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Minha postura diante do ocorrido foi recuar imediatamente o corpo para trás, por mais que não estivesse  com Bernardo não achava certo beijar outro rapaz, o meu coração pertencia a Bernardo.

Lyam  parecia não se importar  com minha recusa:

_ Desculpa. 

_Não há necessidade de pedir desculpas, alias eu quem o deveria pedir. Posso te dar um conselho Guilherme?

_ Sim. 

_ Perdoa o seu marido, é visível que você é completamente apaixonado por ele, e por tudo o que você me disse é correspondido, não permita que um deslize estrague a vida de vocês, eu devo imaginar o quanto isso te magoou, mas o orgulho é um veneno tanto quanto o ciumes. 

_ Eu sei que você tem razão, mas eu não me sinto preparado para perdoar, não nesse momento. 

_ Guilherme, a vida é uma só, cada minuto que passa, é um minuto perdido.

Ficamos ainda um bom tempo conversando sobre isso até que eu lhe perguntei:

_ A quanto tempo é psicólogo?

_ Eu não sou...desculpa ter mentido - ele sorria tímido _ Desculpa ter mentido para você, é mais fácil e causa mais credibilidade você  desabafar com um psicólogo do que com um estranho.

Acabei por rir:

_ O que faz então?

_ Sou o presidente da República. 

_ Claro, e eu sou o Papa. 

_ Eu sou vendedor em uma loja de roupas. 

Ficamos ainda conversando e as horas passaram rápido e já era hora de buscar os meninos na escola, troquei o número de celular com Lyam me despedindo dele prometendo manter contato.

Como combinado Bernardo não estava lá, a professora me avisou que Samuel pediu desculpas para Bruno o que me fez sorrir, a conversa que Bernardo e eu tivemos com ele havia resultado positivamente, era sinal que nós dois fizemos um bom trabalho. 

Já estávamos saindo quando Samuel me perguntou:

_ O papai veio nos buscar também?

_ Não filho, o pai de vocês tem os compromissos dele para cumprir, vocês não tem que vir para a escola aprender?

Os dois responderam afirmativamente:

_ Então, o papai tem que ir trabalhar, para ganhar dinheiro. Querem um sorvete?

Dizia para animá-los ao ver a expressão tristinha que ambos faziam: 

_ O papai vai jantar lá em casa?

Daniel perguntou com o tom quase inaudível:

_ Vocês querem que o pai de vocês vá jantar lá em casa?

Novamente recebi uma resposta afirmativa, eu me forcei a sorrir para eles:

_ Tenho certeza de que ele não se negará a ir. Vocês me ajudam a preparar o jantar hoje?

A alegria que vi nos olhinhos deles era a minha grande satisfação, eu devia pensar neles primeiro antes de pensar em mim. 

Liguei para Bernardo que atendeu no segundo toque:

_ Alô Gui....

_ Oi Bernardo, os meninos querem que você vá jantar hoje lá em casa, você está disponível?

_ Claro, claro que sim, você quer que eu leve alguma coisa, um vinho, quem sabe? 

_ Bernardo, você vem para jantar com os meninos, isso não tem nada a ver com a gente. 

_ Você está tão magoado assim Gui... que não pode receber um agrado meu?

_Tudo bem Bernardo, pode trazer o vinho. 

Animados os meninos me ajudavam a fazer o jantar Samuel e Daniel  me indagava o por que a cebola ardia tanto, e nos faziam chorar.
Dei risada tentando explicar a eles: 

_ Dentro da cebola, existe uma substância chamada enxofre, que é responsável pelo cheiro da cebola, quando passamos a faca ao feri-la  são liberados um gases que chegam aos nossos olhos fazendo-os arder:

_ Gases igual pum?

Samuel curioso me olhava causando risada em Daniel:

_ Mais ou menos Samuel, o pum é os gases que ficam preso e precisam ser liberados, assim como liberamos os gases da cebola em contato com a faca. 

_ Só que o pum não nos fazem chorar né papai?

Daniel completou o raciocínio: 

_ Vocês são muito inteligentes. 

Terminamos o jantar e eu anunciei:

_ Agora os dois vão subir, tomar um banho, se arrumar para esperar o pai de vocês, que já devem está chegando.

Os meninos correram para seus quarto e eu sorri, eles eram crianças saudáveis e bastante curiosos natural para seus oito anos. Fui atender a porta quando a campainha tocou, respirei fundo antes de abri-la já tendo noção de quem eu iria encontrar:

_ Oi.

_ Oi!

Ficou aquele momento de silêncio que foi rompido por mim.

_ Entra, fica a vontade, os meninos estão terminando de se arrumar.

_ Obrigado por me convidar. 

_ O convite partiu deles, eles fizeram questão de me ajudar a preparar o jantar para você, então por favor elogie, eles se esforçaram muito. 

_ Pode deixar... isso é para você.

Ele me estendeu o vinho.

_ Obrigado, senta. Eu convidei a Lana para jantar conosco, mas ela disse que tinha outro compromisso.   

 _ Você não acredita nisso pelo visto?

_ Não! Eu acho que ela fez isso para que ficássemos em família. 

_ Ainda bem que ainda nos ver como uma família. 

_ O fato de não estarmos juntos não te exclui da nossa família Bê..rnardo, você sempre será o pai dos meninos. 

_ Então hoje, você só me vê como o pai dos meninos?

Não tive a chance de responder pois o barulho que vinha no andar de cima indicava que os meninos já desciam para nos encontrar:

_ Paiiiiiiiieee!

Daniel corria na frente, mas logo atrás Samuel tentava alcançá-lo para ser o primeiro a receber o abraço de Bernardo. 

Ele ergueu a ambos nos braços, colocando um em cada perna ao sentar-se sobre o sofá:

_ Quem vai ser o primeiro a falar como foi a aula hoje... Daniel?

O menino começou a relatar como havia sido a aula, o jogo de futebol quando a professora levou a sala dele para a quadra, que ele havia feito um golaço etc... etc... e tal.
Depois foi a vez de Samuel dizer, ele começou anunciando:

_ Eu pedi desculpa para o Bruno pai como o senhor disse que eu deveria fazer.

_ Aéh filho, estou orgulhoso de você, você fez o certo.

_ É agora ele e eu somos amigos. Nós dois fizemos a lição juntos, brincamos no recreio, e ele disse que nunca beijou ninguém. 

_ Deve ser verdade filho, ele é muito novinho para ter beijado alguém né...? 

_ Ele disse que quando der o primeiro beijo dele, ele vai ser grande e vai ser comigo. 

Bernardo engasgou, tentando adequar ao que ouvia ao atordoamento que sentia em ter que explicar a Samuel:

_ Filho, o primeiro beijo de uma pessoa, é algo  que ficará marcado para sempre em nossas lembranças, por isso tem que ser no momento certo, você ainda é muito  novinho para pensar em beijos. 

Eu admirava a forma como Bernardo sabia explicar essas coisas para os meninos e eles o entendiam. 


Em busca de redençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora