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Glauco:

O inquérito policial decretou que por cárcere privado, duplo assassinato e uma tentativa de homicídio eu era o culpado, a minha ficha corrida que até então não tinha nenhum delito, agora de repente estava recheado de crimes, mas quer saber a única coisa da qual eu verdadeiramente me arrependo é o fato de que aquele remelento ter sobrevivido, orientado pelo meu advogado eu fingiria estar perturbado emocionalmente, assim eu ao invés de ficar preso em uma prisão comunitária pois  não tinha curso superior, eu ficaria em uma clínica alguns anos e logo estaria em liberdade novamente.

Eu pegaria alguns anos de cadeia, sim era certo de que eu seria condenado, mas a lei brasileira chegava a ser de uma ironia estrondosa, se eu fosse condenado a 10 anos por exemplo, nunca precisaria pagar esses 10 anos pois há o indulto de dia disso, dia daquilo e lá estaria eu na rua novamente, bastasse que eu tivesse bom comportamento e a penalidade que havia recebido  diminuiria gratificadamente para um terço da pena. Existiam aqueles que sim mereciam, mas existem muitos que são beneficiados com esse "direito" que não mereciam receber, seria o meu caso, pois nunca irei perdoar aqueles dois e pode passar 100 anos eu sairia dali, da mesma maneira como entrei.

O melhor advogado estava cuidando do meu caso, ele tentava de todas as formas derrubar a acusação, me orientando no que eu devia falar, em como devia agir  e comportar-se para passar a maior credibilidade ao personagem que eu criaria diante do juiz, e com a promessa de uma boa quantia de dinheiro o próprio advogado sugeriu reconhecer a conduta de alguns oficiais que poderia alegar a confiabilidade do personagem. 

Enquanto eu iria vestir a roupa de bom moço emocionalmente perturbado o meu advogado iria alegar consideráveis erros da ciência forense  dizendo que a cena do crime havia sido adulterada. Outra orientação que recebi do meu advogado é de sempre se manter calmo, coerente em minhas respostas mas ao mesmo tempo mostrar-me atordoado já que estava representando um perturbado mental. Ainda com todas essas precauções eu tinha nítida noção que não sairia impune, mas antes uma clínica de recuperação a uma prisão:

_ Glauco presta atenção, os policiais poderão vir a pedir o teste do polígrafo, não aceite, esse teste servirá como uma acusação no tribunal, precisamos que os policiais aleguem e confirme a sua perturbação, então vou dizer exatamente o que irá fazer e em quem deve confiar aqui dentro, nós estamos molhando a mão de dois oficiais aqui dentro, tudo o que fizer eles darão vazão ao caso então sempre faça na hora em que eles estiverem por aqui.

O advogado me dava as últimas explicações antes de falar:

_ Agora uma notícia má, o juiz negou o habeas corpus dizendo que você representa ameaça ao seu irmão, cunhado e as crianças. 

_ Eu já esperava por isso, mas eles não perdem por esperar, a hora deles chegará. 

_ O que temos a seu favor é que o menino não morreu, ele está bem, já está em casa, passou por uma cirurgia mas foi liberado para voltar para casa com uma semana de hospital, e outra notícia boa, os pais se recusaram a deixar ele depor, disseram que não quer que o filho relembre os acontecimentos, disseram que o testemunho dele seria traumatizante para ele. 

_ Isso não me impressiona nem um pouco, aqueles dois são tão previsível, você se cansa de ler na primeira página. Por um pouco de amor eu abri mão de toda a minha integridade e o que eu ganhei, nada, nada e mais nada, aqueles dois saíram ganhando em tudo, Guilherme e aqueles meninos recebendo o amor que deveria ser meu, eu farei qualquer coisa para o juiz acreditar que eu preciso de cuidados especiais e durante o tempo em que estiver naquela clínica irei me antecipando nos planos  da minha  vingança. 

_ Eu não devo ouvir isso, não se esqueça que você é meu cliente, não preciso saber dos detalhes dos seus planos. 

_ Você se vendeu ao diabo caro amigo, e uma hora ou outra ele virá fazer a colheita, eu estou te pagando muito bem para me defender e ficar de bico calado. Eu estou longe de ser inocente, mas a partir do momento em que você aceitou o meu dinheiro passou a ser tão sujo quanto eu. 

_ Eu conheço o juiz que vai prejulgar o seu caso, infelizmente para nós ele é do tipo incorruptível, e linha dura quando se trata de vulneráveis, o promotor entretanto é mais maleável pode ser que possamos nos dar bem. 

_ Eu quero que consiga algo para mim. Não sei como irá consegui mas eu quero que me traga o Bernardo aqui.

_ O pai do menino, mas ele é testemunha de acusação, não acredito que eu tenha o poder de traze-lo aqui.

_ Você não entendeu, eu disse que eu não sei como conseguirá  isso, mas eu quero que o traga aqui, isso não é nenhum pedido é uma ordem. 

_ Fica calmo, eu vou ver o que eu posso fazer. 

_ Não faça um trabalho amador, eu sei que pode traze-lo aqui, basta que se esforce um pouquinho, por bem ou por mal, apenas traga-o.

Acho que pela primeira vez ele notou que eu não estava para brincadeira pois a expressão dele passou de neutra para assustado, e era a pura verdade eu não estava brincando quando disse que Bernardo seria meu, e se não fosse por bem seria por outros meios, mas eu teria que fazê-lo entender que ele pertencia a mim, somente a mim. 

Eu me sentia impotente diante daquela situação, mas em breve eu estaria novamente livre e Bernardo teria até esse dia para está do meu lado, esse era o prazo final que eu daria a ele, depois nada do que ele dissesse ou fizesse iria fazer eu mudar de ideia, nem mesmo se ele me implorasse eu o perdoaria por esse tempo perdido, eu o faria se arrepender de ter escolhido Guilherme e aqueles meninos, por essa razão eu havia mandado lhe chamar para alertá-lo do tempo em que ainda tinha longe de mim. 


Em busca de redençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora