Capítulo Quatro - Parte 03

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Ela percebeu o nível de irritação e resolveu se calar. Vi­rou-se para a janela. Anahí se perguntou se Alfonso seria um homem genuinamente bom ou apenas um tolo ingênuo como sua irmã dissera, ou coisa pior. Como ele mesmo disse, Pâmela não sabia nada sobre sua vida privada. Ele poderia muito bem ser um assassino serial.

Anahí estava quase deixando o carro para sair na chuva quando viram um relâmpago seguido de um trovão, bem perto do carro, e a gatinha tremeu e miou. Não. Não poderia fazer isso. Pebbles morreria, e ela não aguentaria viver com essa culpa.

Alfonso estava falando com Daniel ao telefone, contando que lona estava em segurança e que falaria com ele no dia seguinte. Ela recebeu um pedido de desculpas de Daniel, tam­bém, antes que Alfonso desligasse o celular; e talvez fosse aquilo ou apenas pelo fato de Pebbles estar chorando agora, então ela resolveu ceder.

— Está bem — ela disse friamente. — Mas só por causa da gata. Vou deixar que me leve de volta para poder secá-la e alimentá-la, depois vou me trocar e querer saber exata­mente o que esta acontecendo. Só então vou decidir o que faço.

— Está bem — ele disse, aliviado.

***

— Por onde quer que eu comece?

Ela olhou desconfiada, sem saber se poderia acreditar em qualquer coisa que viesse daqueles lábios lindos e mentiro­sos, mas ele havia deixado o portão aberto, mostrou onde ficava o painel de controle e revelou o segredo, caso Anahí encontrasse o portão fechado.

Também lhe deu a chave da porta da frente e da porta la­teral, o código do alarme, e algum dinheiro, cerca de duzentas libras esterlinas, tudo o que tinha no bolso, segundo ele. E mais um cartão de débito e a senha.

Sério? Era tão confiável assim? Ela não seria tanto. Tal­vez a irmã estivesse certa sobre ele. Ou talvez fosse por­que mesmo que ela saísse gastando loucamente com seu cartão, não seria um prejuízo tão grande quanto faria no seu empreendimento hoteleiro, atrasando a reforma. En­tão, ele queria diminuir os prejuízos ou estava sendo mes­mo decente?

Ele a instalou no quarto de hóspedes, e quando ela saiu do chuveiro Alfonso já havia envolvido a gata numa toalha quente e a alimentado. E também tirara as roupas dela das sacolas.

— Suas roupas estão todas molhadas — ele disse.

Alfonso saiu e voltou logo depois com uma calça de moletom, uma camiseta e um grande roupão atoalhado e fofo que ela logo vestiu. Tudo era grande demais, mas Anahí não se impor­tava; estava aquecida, a gatinha dormia em seu colo e suas roupas estavam sendo lavadas na máquina, enquanto espera­va que ele começasse a falar.

Alfonso usava um jeans desbotado e uma blusa de malha, e Anahí deduziu que ele tivesse tomado um banho enquanto ela se vestia. Os pés estavam aquecidos com grossas meias es­portivas que ele apoiou sobre a mesa de centro.

— Comece desde o início, Alfonso. Desde quando você se deu conta de que eu estava morando lá e resolveu executar seu plano.

— Não foi um plano.

— Chamaria de que, então? Ah, sim, eu me lembro, "re­solver um problema". — ela disse. — Acho que foram essas as suas palavras.

Ele praguejou baixinho e passou as mãos pelo cabelo, sa­cudindo os fios molhados e depois tirando o cabelo da testa para que ela pudesse ver melhor seus olhos.

— Já tinham se passado cerca de 15 dias desde que fina­lizamos...

— Finalizaram?

— Sim, o que você pensou? Que estávamos apenas jogan­do dinheiro fora e tornando sua vida insuportável? É claro que terminamos. Terminamos um dia antes de George morrer. Tínhamos feito um acordo, segundo o qual ele poderia ficar por lá por até um mês após a conclusão para lhe dar tempo de pagar as dívidas e encontrar um lugar para morar. Mas, para ser sincero, acho que ele percebeu que estava morrendo e queria receber o dinheiro antes, então a venda não foi con­cluída, por isso nos deixou correr com a obra.

— Então, George morreu antes que pudesse fazer qual­quer coisa com o dinheiro. — Anahí afundou no sofá, en­quanto pensava. — Mas se você pagou, onde está o dinhei­ro? Com Rafael?

— Acho que não. O escritório não vai liberar até que o testamento seja validado. Havia uma pequena quantia reti­da que seria paga quando a propriedade fosse entregue totalmente desocupada. Esse valor ainda não foi pago por­que, claro, o imóvel não foi inteiramente desocupado até hoje.

— Até que você bolou um plano para me tirar de lá.

— Eu não bolei plano nenhum, isso é mentira. Eu fiz, sim, mas não por aquela razão.

— E por que foi?

— Porque era perigoso demais! Eu não dormi na noite passada preocupado com você naquele lugar, com o teto caindo, e quando voltei esta manhã, a parte sobre a escada havia caído também. O telhado está em péssimo estado, Anahí. Você viu uma parte dele voar durante a tempestade. Assim como a cobertura está podre, as vigas devem estar também. É uma questão de tempo, tudo vai desabar. E você precisa pensar na criança que está esperando.

Instintivamente, Anahí abarcou a barriga pensando na filha. Ele tinha razão, era muito perigoso. Na noite passada, quan­do o teto caiu, ela se assustou, e estava no banheiro quando aconteceu uma semana antes. Todas as suas roupas foram destruídas, o colchão ficou encharcado e coberto de gesso, tudo ficou estragado. Se ela estivesse na cama... Anahí tremeu só de pensar.

— Você está bem? Está aquecida?

— Sim.

Após uma longa pausa, ele falou de novo:

— Anahí, eu quis tirá-la de lá com a melhor das intenções, e se nos convém que você saia de lá, isso é apenas um bônus. Se fosse seguro lá, eu teria deixado você ficar, se era isso que queria, e depois a levaria para conversar com nossos advoga­dos para resolver sua reivindicação.

— Pois assim poderá resolver o problema e se livrar de mim o mais rápido possível?

— Porque eu não quero que seja enganada por um homem que nunca veio visitar o pai, só quando soube que ele estava morrendo.

Será que podia acreditar nele?

Ele parecia bem revoltado. Ela não tinha muita escolha, pensou. Não tinha onde mo­rar, não tinha dinheiro e estava prestes a se tornar mãe. Não possuía um leque de opções, digamos assim, e estava cansa­da de lutar.

— Sabe, se eu soubesse que vocês tinham terminado e que eu não poderia reverter a situação, não teria passado tan­to tempo naquele lugar horroroso. Achei que estava tudo suspenso por causa do testamento. Então, por que não me despejaram de lá, simplesmente?

E, para sua surpresa, ele riu.

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