Meu Caderno Visceral

Voando com os Pássaros

– Mamãe! Olhe para mim, eu vou voar. – Ícaro falava de pé em um galho de uma goiabeira.

– Sai daí Ícaro, deixe de atrevimento. Tu vai acabar se machucando. – A mãe protesta enquanto pressionava o celular sobre o peito.

– Mas mãe, eu consigo. Eu posso voar igual aos pássaros. – Ícaro insistiu mais uma vez, agora estava prestes a pular e mostrar toda sua verdade.

– Só um minutinho. – A mãe falou no celular. – Ícaro desça daí agora, caso você caia e se machuque, eu vou lhe dar uma surra na frente de todos aqui no parque. – A mãe falava já irritada e com a mão levantada para Ícaro.

Ícaro fez cara de choro, mas na mesma hora desceu. Era uma manhã de domingo e muitos colegas do colégio de Ícaro também estavam no parque e eles o observavam, então como não queria levar uma surra na frente de todos, obedeceu.

Quando desceu ele estava acanhado e foi cuidadosamente na direção de sua mãe, essa que fazia cara de reprovação.

– Porque você não fica brincando com o celular igual a seus outros amigos. Deixe de atrevimento e se comporte, caso contrário nós vamos para casa. – A mãe terminou a chamada pelo telefone, depois deu o aparelho ao filho e já mostrava um vídeo de algum desenho infantil.

Ícaro foi para o banco da praça, lá estava seus outros amigos todos olhavam algum desenho ou brincavam de algum jogo pelos celulares. Após alguns minutos Ícaro volta para sua mãe e pede para ir embora.

– Já quer ir? Você ontem passou o dia perturbando para vir e agora já quer ir embora. – A mãe ficou surpresa com o fato de Ícaro querer voltar para casa, ao mesmo tempo em que ficou brava por ter organizado e planejado seu dia levando o filho ao parque só para ficar poucos minutos.

– Eu queria mostrar para todos que posso voar, mas você não deixou.

– Deixe de tolice. As pessoas não voam, só as aves fazem isso. Tem que ter asas para voar, entendeu?

– Mas eu vi na tevê, tinha um homem que voava e via todo mundo lá do alto, eu posso ser igual a ele.

A mãe agachou-se para ficar na altura de seu filho e começou a falar segurando o rosto dele.

– As coisas que passam na televisão são tudo mentira, não vá imitar essas baboseiras, são apenas histórias inventadas. Aí de ti, caso você apareça machucado por que tentou imitar essas coisas, dou-lhe uma surra e deixo você de castigo sem tevê e sem celular.

Ícaro ficou apenas mais descontente e caminhou em direção ao carro.

– Para onde você vai? – A mãe tornou a perguntar. – Não vai querer nem um sorvete?

– Não.

As estações passaram. Os seus sonhos de sair voando e conhecer o mundo pelos céus sempre vagaram por sua cabeça, mas conforme o tempo anda suas alusões e ilusões são provados de forma infactível pelo descobrimento da própria realidade, suas viagens eram limitadas a suas histórias de fantasia que via em filmes e livros. Já não lhe era permitido à inocência de querer simplesmente voar, agora sua nova fase já lhe cobrava escolhas sobre qual rumo tomar em sua vida.

Durante os anos de sua adolescência Ícaro apaixonou-se, não por alguém, mas por algo, seu maior passatempo era manejar drones pelos ares, ele manuseava-os com bastante desenvoltura sobre o céu e gravava seus voos para depois assisti-los. Quando não estava voando com os drones, ele estava consertando ou montando e desmontando para ver seus mecanismos, buscava sempre entender mais sobre eles.