-Lana? Lana, amor, acorda. Já estamos chegando.
Abro meus olhos. O ônibus está a poucas paradas da minha casa. A mão de Todd afagando meu braço me acalma. Tento aproveitar ao máximo essa sensação.
-Foi e aquele sonho outra vez.-E provavelmente também não vai ser a última.
-Quer passar essa noite comigo? Amanhã eu te deixo em casa.
-Melhor não. Se eu não descer logo, vou acabar pegando no sono novamente, e eu não quero dormir agora. E meu pai está me esperando na calçada.
-Certo. Manda mensagem quando chegar.
Me despeço de Todd com um beijo rápido e uma ligeira sensação de déjà vu. Desço do ônibus tentando lembrar os detalhes do sonho, mas quanto mais o veículo se afasta na avenida, mais as lembranças parecem fugir.
Me viro para entrar na minha rua. Já consigo ver meu pai acenando, a duas esquinas de distância. Aperto o passo, pois já passa das nove da noite e tem dois postes apagados.
Terceira casa depois da próxima esquina. Minha mãe saiu no portão, com o pequeno Pluto nos braços, balançando o rabo feito louco. Rio com a cena, tudo o que eu quero é chegar logo pra encher aquela bolinha branca e peluda de cheiros. Atravesso a esquina sem olhar para o lado e...
Tudo aconteceu muito depressa. Num instante, eu estava apenas voltando para casa, depois de passar parte de noite no cinema com o meu namorado. No momento seguinte, um carro preto vira a esquina com uma das portas traseiras aberta, de onde uma mão agarra meu braço com força e me puxa pra dentro. Pude ver o horror nos olhos dos meus pais. O que será que passou pela cabeça de cada um naquele exato segundo? Medo de nunca mais verem sua filha única novamente? Culpa por não terem ido me buscar na parada, como costumavam fazer quando eu era um pouco mais nova? Não importava, eu não iria vê-los novamente, e nem sequer pude me despedir...
Mas eu não tive nem chance de oferecer resistência. Meus 45 quilos distribuídos em míseros 1,54 de altura tornaram a tarefa de me puxar outra dentro de um carro estupidamente fácil. E mesmo se houvesse alguma oportunidade, como eu poderia agir em uma situação totalmente aleatória como essa? Não tinha como. Isso não podia estar acontecendo, não podia... Fechei meus olhos com mais força e...
-Lana? Lana, amor, acorda. Já estamos chegando.
Abro meus olhos. O ônibus está a poucas paradas da minha casa. A mão de Todd afagando meu braço me acalma. Tento aproveitar ao máximo essa sensação.
-Foi e aquele sonho outra vez.
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Viagem de volta
Short StoryUma garota narra sua viagem de volta para casa após um dia longo. Mas algo não parece estar certo...