Manual Do Ranço

Querida pessoa que já foi muito importante

Sinto sua falta.

Cada pedaço de você permanece em minha mente, me abalando e quebrando tudo aqui dentro.

Sinto falta de nossas conversas loucas que iam de medicina até teorias da conspiração do espaço. Eram saudáveis e faziam meus dias felizes, para ser sincera. Eram frequentes mas nem tanto; não chegavam a ser sempre, para não enjoar e não eram raras, para não fazer falta. Eram na medida certa, para dar saudades e aquecer meu coração mole. Você era suficiente para mim.

Te amei e ainda te amo. Já faz tanto tempo que eu parei de contar; não vai fazer diferença se você nunca vai me corresponder. Meu amor, trouxa, é claro, está na beira do precipício para cair no pecado e angústia. Cansei, mas ainda não estou pronta para dizer adeus a este sentimento que sempre valorizei.

Esgotei-me de ser concertada e depois quebrada, novamente, em mil pedaços. Assim, as frases prontas que minha mãe insiste em repetir, começam a fazer sentido:

- "Não dê seu coração a qualquer garoto bonito"

Porém, meu descuido resultou em um roubo simples e sem alarme de segurança. Na realidade, não pode nem considerar-se um roubo, já que  entreguei, de bandeja, meus sentimentos. E sim, está sendo difícil receber indiferença em troca.

Deixar de amar parece uma tarefa árdua e complicada. Tentei construir barreiras uma vez, mas estavam muito fracas. Foi fácil atravessá-las, não?! Pegar o que já era seu. Assim, a cada sorriso falso, uma luz se apaga e, consecutivamente, a chama congela-se, afundando na escuridão.

Tentei entender seu lado, criar e me iludir com vários finais felizes que poderiam ter sido o nosso. Tentei e tento listar meus erros, sempre acreditando que a culpa foi, majoritariamente, minha. Será que foi mesmo? Seus erros nem pareciam erros, já que meus olhos viam flores em seus traços. Você foi um erro, eu sei, que ainda me atrapalha e mexe comigo.

Me faça esquecer que um dia ouvi suas declarações de amor e, após um curto período de tempo, te vi partir, mesmo estando ao meu lado. Machucou, me confundiu e enfraqueceu-me. O suficiente para acreditar que eu não era perfeita o suficiente para você.

Gostaria de não ter te dado uma segunda chance e de não ter sentido seus lábios molhados próximos aos meus por breves segundos em um beijo roubado. O meu primeiro beijo, com meu primeiro amor. Mesmo assim, não te odeio por ter partido novamente. Gostaria de arrancar todas essas memórias, colocar numa caixa cor de rosa com estrelas azuis e jogá-la de um lugar bem alto, até que se espatifem em longe de mim.

Achei que a vida real seria como os dramas e livros e que os flertes sempre levariam a algo lindo e romântico. A ingenuidade me fez continuar apaixonada por uma criação da minha imaginação potencialmente frutiva e me deixou continuar caminhando nessa trilha irregular. Você foi a minha pior história de amor, sem desfecho. E, a parte mais cruel, é que não consigo me livrar disso com a destreza que eu gostaria porque sou tola e não sei lidar nem com minhas confusões, imagina com meus sentimentos.

Esta é a última carta que te escreverei. Porém, a única diferença que esta terá relacionada às anteriores, é que nunca chegará até suas mãos. É a minha recordação e o desfecho de uma relação que mal se desenvolveu. Por meio desta, das lágrimas derramadas e das barreiras mal construídas, eu me despeço.

Adeus