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- Samantha! - Olhei para o seu corpo desfalecido, não podia acreditar. Em um minuto estávamos tão bem, agora ela está aqui em meus braços, o sangue que sai da região de sua barriga é desesperador. - Chamem uma ambulância! - Com sua cabeça entre minhas mãos, eu rezava para que ela aguentasse mais um pouco.

Agora vendo direito, Kassandra só esperava um bom momento para atacar.

- Desgraçada! Eu vou te matar! - Me levantei para alcançar a mulher que olhava tudo assustada.

Kassandra parecia não pertencer a este mundo. Ela olhava para as suas mãos ensanguentadas e soluçava.

- Vicente... o que está acontecendo... me ajude... por favor!

Olhei novamente para o pequeno corpo de Samantha no chão. Ela não iria gostar que eu fizesse algo tão cruel como Kassandra fez.

- Eu vou ver você apodrecer sozinha no inferno, Kassandra! Escreva o que eu digo.

Fiquei minutos ou horas ali esperando a maldita ambulância. Junto com ela, chegaram dois carros de policia que sairam carregando Kassandra.

Eu não podia perder Samantha assim. 

*******

- Vicente!

- Pai! - Meu pai estava parado no corredor do hospital com uma mulher loira ao seu lado. Sua feição não era das melhores.

- Que merda! Eu disse para não magoar ou machucar aquela menina! Eu disse!

- Pai... - ele estava com suas mãos em minha roupa suja de sangue, meu pai me sacudia violentamente enquanto eu chorava.

Estava certo, era tudo culpa minha. Se eu não tivesse aparecido na sua vida, se não tivesse me apaixonado pela primeira vez em que coloquei meus olhos nela. Se eu não tivesse elaborado aquele plano idiota!

- ... eu a amo, pai. Nós vamos ter um filho.

- Seu merda! - Ele tirou as mãos de mim, se afastando. - Eu... não sei se estou chocado ou com raiva, mas você fez uma ótima escolha. Sam é uma ótima moça e merece tudo de bom. A história dela é de superação. E quando eu a contratei prometi que ela sempre estaria segura. Eu cuidei dessa garota, Vicente! Eu tenho amor de pai por ela. E agora? O que vai acontecer se ela não sair dessa?

- Ela vai sim, querido. - Falou a mulher ao seu lado que agora eu reconhecia sendo Chessie, minha madrasta. - Lembre de todas as coisas que ela já passou, ela é forte.

- Sim, ela é. -  Ficamos ali quietos até Lídia chegar com Marco e um Oliver transtornado.

- DESGRAÇADO! EU VOU MATAR VOCÊ! - Eu não tive reação ao sentir o soco na minha face.

Em seguida, Oliver voou com o soco que recebeu do meu pai.

- Só quem bate nesse bosta sou eu, o pai dele!

- Chega! - Gritou Lídia. - Agora já chega, a minha melhor amiga está lá dentro daquela sala de cirurgia e só Deus sabe como ela está! Eu não quero saber de brigas aqui, tá legal?

Oliver veio aproximando e limpando a boca cheia de sangue. Eu simplesmente assenti.

- Eu liguei para os pais dela e eles estão vindo para cá. Acentue o que você vai dizer a eles, Vicente! Pelo o amor de Deus!

- Por quê?

- Você não conhece os Levi. Mesmo estando distante eles vão fazer de tudo para defender a filha.

*******

As horas passaram e nada de noticias dela. Nenhum médico ou enfermeiro que passavam pelo corredor sabiam de nada. Eles só me disseram que se alguém ainda não havia dado noticias ou que a cirurgia havia sido realizada sem nenhuma complicação ou complicações demais que nem dava para sair da sala para informar para a familia.

- Onde está ela? - Uma mulher alta e magra parou ao lado de Lídia e a abraçou.

- Tia Marta! - Ela retribuiu. - Ainda não temos noticias...

- O que aconteceu com a minha menina? - Senhor Levi perguntou friamente com as mãos no bolso da calça social.

Lidia olhou para mim e para Oliver.

- Minha ex mulher...- comecei. - ela estava obssecada por afastar Samantha e eu. Senhor Levi, eu amo a sua filha e...

- Vá direto ao assunto meu rapaz. Eu quero saber o que houve para minha filha estar deitada numa mesa de cirurgia agora.

- Kassandra, ela estava no mesmo lugar que Samantha e eu estávamos. Nós nos entendemos e eu iria dar um fim na história inventada por Kassandra. Eu não sabia que ela estava lá em cima escutando tudo. - Contei o desfecho da história e dona Marta caiu no pranto.

- Vicente não é? - Ele perguntou. Assenti. - Você ama a minha filha?

- Claro que sim!

-Então você vem comigo. Agora!

- Espera ai. - Meu pai interviu - Para onde vai levar o meu filho?

- Vou levá-lo para terminar essa história! Eu tenho uns contatos, vou descobrir onde essa mulherzinha está.

- Presa. Ela está presa.

- Ótimo, vamos! Qualquer novidade me ligue, Marta. - E assim ele beijou a cabeça da esposa e saimos do hospital.

*********

- Aqui! Mil reais por meia hora lá dentro com ela! - Ele falou com o policial. - Câmeras desligadas por favor.

-Sim senhor. Meia hora.

- Vamos garoto, temos que ser rápidos!

Entramos numa sala escura. Devia ser a sala de visitas. Kassandra estava sentada enrolando os cabelos.

- Vicente, você veio me tirar daqui meu amor. Esse é o advogado? Eu sabia que você não me deixaria aqui!

- Eu sou o advogado... - senhor Levi falou tirando o cigarro da boca. - e eu precisava te conhecer. - Ele passou as mãos em seus cabelos.

- Claro, e quando vai me tirar daqui? Preciso ir pra casa. Vicente não fica tanto tempo sem mim, não é amor?

- Eu sou seu advogado, confie em mim. Sou conhecido como advogado do capeta! - Ele soltou uma risada tão assustadora que até eu me assustei. Kassandra se remexeu na cadeira.

- O que está fazendo? Vicente, me ajuda! Ahhh! - O pai de Samantha estava apagando o cigarro dentro da blusa de Kassandra.

Um estilete surgiu que estava guardado em seu bolso, passando-o no rosto dela.

- Você quase, quase matou minha menininha... eu não vou te matar, quero que conviva com isso e nunca mais pense em chegar perto dela ou do meu neto. - Ele deu um soco em seu rosto e cravou a ferramenta em seu olho direito. Kassandra gritou.

Aquela era a hora que tinhamos que sair dali. Senhor Levi ainda a jogou dentro da cela novamente.

- Vão pensar que foi uma briga. - Ele disse limpando o estilete, em seguida suas mãos.

********

Já no carro à caminho de volta ao hospital, eu estava pensativo com o que acabara de presenciar. O senhor Levi me encara.

- Está assustado filho? Tenho certeza que Samantha não contou a ninguém que seu pai é assassino de aluguel. Deixa eu ver, ela contou que eu e a mãe dela eram velhos e queriam paz depois de criar ela. Eu fui contratado para matar a mãe drogada de Samantha, e ela também. Beth devia até as calcinhas para os traficantes da região. Eu nunca havia matado uma criança e Samantha era um bebê muito doce. Me apaixonei por ela, e Marta, porra minha mulher amou a ideia de ser mãe.

Aquela história era bem mais dolorosa do que a contada por Samantha. Eu entendia o por que dela não querer contar. Pensando assim, Kassandra mereceu o que lhe aconteceu.

Meu telefone tocou.

- Alô?

- Ela já saiu da cirurgia e a bebê nasceu de seis meses, está na NEO NATAL. - Lídia falava rápido.

- Uma menina. - Olhei para o senhor Levi, ele sorri.

-Venham logo!

Eu já era pai, minha mulher havia sido forte por nós três e agora eu tinha uma filhinha prematura.

- Já estamos a caminho!

CEO- O ACORDO (Concluído) Sem RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora