Luz E Escuridão

#1

Oque será que acontece se eu me jogar de um carro em movimento a cem por hora? Sei muito bem que isso não é um pensamento muito saudável, mas é oque menos me parece idiota nesse momento.
Eu já sabia que uma hora ia ter que enfrentar o fato de ter que sair de Eden Praire - Minnesota por conta dos estudos ou emprego. Mas não cheguei a pensar a fundo nisso, oque agora me deixa apavorada, não passava de algo que na minha mente estava longe de acontecer.
O fato de estar me mudando de cidade não me deixa nervosa, mas sim porque vou ficar longe da minha zona de conforto, certo que nunca me senti confortável em lugar algum entre as outras 5 cidades em que vivi, mas Eden Praire é de longe uma das piores. Apesar do frio com graus a baixo de 0, é aconchegante e acolhedor de se morar.
Os empregos são ótimos e as escolas são boas, o ruim mesmo é você conseguir entrar neles sem ter alguém que possa burlar o sistema por você.
Eu tinha exatamente duas opções; 1- ir morar com meu pai em Berllevue - Washington ou; 2- terminar a escola em outra cidade com mais chances de um possível emprego estável. Bom, e aqui estou no carro com minha mãe ao som de Somebody That I Used To Know em direção a Overland - Kansas. O lugar que, pelas minhas pesquisas, tem um ótimo custo de vida e escolas muito boas e uma monotonia capaz de matar alguém de tédio.
Meu destino? Highland School, famosa por estar entre as 10 escolas internas mais bem faladas dos EUA, e agora minha prisão em uma cidade desconhecida.
-Vai ficar calada a viagem inteira?- mamãe me olha de solaio com as mãos firmes no volante. Ela sabe que não estou nem um pouco afim de me mudar, mas mesmo assim me fez vir.
-Ah, eu só não tenho oque falar. Faz-se um breve momento de silêncio total no carro, ela estava tentando encaixar palavras em uma frase que me fizesse refletir durante a minha vida toda, é bem a cara dela.
-Dess...Essa é a sua primeira oportunidade de conhecer oque realmente quer fazer. Sei que pode estar sendo assustador agora, mas no futuro você vai entender oque estou te dizendo.-Sua expressão passa de um rosto suave para uma face rígida. -E também sei que oque menos quer é ter que morar com seu pai. Depois de tudo que aconteceu, aquela cidade pode ser um bom lar e seu pior pesadelo ao mesmo tempo. Aproveite o tempo que ainda tem no colegial, faça novos amigos, crie novos objetivos, você tem muito pela frente e não quero que seu...nosso passado atrapalhe isso. Estamos de acordo?
-Sim, mamãe.
Sinceramente, já tinha se passado em minha cabeça a possibilidade de voltar para Bellevue e viver com meu pai e por um breve segundo, até cheguei a achar que poderia dar certo. Mas minhas lembranças me fizeram voltar a realidade de que isso nunca mais daria certo, não depois do que papai fez. Ele tinha exatamente as duas opções; 1 deixar Bellevue e vir embora comigo e com mamãe 2 ficar lá, porém, minha mãe não poderia ficar. E bom, a segunda opção lhe pareceu mais convicta de se seguir.
É estranho mamãe não ter ficado chateada, ela lidou bem até demais com a situação, apenas pegou suas coisas e nem me deu a famosa opção de ficar com o pai ou com a mãe.
Achei que um fosse abrir um processo contra o outro pela minha guarda, mas não aconteceu. Meu pai simplesmente me deixou vir, sem mais nem menos. Eu não sei exatamente se guardo rancor ou tristeza, talvez um pouco dos dois. Ele me liga durante datas comemorativas, diz algumas palavras e nada mais. Nem uma visita, nenhuma carta ou um presente no meu aniversário. É como se ele fosse um parente distante da família que só manda lembranças para não ser esquecido de vez.
Minha mãe realmente não poderia continuar lá depois das ameaças que recebeu, que pelo oque ela me diz, foi um amigo distante cobrando por algo que não poderia ser pago. Não sou burra, sei que não se trata de dinheiro pois poderíamos pagar alguma contia.
Passamos por cinco cidades em dois meses. Tudo porque mamãe achou que seríamos seguidas por alguém, oque me pareceu muito sério por ela passar noites em claro. Eu não me sentia confortável e muito menos feliz com aquilo, não por mim ou por papai, mas pela mamãe que, por mais que não demonstrasse eu sabia que também não estava bem.
Então passamos pela placa de "bem vindos a Overland." E senti como se alguém estivesse me sufocando, a sensação de estar perto do lugar onde ficaria por dois anos longe de tudo, não era bom. Mamãe me olhou de relance por cima do ombro e percebeu que eu estava pálida o suficiente pra ser confundida com um palmito.
-Querida, vai ficar tudo bem. Você vai se sair bem, eu tenho certeza.
Eu estou tentando parecer normal e confiante pra não deixá-la assustada, mas parece que nada vai mudar o fato de eu ter que ficar lá querendo ou não.
E a alguns quilômetros já estava a tão famosa Highland School com seu logotipo chamativo e um campus relativamente enorme, que, por incrível e estranho que pareça estava vazio em um dia de segunda-feira.
Estava tão perdida em meus devaneios que nem vi o carro parar e mamãe manter seus olhos ansiosos sobre mim.
-Então, acho que essa é a parte em que eu choro e você me dá um abraço de despedida com uma frase super motivadora de como isso vai me ajudar em tudo?
Mamãe sorri. -Foi assim que imaginou?Querida isso não é um adeus, mas sim, um breve espaço de tempo em que vamos ficar separadas por um motivo bom e você sabe disso.
-Okay, okay! Já entendi que nada que eu diga faça com que você dê meia volta com o carro e nos leve para casa.
Abri a porta do carro e sai pegando minha mochila enquanto mamãe pegava a outra no porta malas.
Paramos em frente ao carro e a observei, cada detalhe, mamãe é linda com seus cabelos longos e ruivos e olhos cor de mel.
Me entrego ao seu abraço apertado e ela me conforta com um beijo na testa.
-Você vai se sair bem. Lembre-se sempre que te amo mais do que tudo nesse mundo, meu anjo.
-Eu também te amo mamãe.
Pego as mochilas e começo a andar pelo enorme campus da Highland School enquanto ela me observa sentada no capô do carro com um olhar singelo.