Versos da sofrência

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A garota chegou em casa as seis da manhã do sábado. Estava cansada da sua semana exaustiva, das noites viradas para terminar projetos e, principalmente, de toda a interação que a mesma teve que ter com alguém que não era capaz de entender a beleza de seu trabalho.

Jogou-se na cama sem tomar um banho, sem tirar os óculos, sem trocar de roupa, ou até mesmo tirar os sapatos, também não estava ligando se o seu pequeno apartamento cheirava a mofo, ela apenas queria dormir até o domingo.

Entretanto, a vida não é perfeita. 

Mal se deitou e a menina já foi acordada pelo seu vizinho, que estava colocando o seu som para tocar uma música brega, que tinha uma letra bastante sofrência para um sábado de seis horas da manhã. Antes de pirar de vez, tentou esconder a sua cabeça embaixo do travesseiro no intuito de não escutar quaisquer palavras daquela música, porém, aqueles versos estranhos e sofredores continuavam a rondar sua cabeça. Sua paciência estava se esgotando mais rápido que o normal, será que era pedir demais dormir um pouco?

Levantou rápido da cama, iria tirar satisfações com o seu vizinho - que nunca trocou um bom dia com a garota - e de quebra pedir para ele desligar o som.

Achar a chave da sua porta naquele lixeiro que o seu apartamento se encontrava foi um trabalho quase que impossível e se somarmos o seu sono, todo o trabalho de achar aquele bendito objeto era triplicado. Contudo, assim que a achou, destrancou a porta e foi direto na porta do seu vizinho que escutava umas músicas que ninguém em sã consciência escutaria as seis da manhã.

Bateu na porta do causador de toda aquela "confusão" e o esperou atender impaciente, com os braços cruzados, com uma expressão séria, batendo o pé descontroladamente, sem qualquer ritmo.

Sua espera não durou mais de um minuto, logo a porta foi aberta revelando um baixinho, com um olhar de peixe morto, de cabelos cortados como uma tigelinha enquanto nas laterais era raspado, que mais parecia a Branca de Neve com roupas masculinas de fazer faxina.

- Olha... - A menina começou sua fala mantendo a postura seria, com um tom de voz serio, ainda batendo o pé no chão e de braços cruzados.

- Faz quanto tempo que você não toma banho? - Foi interrompida pela versão masculina da Branca de Neve

- Oi? Eu não sei - Cheirou sua axila como forma de ter mais ou menos uma noção da ultima vez que a sua pele entrou em contato com a água do chuveiro - Acho que fazem 3 dias que eu não tomo banho...

O baixinho não disse nada, segurou seu pulso e a puxou para dentro do seu apartamento trancando a porta logo em seguida.

Aquele lugar era o mais brilhante - de limpo - que a garota já havia visto em sua vida, até o cheiro de lavanda era bom, para ela, aquele era um lugar bem aconchegante, tirando os versos " eu vou descontar a minha raiva dela na sua boca " de fundo.

- Vou te limpar - O garoto a tirou dos seus devaneios, e continuou puxando-a para uma banheira que logo ficou cheia com água e espuma.

Hanji estava perdida, ela havia saído da sua toca para pedir para o seu vizinho - que agora ela descobriu ser o homem mais baixinho que um dia conheceu - abaixar ou até mesmo desligar o som e agora, estava dentro de uma banheira, apenas com as roupas de baixo enquanto era banhada pelo seu vizinho que fazia questão de esfregar seu corpo para sair toda aquela inhaca que estava impregnada em seu corpo. A vida é cheia dessas coisas, não é mesmo?

Depois de banhar uma pessoa que o moreno se quer sabia o nome, ele entregou um roupão limpo para a garota, que, ainda confusa, o colocou. Também sem se importar com muita coisa, ele caminhou em direção a sua pequena sala que cheirava a lavanda - acompanhando da garota -, sentou em um sofá e começou a tomar chá ao som de " e a mim que você ama, é a mim que você chama, na saúde na tristeza, na alegria e na cama".

- Agora que você não fede a ovo gorado - O nanico falou ainda com um expressão de peixe morto -  Me responda, o que quer?

Cada um tem o vizinho que mereceOnde histórias criam vida. Descubra agora