Eyelids • Vhope

Say good night

Toda vez que você passa a noite aqui é a mesma coisa.

Você dorme como se nada no mundo fosse estragar seu sono. E, no seu caso, acho que essa é a mais pura verdade. Você não tem medo das noites como eu, Hoseok. Mas eu o encaro, o meu medo. Eu o encaro por você. Por nós.

É ridículo, eu sei. Toda vez que começo a pegar no sono algo dentro de mim me desperta. Acho que meu corpo sabe que, no momento em que minha mente desligar, estarei um pouco mais distante de você, mesmo que estejamos tão agarrados um ao outro que não sei onde termina Taehyung e onde começa Hoseok.

Gosto de te sentir dormindo ao meu lado. Tão tranquilo, tão alheio aos meus receios ridículos. De manhã, quando você acordar de uma noite bem descansada , eu provavelmente terei virado a noite acordado, me concentrando apenas na sua respiração em meu pescoço, no seu peito que sobe e desce em um ritmo que me acalma. Quando você acordar, sua mão ainda estará dentro da minha, pois não ousei me mexer a noite inteira.

O tempo sempre passa rápido demais. Uma noite inteira nunca é o suficiente pra saciar a saudade que eu sinto de você assim, dormindo nos meus braços. Não é como se, antes de tudo isso, você dormisse aqui sempre, mas pelo menos eu te via todos os dias. Agora você estuda em outra cidade, com outros amigos e com outras preocupações.

Eu tenho ciúmes dos seus novos amigos, mas não é algo possessivo. É inveja. Eles podem sair com você depois da faculdade, jogar conversa fora ou ficar simplesmente fazendo nada. Tenho inveja até dos estranhos que pegam o mesmo ônibus que você todas as manhãs, pois podem contemplar seu rosto no auge da sonolência, já que em dias de semana você só desperta realmente depois de um grande copo de café.

Meus olhos já estão pesados e o seu cheiro é inebriante. Você se contorce um pouco e eu o puxo mais pra mim, afundando mais o seu rosto entre meu ombro e o pescoço, enquanto você enrosca seus pés nos meus e leva uma mão até a minha nuca.

— Vai dormir, Taetae...

Sua voz rouca desse jeito me causa arrepios. Você sabe, é claro, que sempre me recuso a dormir quando você está aqui. Seus dedos começam afagar meu cabelo e eu finalmente me deixo levar, cedendo ao sono e ao seu carinho.

Quando eu acordo, o outro lado da cama já está frio. Estico meus dedos no escuro a sua procura, mas acho que você já foi embora. É por isso que preciso acordar primeiro: você sempre fica com pena de me acordar e vai embora sem fazer o menor barulho. Sei que acha que me dar um beijo na testa e sussurrar "bom dia" é a coisa certa a se fazer, mas eu não gosto.

Essas são as manhãs mais vazias. Quando você vai embora.

Abraço o travesseiro, tentando voltar a dormir com o seu cheiro ainda impregnado nele. Sei que estou sendo dramático, mas o cansaço e a saudade me deixam assim, carente de você. Quando te ouço saindo do banheiro, um chama se aquece no meu peito: você ainda está aqui.

No entanto, essa chama logo se apaga. Você precisa ir embora de um jeito ou de outro.

— Hobi...? — eu o chamo, pois talvez eu ainda esteja sonhando.

— Bom dia, Taetae — sinto a cama se inclinar um pouco e os seus lábios no meu cabelo. — Já estou indo, ok? Eu te ligo quando chegar lá.

— Fica aqui comigo — tateio no escuro até achar o seu braço e seguro a manga da sua camisa, apenas o suficiente para que não se afaste.

— Você me pede isso toda vez, Taehyung...

Mesmo no escuro, sei que está sorrindo pra mim. Você se senta na beira da cama e afaga a minha orelha; desse jeito vou acabar dormindo de novo, então me ergo preguiçosamente e o abraço de uma vez.

— Eu amo você...

— Eu também amo você — e então você beija meu olho, mas acho que sua intenção era acertar minha boca, já que agora está rindo. Beijo seu queixo, pois também não te enxergo pra ter um alvo específico.

— Vai logo antes que perca o trem — eu te empurro e volto a abraçar o travesseiro.

Você beija meu cabelo de novo e finalmente vai embora. Respiro fundo e finalmente tento dormir por vontade própria, pois sei que o que irá me acordar depois será a sua ligação, e já mal posso esperar pra ouvir sua voz de novo.