo a Helena.
_ Hummm! Vocês não tem juízo nenhum. Entra, mas já vai limpando esses sapatos. Acabei de passar pano nessa cozinha!
_ Ela me deixou.- Ela me olhou por cima dos óculos.
_ Não foi à toa... Pelo que sei você a magoou demais, menino. Ela merece, mais._ Foi tudo mentira, Dona Nadir! Eu não trai ela, eu ia pedi-lá em casamento. A quero mais que a minha vida.- Passei as mãos no cabelo.
_ Menino, não sei o que aconteceu entre vocês, mas sei que a minha menina precisa de tempo. Quando ela me ligou o coração estava quebrado, se você a ama de um tempo. Ele é o melhor conselheiro.
_ E se ela não me quiser? - estava inseguro.
_ Se você a ama vai lutar por ela. - E me entregou uma xícara de café com os olhos mais bondosos do mundo.
Dois meses depois....
O vento frio bate no meu rosto, e a neve cai lentamente e molha o meu sobretudo. Entro dentro de uma padaria acolhedora, um senhor risonho me encara.
_ Olá, filho!- Ajeitou a boina e colocou as mãos sobre o balcão.
_ Olá! Um café preto. - Ele riu.
_ Quer creme? Açúcar?- Perguntou enquanto pegava uma xícara florida.
_ Açúcar, duas colheres.- Ele me olhou surpreso.
_ Vai me pedir uma xícara de leite para misturar? - Perguntou._ Na próxima xícara. - Falamos juntos.
_ Como sabia? - Indago curioso ouvindo o sino da porta soar.
_ É que essa menina linda pede igual. - Me viro sorrindo com curiosidade, meu sorriso morre aos poucos, Helena me encara com o casaco parado no ar.
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Helena
AléatoireHelena é uma mulher maravilhosa que ama o que faz. Tem em sua avó sua maior companheira. Seu tamanho 46, seus cabelos cacheados e seu conhecimento de mundo a fizeram uma mulher perspicaz. O problema agora é lidar com seu novo chefe...