Prólogo (Revisado)

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*Morro do Alemão, 11/12/18, 02:15 a.m.

Do topo da cobertura onde fica o meu forte, observo atentamente a movimentação agitada nas ruas estreitas e confusas do meu morro. Aqui eu sou o júri, juiz e carrasco. Eu sou o Príncipe de tudo, eu tenho poder sobre tudo. O morro do Alemão é meu e nada nem ninguém é capaz de tirá-lo de mim. Toco o vidro gelado da parede blindada, o anel com a cabeça do demônio reluz.

---Passa a visão maluco!--- Digo alto o suficiente para todos que estão atrás de mim ouvirem.

---Os caveira tão tudo entrando Grego!---Robin diz com voz trêmula, o medo é visto com facilidade, sorrio de lado, as vezes acho que o medo das pessoas ao meu redor é o que me torna mais forte. ---O que nós faz, mano?

---Deixem entrar. Policiais, motos, carros, tanques de guerra, armamento para derrubar helicóptero, seja lá o que for, deixem que entrem. ---Falo em tom calmo.

---Grego, tu é doido rapaz? ---Fumaça exclama tocando em meu ombro. ---Um monte de gente vai se ferir no meio do fogo cruzado, os caveira vão meter a bala pra cima sem saber se é traficante ou homem de bem! ---Olho para sua mão em meu ombro e arqueio uma sobrancelha, estúpido!

---Eu exijo que deixem a PP entrar, ou eu preciso lembrar quem manda no morro e em tudo que o cerca? ---Viro-me em direção aos outros. ---Eu estou mandando porra!--- Bato na mesa com força.--- Eu sou  O Príncipe Do Tráfico, nada nem ninguém vai tirar o morro de mim, afinal é tudo o que eu tenho. ---Saio com meu fuzil em mãos, pego minha moto e antes de acelerar dou um tiro para cima, mostrando para os inocentes que a guerra está apenas começando.

***

Assim como eu esperava, a polícia invadiu com toda a sua cavalaria, e como sempre não fez ponderações, a trilha de sangue não afetou apenas os meus homens, mas, uma boa parte da população. O tiroteio é intenso, snipers estão pelo lugar, toda a quadra foi tomada, e do equipamento de som do baile restou apenas um monte de peças queimadas por tiro de submetralhadoras. Grande parte do ódio da polícia tem haver comigo, ou melhor, grande parte do ódio do delegado Árias tem haver comigo. Não vou mentir, hoje ele trouxe seus melhores homens.

Porém ele esqueceu que eu sou o melhor.

Depois de derrubar uns vinte policiais, eu entro em um beco estreito onde vejo o delegado.

---Mais quem é vivo sempre aparece não é mesmo Fernando?---Digo sorrindo de satisfação, a voz na minha cabeça me manda dar um tiro em sua cabeça e beber do seu sangue.

---Grego, Grego... ---Estala a língua em desaprovação. ---Eu te avisei pra abandonar essa história de tráfico. ---Aproxima-se. --- Mas, parece que você não ouve ninguém além da voz que você tem dentro da cabeça, a mesma que eu tenho certeza que está mandando você me matar agora. Entregue-se Grego, e ninguém mais vai morrer por sua causa.

---Vou te passar a real Fernando, um príncipe nunca abandona seu trono, entendeu? ---Cruzo os braços após colocar meu fuzil nas costas. ---Então pode invadir essa porra todo dia, derramar sangue inocente de pai de família que todos os dias sai de casa para o trabalho e quando está voltando fica preso no meio do fogo cruzado e acaba levando um tiro, pode queimar o morro inteiro, ---Abro os braços gargalhando.--- mais eu, Grego, chefe do alemão vou continuar aqui! E como Nero, vou ver minha "Roma" queimar.---O delegado bate palmas.

---Você é louco, um psicopata, mas as pessoas desse lugar estão tão absorvidas pela sua maldade que não conseguem enxergar. Você é o breu que tudo que toca morre, você Grego, não é um herói, é um merda que acha que pode salvar o morro da maldade, porém eu te digo com toda a certeza, o único câncer desse lugar é você, e enquanto você continuar de pé, esse lugar continuará queimando e sucumbindo. ---Cospe as palavras na minha cara. ---Gostaria de ter outra opção, mas... ---Aponta a arma para mim e eu sorrio. ---Te vejo no inferno. ---Um tiro é disparado mas não me acerta, vejo Fernando cair no chão e logo após um imenso breu me consumindo.

E isso é apenas o que me lembro dessa noite louca.

***

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