Equinócio de Primavera.
A umidade da Terra aflora, assim como um ventre, esperando para ser fecundado. Se você respirar devagar, prestando atenção unicamente no ar que entra e sai, vai sentir um alívio e uma espécie de vontade de sair procriando por aí.
Era esse ar estonteante que os pesquisadores estavam respirando por ali, diante de uma caverna não catalogada, à beira das águas que são fronteira entre Inglaterra e França.
Fotos, medição do terreno, conversas. Não havia pressa, mas era interessante: como não haviam encontrado esta caverna antes? Alguém havia dito algo como "deslizamento de terra", contudo, não parecia que qualquer terra tinha deslizado pelos arredores...
Semelhante à boca de um sapo, dentada, a caverna parecia respirar. Uma brisa morna vinha do interior...silenciosamente. Parecia alguém extasiado, dormindo gostoso, depois de uma noite muito satisfatória.
As paredes pareciam suar. Uma aura sinistramente inspiradora contagiava a todos, ainda que nada de surpreendente ou especial aparecesse por ali. E somente por estarem contagiados por tal energia, os pesquisadores insistiram e acabaram descobrindo passagens. Portas disfarçadas de pedras, protegidas por raízes e...símbolos estranhos?
Teriam sido gravados de propósito ou eram apenas obra acidental da natureza?
BLAM!
Caíram uma, duas, três portas! Pedaços largos de pedra, bem feitos. Não era coincidência: alguém sabia daquele lugar. Alguém escondeu algo ali.
Cada vez mais animados, trabalharam mais intensamente, ainda que com o mesmo cuidado. Levaram o dia inteiro, enfrentando um emaranhado de raízes podres e úmidas, pequenos becos e salas vazias, portas escondidas, até encontrarem o que nem sabiam que haver naquele vale perdido...
— Um caixão? — disse alguém, entediado com a visão.
Após se organizarem como manda os protocolo, abriram o caixão. Um corpo podre.
...
Assim também como o protocolo, levaram o corpo para um laboratório.. O saco preto foi de um lado a outro, até ser largado numa maca qualquer, aguardando ser examinado. Passaram-se 2 dias até que chegasse sua vez.
Ao ler o relatório e ver do que se tratava, o Dr. Bells apenas suspirou. Mais um indigente, provavelmente alguém que tinha alguma doença bem incomum ou alguém que o povo medieval achou ser um vampiro.
Ah, a era medieval. Um povo ignorante. Bem, talvez só um pouco mais ignorante que o povo de hoje. Do alto de sua arrogância, decidiu apenas não perder tempo. Escreveu qualquer coisa e assinou. Tinha um encontro e seria maravilhoso poder adiantá-lo.
E o corpo? O corpo respirou.
...
Horas se passaram e, enfim, o Dr. Bells voltou. Era madrugada. Melhor horário para trabalhar e falar com os mortos. Eles sempre ouviam e concordavam com tudo. Bem, quem cala consente, não é mesmo?
Qual não foi sua surpresa ao ver o saco preto ainda ali.
— Pensei que estavam com pressa de saber sobre você, Ossinho. — encontrou um apelido para seu indigente. O relatório continuava no mesmo lugar. No fim das contas, achou melhor olhar para a cara daquele ser humano abandonado. — Olha aí que beleza! Vou te examinar direitinho desta vez.
Rasgou o relatório falso e abriu o saco. O choque foi tão grande, que permaneceu parado, de olhos esbugalhados por alguns minutos. Ali estava um corpo perfeitamente saudável, exceto por um hematoma ou outro.
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Aquele que traz a Luz
Mystery / ThrillerUm corpo cadavérico é encontrado numa caverna misteriosa, que emanava uma energia contagiante, apesar de sua aparência assustadora. Seria este o corpo d' Aquele que Traz a Luz para todos nós?