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Bernardo:

O confronto com seu problema pode se tornar algo desafiador, ainda mais quando você  enxerga que precisa de uma ajuda para se curar, o ego muitas vezes acaba nos cegando e nos fazendo ver a proporção do problema menor do que realmente ele é.  Eu precisava de ajuda, mas não enxergava assim, até ouvir Guilherme explicar para Samuel, e ali ouvindo eu me senti mal, me senti constrangido, pois eu agia daquela forma com ele.

Até o meu filho, entendeu que o ciumes patológico era algo prejudicial ao relacionamento e até então eu não via daquela forma. 

Passei boa parte daquela tarde em silêncio e a explicação de Guilherme ficava se repetindo na minha mente, e quando tivemos oportunidade conversamos sobre isso, e mais uma vez ele me provou o seu amor, dizendo que iria ficar ao meu lado.

Tenho medo de falhar, mas saber que Guilherme estará do meu lado me motiva a querer melhorar.  O ciúme muitas vezes aparece sob uma cortina de fumaça, o véu do cuidado, do zelo e da preocupação com a pessoa amada, e o doente, sim eu irei chamar de doença pois eu nem me dava conta do mal que eu causava ao meu relacionamento, eu achava que estava cuidando de Guilherme, zelando para que nenhum outro se aproximasse, eu me sentia inseguro, inquieto, mas dizem que o primeiro passo para a cura é admitir que você é doente e que precisa de ajuda profissional, eu admito, eu preciso de ajuda. 

Mas o que fazer para mudar, a cura ela é trabalhada dia a dia, ela não vem com um manual de instruções e nem como varinha de condão que você fala uma palavra mística e pronto está tudo resolvido. Não, não é assim que funciona.

O primeiro passo é se colocar no lugar do outro, quando eu parei para analisar o que Guilherme havia dito eu percebi que não queria uma relacionamento abusivo para mim, onde tudo é desconfiança, onde há acusações, quando eu tentei me imaginar no lugar de Guilherme foi que eu me senti obcecado,  e não, eu não suportaria viver um relacionamento onde eu estivesse acuado, e se eu não aceitaria viver assim porque acreditava que Guilherme era obrigado a aceitar?

Guilherme estava comigo, ele me amava, me respeitava, e eu tinha que confiar, afinal se ele estava comigo era por que via em mim qualidades que as vezes nem eu mesmo enxergava, ninguém suporta uma vida de brigas desnecessária se não enxergar no outro algo bom, Guilherme tinha tudo para fugir de mim, para não me aceitar de volta, contudo  ele me deu uma segunda chance, sinal que algo de bom eu ainda tinha, eu não precisava me sentir inseguro.

Eu iria procurar ajuda psicológica, pois  nem eu mesmo sabia que a minha patologia estava chegando no nível máximo. Pois estava tão preocupado em alimentar a minha desconfiança que não dava a devida atenção ao meu parceiro, e essa falta de atenção só fazia afastá-lo ao invés dele se sentir cuidado, abraçado. 

Glauco não teria nenhum poder sobre mim se eu tivesse entendido isso a mais tempo, mas ele me manipulou por que encontrou em mim a liberdade que eu mesmo dei por causa dos meus demônios internos. 

A aliança mais perigosa que o ciumes pode se associar é a intriga, e foi justamente onde permitir que Glauco se infiltrasse, se posso culpá-lo, não, pois se eu tivesse confiança em mim mesmo, no relacionamento que tinha com Guilherme nada do que ele dissesse teria sentido, e hoje eu percebo o quão idiota eu fui, o quanto estive a ponto de jogar o meu relacionamento no lixo por meus fantasmas.  

Mas eu iria me tratar para ser melhor para aquele que estava ao meu lado. Guilherme merecia alguém melhor, e eu faria de tudo para ser o que ele merecia.
Estar perto de perder Guilherme foi a pior das sensações que eu senti e eu estava disposto a prová-lo que ele podia confiar em mim novamente, eu não iria desperdiçar a minha segunda chance. 

Preciso caminhar passo a passo para a cura, percebendo os pequenos avanços, que tem que ser percursado ao longo da estrada, se tropeçar, não desistir de caminhar, mas levantar e prosseguir a jornada, é assim que pretendo chegar ao meu alvo. Admitir que você precisa de ajuda não é fácil, mas eu estou admitindo, pois quero chegar a minha cura por Guilherme, pelos meus filhos e até mesmo por mim mesmo.


Para iniciar tratei logo de pesquisar sobre quem procurar para começar um tratamento, Guilherme me ajudava a procurar o melhor psicólogo prometendo que iria junto, e assim encontramos um especialista, marcamos a consulta e lá estávamos nós esperando ser chamados para a sala do doutor. 

O doutor Alberto é  um homem aparentando seus cinquenta e poucos anos me explicou os primeiros passos para controlar o meu ciumes, e eu iria seguir a risca para não decepcionar Guilherme que em todo o tempo estava ali do meu lado me apoiando, em contrapartida o doutor também explicou para Guilherme:

_ Um dos grandes erros da vítima de ciumes é aceitar imposições, exemplo, "essa roupa não", "quem te ligou?" e a pessoa ficar dando satisfação do que fez durante o dia, pois isso alimenta o auto controle que a outra pessoa acredita ter sobre você.

_ Então no caso como eu deveria ter agido quando o Bernardo demonstrava tanto ciumes?

_ Primeiro deveria ter dialogado sobre o assunto, feito o seu parceiro se sentir seguro em relação ao seus sentimentos, um dos grandes erros é evitar o assunto com medo de brigas, isso demonstra uma passividade e dar a sensação de que está tudo bem. 
Se não cortar o mal pela raiz, você pode podar um galho aqui outro ali contudo ele sempre irá crescer novamente, vocês dois estão no caminho certo, estão buscando ajuda, admitir que o seu ciumes é exagerado já é um grande passo, por que agora você vai pensar duas vezes antes de agir precipitadamente. 
 

Ouvimos atentamente a explicação do doutor e sim ele tinha razão em tudo o que havia dito, por mais que ele nos conheceu aquela tarde parecia que ele estava narrando a minha história com Guilherme, sobre minha insegurança, a forma como eu cobrava Guilherme, que eu o pressionava, e a forma como ele evitava falar sobre o meu ciumes, e vimos ali onde nós dois  estávamos errando e a partir de então faríamos de tudo para melhorar pois  queríamos um relacionamento saudável. 
Um grande atenuante é o amor que tínhamos, isso foi o  motivo predominante para procurarmos ajuda, e que bom que procuramos. 

Em busca de redençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora