Never Be The Same

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Não sei como será a recepção desse devaneio confuso que surgiu de uma frustração musical, apenas... espero passar algum tipo de sentimento para seja lá quem estiver lendo isso porque - naqueles tempos - eu senti. Agradeço se puder ouvir Never Be The Same quando aparecer por aí. Essa apresentação presente na mídia (que não existe mais por queeeeeeê??) corresponde à uma parte do enredo.

[•••]


Já não era mais a mesma... nem queria ser.

Arriscava dedilhados enquanto riscava na janela uma chuva à prova do passar do tempo; me fazia crer, irônica, que uma boa música poderia trazer o sol de volta. Mas havia um entalo, algo de amargo que distorcia dós e rés em meus ouvidos.

Eu gostava do aroma molhado, dos pingos pingando seu som, e caíam desleixados me tirando do eixo. Estavam lá, notoriamente fracos na queda; diziam não incomodar, mas os mais frágeis soavam como os responsáveis pelas minhas frustrações de vida naquele momento. Então, cheguei a conclusão de que eu estava furiosa. Não com pingos; com algo mais, com desespero, entalo... amargo. Gênese incerta na certa.

Se alguém ousasse aparecer à porta do quarto agora, poderia ver meu rosto sereno e concentrado nas cordas do violão. Não ousem, esse é só o semblante de quem emaranhou as cordas da história e, atônita com o quão violento é tentar desdobrar uns acordes, olhou os dedos violetas de tanto pressionar sem expressar dor alguma... Apenas sintomas de quem perdeu a noção dos próprios porquês.

E eu continuava encarando aquelas estúpidas cordas, as culpando por tornar a chuva uma tempestade dentro da mente. Também olhava os riscos na janela, incessantes, irritantes.

Quatro acordes... Eram apenas quatro. difíceis. acordes.

Chovia agora, também, no meu rosto. Eu chorava, simplesmente cedendo a tudo que eu estava sentindo.

Cansada de tantos pensamentos em poucos minutos, larguei o instrumento e afundei-me na cama repleta de estrelas em retalhos. Estava imersa numa via láctea de lembranças de uma vida que não era minha, querendo tocar uma música que eu não sabia se existia... o que estava acontecendo?

Aquela melodia interior, sinal qualquer de loucura em vão, sem saber como tocar, quase um borrão despois da marca das borrachas. Eu pensava em tudo, embora não estivesse pensando realmente em nada. Sentia a mente vazia e branca como o céu lá fora. Eu poderia guardar todas as caixas espalhadas pela casa, ou quem sabe procurar outra melodia... mas não conseguia me mexer. Ansiedade era uma boa palavra para o momento.

Afinal, me perguntei finalmente, o que havia acontecido comigo?

[...]

- Vocês estão prontos?! - fiz a pergunta a todos. A mesma que fiz singularmente a mim mesma em frente ao espelho mil vezes aquela manhã e antes de subir ao palco. Claro, era uma pergunta retórica, ao menos para todos na grande multidão.

- Essa é uma nova música... que fiz quando me apaixonei profundamente. Eu sabia que seria difícil me recuperar de tudo, mas se pudesse... faria tudo de novo. Chama-se Never Be The Same - confessei.

[...]

Era como flores no jardim, o seu perfume embriagador. Alucinava, era como nicotina. Enquanto ela me amava em segredo, deitando-me naquela cama, estava tudo escuro, mas eu via os pingos de chuva sorrateiros através das sombras nas paredes que entravam pela janela aberta. Nem se falava nas estrelas, já que estavam acima de nossas cabeças.

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