O ANTIRROMANCE
BABI BARRETO
Copyright © 2015 Babi Barreto
Capa: Intuição Design – Gisele Souza
Revisão: Carla Santos
Diagramação Digital: Carla Santos
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Lucas Brandt
Estou aqui, sentado no banco da praça, em um domingo, observando dezenas de casais que estão ao meu redor, passeando de mãos dadas e felizes.
Olhei para a minha direita e vi um casal tirando fotos. A mulher, que estava vestida de noiva, era muito feia, inclusive; e o cara, coitado, de terno nesse calor de quarenta graus. Deve estar suando bicas debaixo daquele terno, sorrindo para a sua esposa, e pensando: "Se eu não sorrir o suficiente, estou frito!".
É assim que pensamos. Na briga que teremos que aguentar se não agirmos da forma, politicamente correta, para o sexo feminino.
O mesmo acontece com o casamento. Casamento é um instituto jurídico perfeito. Uma união societária feita para gerar lucros, mas que, na verdade, só gera decréscimo de patrimônio.
Quando casamos, pensamos que seremos parceiros eternos, que uniremos nossas forças para construir um patrimônio sólido, e assim viveremos felizes para sempre.
Pensamos que teremos sexo de graça todos os dias, que nossa querida esposa estará em casa bonita e sorridente nos esperando, e de preferência, "literalmente" pronta para nos receber.
Observação: li algumas partes dos livros eróticos da Gabi, e a mulher está sempre molhada nos esperando. Por que isso não acontece na vida real? Por causa do maldito casamento.
Casamento faz as mulheres pensarem que não precisam mais ir se depilar, que não há motivo para comprar uma lingerie nova, já que nem prestamos atenção, e ainda, que não precisa dar pra gente todo dia. E a nossa fodinha relaxante fica cada dia mais abandonada.
Então, já perdemos uma vez com o decréscimo do nosso patrimônio sexual, já que não temos sexo gratuito no momento desejado. Da mesma forma, teremos uma perda econômica efetiva, que se chama filhos.
Vocês já viram quanto que custa contratar uma babá? E ainda, sabem como está o ensino público em nosso país?
Uma catástrofe! E para sermos pais que deixam seus filhos ao "Deus dará", melhor não gerar esse patrimônio. Por que filho GASTA! Frisem no meu grito ali: GASTA! E muito.
Escola? Quase um salário mínimo no maternal, material escolar, roupa, sapato, brinquedo, comida. Que isso, cara. Um dia, vi no supermercado o valor de uma lata daqueles leites de bebê. Caralho, velho. Aquilo é feito de ouro? E sapato? Parece que os pés dos bebês são como micróbios, desenvolvem da noite para o dia. Tudo de criança é caro. Mas para chegar nelas, você tem que efetivamente casar. E que mulher hoje aceita se casar sem ser com festa?
Meu irmão casou no mês passado. Quarenta mil reais em uma festa de casamento e, diga-se de passagem, muito simples. Tudo para realizar o tal "sonho de princesa".
Isso é imediata declaração de insolvência Não dá! Pra mim, casamento é só uma coisa que criaram para as empresas de buffet ganharem dinheiro e para as mulheres viverem frustradas por toda a vida, esperando o seu príncipe encantado.
Ah! E tem essa também. As mulheres ficam sonhando com um cara malhado, sarado, todo gostosão, cavalheiro, gentil, que abre a porta do carro para elas entrarem. Elas não ouviram falar do índice de assaltos à mão armada, não? Não dá pra ficar abrindo porta pra ninguém não, gente.
E outra. Tenho 32 anos, sou barrigudinho, gosto de tomar um chope as sextas, à noite, depois do trabalho, e não abro mão da minha liberdade. Pra que casar, então? Pensem bem! Se casamento fosse bom, não sobraria para os pobres.
Eu vou deixar de comer quem eu quiser, com variedade, na hora que eu quiser, para me prender a uma mulher que vai ficar me enchendo a paciência porque deixei a toalha molhada em cima da cama?
— Ai, Lucas. Que bom que te encontrei. Precisamos conversar urgente. — Achei que a Gabriela não me encontraria aqui. Não é possível nem ter um momento de paz para criticar o mundo!
— Eu estou grávida! — E agora, sim, o meu mundo caiu. Todas as coisas que eu achava errado em um casamento aconteceram antes que eu me casasse.
AGORA, FERROU!
***
Gabriela Nunes
Engraçado. O Lucas me disse a vida toda que não se casaria, e me repetiu os vários motivos econômicos que fariam uma relação dar errado. Como vocês viram, ele é economista e advogado.
Sua inteligência foi o que me cativou a continuar namorando com ele, mesmo com seus conceitos antirromance. Mas o nosso filho foi o que nos uniu.
Artur era lindo, e o sonho da vida do papai babão. Mas o que ele achava que seria ruim no casamento, acabou se acostumando. Eu, por outro lado, tenho sentido que realmente o casamento não era para mim, e estou começando a concordar com o Lucas quando diz que essa é uma instituição fadada ao insucesso.
Sabe aquele dia que você chegou morta de cansada do trabalho e só quer ficar quieta na cama lendo um livro? Pois é. Nesse dia, seu querido e amado marido vai gritar:
— Benhê, faz um macarrão?
E o seu ódio por aquele ser que só engorda na barriga, aumenta dia após dia.
E no outro dia, tudo que você quer é dormir, e vem aquela mão cheia de dedos para cima de você tentando, fracassadamente, causar alguma excitação.
E o pior! Quando você se arruma toda para o dia do aniversário de relacionamento de vocês, ele chega do trabalho, e diz:
— Nossa, amor, não lembrava que era hoje. E estou morto de cansaço.
Ou, então, você está se distraindo no celular jogando Candy Crush e vê seu filho com a mão toda melecada de manteiga. Vai até o banheiro limpá-lo e descobre que o seu digníssimo marido dormiu com o bebê, e ele levantou e espalhou a manteiga que o pai deixou do lado da televisão em toda a minha colcha!
Para que eu fui me casar, meu Deus?
É o famoso ditado da piscina gelada. Todos que estão dentro sabem que a água está gelada, mas estão lá se fazendo de felizes e chamando os bobos que estão fora para entrar.
Mas é melhor estar casado do que morrer queimado. Certo? Eu só me pergunto: Onde está o lado bom de ser casada?
O lado bom de estar casada é ter um companheiro, mesmo que seja para te fazer sentir raiva. O amor nos mantém unidos, e o ódio tenta nos separar. Mas não abro mão da raiva que o Lucas me faz sentir por nada nesse mundo!
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O antirromance
RomanceO que você considera ser o lado bom do casamento? E se o casamento não tivesse nada de bom para esse casal, então o que os uniria?