Capítulo 1O – Um príncipe (Anne Z)
Sentada com as pessoas em volta, eu improvisei histórias de quando era uma bailarina em NY. As duas garotinhas, sentadas comigo, ouviam maravilhadas.
A mãe delas, ali também, cozinhava macarrão instantâneo para a janta. A fogueira, acesa pelos homens, começava a lançar chamas entre nós, diminuindo o vento gelado que irrompia das montanhas durante a noite.
As garotas se encolhiam quando os barulhos de animais noturnos circulavam por ali, mas eu sorria de maneira terna, entretendo elas com mais histórias. A morena, que descobri se chama Jennifer, estava do meu lado e lançava discretamente olhares para minha barraca afastada.
Eu sabia que ela desconfiava o que estaria acontecendo e sorria de maneira despreocupada para ela, dizendo mais cedo que Gabriel estava "tão cansado" que resolveu se recolher antes do pôr do sol. Era difícil não me encolher diante dos olhos julgadores daquela mulher.
Ela sabia, sabia que a colega estava agora se agarrando com ele. E tentava não revelar, mas nem se eu não soubesse, compreenderia que seus "suspiros" irritantes deviam ser porque ela gostaria de ter sido a "escolhida". No lugar de sua amiga.
- Então, você não me disse como se conheceram – ela me olhou descaradamente, conferindo minha quase ausência de seios por debaixo da minha blusa fina de malha. Eu havia tomado banho discretamente, no fim do curso do riacho, me distanciando do ponto em que ela estava. E eu percebi, quando ela saindo dali completamente lavada, olhava preocupada na direção da própria barraca, aquela em que Gabriel deveria estar com a "solteira".
Se eu estivesse certa, Gabriel estava há mais de três horas "entretendo" a mulher.
- Eu estava voltando de um voo da França e me sentei bem ao lado dele – notando que ela queria mais detalhes, continuei inventando – e me convidou para sair no mesmo dia.
Fingi não perceber que ela me olhou ainda mais confusa, provavelmente tentando entender o que o "garoto" quase perfeito havia reparado em mim, a ponto de me convidar. Tasquei um sorriso falso para ela, demonstrando o quanto eu havia sido "sortuda".
- Deve ter trabalho com ele – percebendo que eu não compreendia a exatidão de suas palavras, ela se aproximou para explicar – além daqueles olhos lindos, o corpo dele deve atrair muitas mulheres.
Sem consegui esconder, minha cara se fechou numa carranca na mesma hora, o que a fez recuar constrangida. Percebendo depois, que aquilo poderia afastá-la, talvez até indo procurar a colega, eu logo me recompus e disse mais calma:
- Gabriel não faria nada para me magoar – seus olhos se estreitaram em pura desconfiança e aproveitei, fingindo quase demência – ele é louco por mim.
Ela disfarçou um sorriso e eu, fingi que não o vi. Depois disso, me peguei ouvindo as conversas paralelas que aconteciam ao redor de nós enquanto a mulher evitou me olhar pelo tempo que se seguiu.
Até que um grito agudo, vindo da direção da minha barraca, despertou a todos nós. Os homens se colocaram a correr, de imediato, e a morena ao meu lado, me lançando um olhar preocupado, seguiu na direção logo depois.
Somente eu, as crianças e a mãe delas, permanecemos paradas ao em volta da fogueira. Uma das meninas, inclusive, me abraçou pela cintura de forma desesperada. Eu me agarrei a ela também, fingindo "preocupação".
Após alguns minutos, a morena retornou para meu lado, com o rosto lívido de preocupação:
- Joana foi picada por uma coral – seus olhos traíam emoção genuína e olhavam para os lados temendo que uma cobra pudesse surgir dali – seu namorado conseguiu captura-la.
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Gabriel
Mystère / ThrillerEle tinha um segredo. Ela, um passado. Livro 3 - Série Ripper Publicação semanal. Início: 01/02/2018