Park Jaehyung sempre quis saber o verdadeiro significado de "ver". As primeiras pessoas que lhe explicaram, seus pais, disseram que ia além de sentir.
Desde a infância, foi acostumado a tocar nos objetos para deduzir seus nomes e funções. No caso das pessoas, ouvir a voz era o bastante, exceto no caso de desconhecidos, e Jaehyung não podia, em hipótese alguma, aproximar-se deles.
"Enxergar" era uma palavra vazia em seu vocabulário. Não tinha meios de colocar um significado e nenhuma explicação era o bastante. Ele queria mais, mas esse mais não estava a seu alcance.
Aos 11 anos, não tinha muitos amigos. Não costumava sair muito de casa e não ia à escola, era educado pelos pais e pela avó materna; esta dizia estar ansiosa para lhe ensinar a tocar piano, embora, para o garoto, tal ideia estivesse muito distante.
Na casa ao lado, morava uma família que se dava bem com os Park. Eram pessoas educadas e solícitas cuja presença era agradável. Os Kang tinham um filho chamado Younghyun, um ano mais novo que Jaehyung. Os vizinhos sabiam bem a condição do filho único daquela família, então instruíram o próprio filho a ser compressível — algo que ele já era.
Younghyun, ao ver Jaehyung pela primeira vez, surpreendeu-se com os olhos do menino. Esperava vê-los semelhantes a duas pérolas, mas eram normais e assumiam a tonalidade de um castanho. Inicialmente, foi difícil para o pequeno Kang. Queria perguntar se o Park havia assistido o último episódio de tal desenho, ou se já havia lido a última edição de uma revista em quadrinhos popular entre as pessoas de suas idades.
Um dia, os pais de Jaehyung permitiram que o filho fosse à casa dos Kang para passar uma manhã. Já havia se passado mais de um ano de convivência, a confiança foi se construindo aos poucos e reconheciam a necessidade que o filho tinha de poder agir como as demais crianças; era privado de tanta coisa por não enxergar, ao menos essa liberdade deveria ter.
Na cozinha, o sr. e a sra. Kang se aventuravam fazendo bolinhos de morango com a ajuda dos meninos.
Mais tarde, Younghyun levou Jaehyung até seu quarto. Lá, ao mais velho foi dada a liberdade de mexer no que quisesse, a fim de conhecer o novo local e se acostumar a ele. O pequeno Kang vez ou outra deixava algo fugir pela boca e no mesmo instante colocava a mão na mesma, puramente por inocência, do tipo "você tem que ver isso!", "olha só como isso funciona" e "vê mais de perto".Pouco antes do almoço os pais de Jaehyung foram buscar o filho e aproveitaram para convidar os Kang, alegando que era apenas um agrado e também mais tempo para os garotos ficarem juntos.
Certo dia, Younghyun levou Jaehyung para conhecer o jardim que ficava aos fundos de sua casa. Era um local agradável e repleto de cores, afora os raios solares que batiam por ali levemente. Muitas vezes, o mais novo se sentia impotente por não fazer tudo pelo outro. Queria, do fundo de seu coração, explicar cada detalhe visual do mundo para Jaehyung, mas não conseguia e se sentia para baixo por conta disso.
Younghyun deitou na grama e pediu para que Jaehyung fizesse o mesmo, tão logo começou:
"Jae, alguém já te falou sobre as cores?"
A indagação repentina demorou alguns segundos para ser respondida.
"Já... Mas eu não sei diferenciá-las, nunca tive a oportunidade de conhecê-las.”
"Você não precisa ver para saber. Eu posso fechar meus olhos e te mostrar como.” dito isso, o rapaz fechou os olhos. "Pegue na grama..."
Younghyun apertou a grama entre seus dedos e Jaehyung fez o mesmo logo em seguida.
"E então?"
"A grama é macia e é da mesma cor das folhas das árvores e dos legumes que minha mãe me obriga a comer. A cor é verde, Jae. Ela simboliza muito da natureza e das coisas que nossas mães nos obrigam a comer. Entendeu?"
O Park murmurou um "uhum" e o mais novo prosseguiu:
"As flores têm várias cores, porque existem vários tipos, mas aqui em casa o que mais temos são rosas, e elas também variam. O tipo que mais temos é o vermelho.
É da cor do nosso sangue e dos morangos. Lembre disso, o vermelho é a cor do nosso sangue e dos morangos."
Percebendo que o garoto somente escutava em silêncio, continuou:
"O Sol às vezes parece mais laranja, mas ele é amarelo, assim como as bananas e o recheio dos biscoitos de chocolate branco.
Amarelo é a cor das bananas.
Laranja é a cor das... Laranjas. É engraçado, mas é verdade, é a cor das laranjas e das tangerinas""A laranja é laranja?" Jae riu ao fazer a observação, sua risada contagiando o outro menino.
"É sim.... E a terra debaixo da grama é marrom, assim como o caule das árvores e o chocolate que a gente gosta. Você não vai esquecer... Marrom é a cor da coisa mais gostosa do mundo!"
"Está me deixando com fome..."
"Acabamos de comer, Jae!"
"Chocolate não tem hora." o rapaz retorceu os lábios num biquinho.
"Aham, aham... Ah! Muitas vezes a gente chama o marrom de castanho. Por exemplo, seus olhos são castanhos, assim como os meus."
"Nossos olhos são da mesma cor?"
"Sim!"
"Que legal..."
"Muito! Estou esquecendo de alguma cor..."
"De várias, mas da mais importante falta o azul"
"Sim, o azul..."
Alguns instantes em silêncio se seguiram. Jaehyung esperou que o outro começasse a falar, o que logo aconteceria.
Younghyun respirou fundo antes de retomar a sua explicação:
"O azul está na maioria das coisas... o mar por exemplo. E o nosso planeta. O primeiro astronauta a ir ao espaço disse isso, que a Terra é azul. Ela é grande, muito grande... Nós somos muito pequenos e vivemos em um lugar gigante. O céu..." nisso, Youghyun abriu os olhos e viu os de Jaehyung fechados.
"Jae, abra os olhos"
Assim o Park o fez, e o Kang prosseguiu:
"Você pode sentir? O céu está por toda a parte. Ele é gigante! Basta sentir..."
Jae respirou fundo. Moveu seus dedos que até então apertavam a grama, passeando com eles pela textura macia. Sentiu o vento tocar seu rosto, a brisa suave da tarde que o tranquilazava. Por um instate sentiu a respiração de Younghyon contra a lateral de seu rosto, sinal de que estava sendo observado, mas no momento seguinte o mais novo voltou a olhar para cima assim como o outro.
"Azul é a cor do céu." O Park virou o rosto na direção do menino, curvando os lábios em um pequeno sorriso e rindo. "O céu é azul"
fim
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O céu é azul
RomanceYounghyun queria mostrar para Jaehyung que não era necessário enxergar para ver - e sentir - as cores do mundo.