Estive bastante tempo sentada aqui, observando as ondas do mar quebrando mais adiante. O céu ainda estava bem azul com poucas nuvens brancas, no entanto, faltava menos de uma hora para sol se pôr e aquele era um ótimo momento para refletir na vida.
Peguei um pouco da areia que estava ao meu lado e observei os grãos se dissiparem, escorrendo pela minha mão, assim como foi a minha vida. Acreditava que estava tudo sob controle, que tudo daria certo, mas me enganei de uma forma quase inocente, deixando meus ideiais escapulirem para nunca mais tê-los como antes.
Ergui as pernas e as abracei, apoiando o rosto sobre os joelhos, sufocando-me com minha tristeza cartesiana. De repente, senti um toque delicado em minha cabeça e sabendo de quem se tratava, a ergui rapidamente procurando forças para esboçar um sorriso.
- Está tudo bem, mãe? - Ruy quis saber, abaixando-se na minha frente para me vê melhor.
- Claro, meu amor.
- Tem certeza?
Sorri um pouco mais, apreciando sua preocupação. Não era de se admirar. Meu filho foi quem esteve ao meu lado em todos os meus dias de sofrimento.
- Sim. Está tudo ótimo. Só estou pensando um pouco. Vai brincar mais, vai!Ele olhou mais um pouco pra mim, desconfiado. Ergui minha mão e o mandei ir, fazendo-o se distanciar um pouco, distraindo-se com as poças de água salgada.
Seus cabelos não estavam mais tão loiros como antes. Havia alcançado um tom de castanho claro e seus olhos eram de um verde claro diferente. Havia se tornado meu melhor amigo. Me consolava nos momentos de difíceis e me fazia rir com seu bom-humor recorrente. Sempre tinha alguma brincadeira ou uma piada nova para contar.
Era surreal como estava cada vez mais parecido com o pai em quase todos os aspectos. Só espero que não seja um safado igual a ele, quando crescer. Já estava ensinando-lhe a importância de amar de verdade e respeitar uma pessoa interessante.Amar... Que peça do destino... Eu ensinando meu filho a considerar tal sentimento quando queria me livrar dele com urgência. Mas quem sabe ele tivesse a sorte que não tive... Enfim, meu filho ainda é uma criança de 8 anos e não preciso ficar pensando nisso...
A praia de Matosinhos sempre era movimentada, cheia de surfistas e praticantes de windsurfe, a água azul e areia bem branca. Porém, parecia que naquela tarde, as pessoas tinham resolvido ficar em casa, com apenas algumas circulando pela orla, o que me possibilitava perder em pensamentos. Porto era minha nova casa, escolhida às pressas em um momento de desespero.
Você não deve estar entendendo muita coisa, afinal, passei bastante tempo sem dá notícias. Quatro anos para ser exata... Mas, lá vamos nós:
Não conseguia mais suportar minha condição de vida. Todos me olhavam com o canto dos olhos e aqueles que mais amo me desprezavam como se eu fosse uma assassina.
No dia do casamento do meu pai, no dia em que eu e Rodrigo fomos descobertos, me encontrei completamente sem chão. Meu tio, depois de não ter reagido aos socos do irmão, aproximou-se e me abraçou. Só não sabia que aquele ato de carinho me faria explodir, empurrando-o para que se afastasse:
- Me solta, Rodrigo! A culpa é sua!
Ele fez cara de espanto, o canto da boca manchado de sangue enquanto perto do olho esquerdo, uma mancha roxa começava a aparecer.
- Culpa minha, Samanta? Você está sendo imatura. Não é hora de procurarmos o culpado e sim, resolver o problema.
Dei de ombros, me levantando devagar e procurando forças para manter-me de pé:
- Como vamos resolver isso? Nunca vi meu pai assim, tão chateado e violento.
- Com o tempo, isso vai amenizar...
Palavras de quem queria me acalmar... A festa de casamento manteve-se sem ninguém saber do ocorrido, no entanto, Ricardo foi embora levando Mariana consigo completamente às escondidas. Soube que os convidados acreditaram que teria sido uma ação proposital dos recém casados, para que sentissem falta, como uma brincadeira.
Preferi sair dalí sem nem conseguir olhar na cara de Vinícius, que mostrou-se frustrado ao me vê ir fingindo desprezar sua existência.
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IRMÃO DO MEU PAI
Chick-LitJá fazia um bom tempo que Samanta não possuía um vínculo afetivo com seu pai, Ricardo. Por conta disso, esperava ansiosamente pelas férias daquele ano para aproximar-se dele e ter um convívio entre pai e filha. Só não esperava que ao chegar na casa...