Segundo Capítulo

4.8K 400 53
                                    

— Jasmim, devido à grave crise financeira que estamos passando, foi necessário vender todas as empresas para um grupo alemão. — Sr. Alfredo estava devastado, nunca imaginou que teria que vender todos os estabelecimentos que lutou tantos anos para construir.

— Meu Deus! — exclamou ela perplexa.

Tinha conhecimento de que a empresa estava passando por problemas financeiros, e que era uma situação complicada para reverter, mas nunca imaginou que chegaria a ponto de vender.

Jasmim trabalhava na área administrativa da fábrica Ferraço há dois anos, desde que se formou em administração de empresas. Vinda de uma família com poucos recursos... Sofreu muito na infância com um pai alcoólatra que agredia fisicamente e verbalmente a esposa e a filha.

Sempre foi uma menina meiga e muito quieta, sentia-se muito triste por tudo que sofria com seu pai, e por presenciar a mãe ser tão humilhada constantemente sem ter feito nada para merecer. Mas mesmo com todo sofrimento, acreditava que aquele pesadelo teria um fim... E teve, pois sua mãe cansada de tudo e depois de descobrir sobre a agressão que a filha tinha sofrido do covarde que não podia nem ser chamada de pai, resolveu fugir com a roupa do corpo e os documentos a levando junto.

Marta, mãe de Jasmim, conseguiu com muito custo arrumar dinheiro emprestado com a patroa onde fazia faxinas semanalmente, e foram para a casa da avó materna em uma cidade no interior de Minas Gerais. Jasmim ficou em Minas até completar 18 anos e rumou para outra cidade quando conquistou através de muito estudo e dedicação, uma vaga no curso de administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Depois de fugir do pai, ficará sabendo que o mesmo já tinha colocado outra mulher dentro da casa, mas o único sentimento que conseguia ter era de pena da fulana. Sabia bem que o seu "pai" não valia nada, era um homem completamente louco e sem sentimentos.

Mudou para o Rio de Janeiro, onde conseguiu um emprego de recepcionista em um hospital particular no período da noite, para pagar o aluguel do cômodo em que vivia, e na parte da tarde, frequentava as aulas na universidade.

Sua mãe preferiu ficar em Minas, tinha conseguido um emprego fixo, e poderia ajudá-la financeiramente com as despesas.

Lutou muito até chegar onde estava. Passava horas e mais horas estudando, não era nenhum gênio, mas sua força de vontade em aprender e orgulhar a mãe e a avó era enorme, por isso sempre se dedicava ao máximo.

Sofreu racismo na universidade por parte de alguns alunos esnobes e professores também. Não conseguia entender o motivo de a cor da sua pele causar tanta repulsa e olhares desdenhosos de algumas pessoas. Era triste saber que existiam seres tão desprovidos de inteligência e amor ao próximo.

Tinha uma melhor amiga que se chamava Pérola e cursava Enfermagem, se conheceram na lanchonete da Universidade, quando Jasmim fechou a porta do banheiro feminino apertando a mão da desconhecida.

— Aiii! — a mulher gritou desesperada.

— Meu Deus! — Jasmim ficou horrorizada quando abriu a porta e viu a palma da mão avermelhada da desconhecida. — Me desculpe, eu sou uma desastrada mesmo.

— Está tudo bem. — sorriu timidamente para disfarçar a dor que sentia. — Só não terei condições de copiar e movimentar a mão por esse mês.

Jasmim soltou uma gargalhada, percebendo que mesmo sendo um pouco tímida era bem engraçada.

— Me chamo Jasmim, mas pode me chamar de Jas, e você? — estendeu a mão para cumprimentá-la.

Ela era negra, olhos escuros e cabelos bem lisos escorridos com chapinha, possuía traços bem bonitos e chamativos.

— Prazer, sou Pérola! Mas pode me chamar de pretinha, apelido dado pelos meus irmãos. — deu de ombros estendendo a mão para cumprimentá-la. — Aiiiii! — gritou de dor quando Jasmim apertou sua mão machucada.

Quero Te Amar Sem Medo - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora