— Quando vai finalmente tomar jeito? No que você estava pensando quando abandonou a faculdade? Huh? Acha que vou te sustentar para sempre? — Não poder simplesmente responde-lo me matava. Ter apenas que ouvi-lo é tortura psicológica.
— Não me fazia feliz — Limitei minha resposta a uma frase, que para muitos funcionaria como resposta. Mas não pra ele.
— Felicidade? Felicidade é relativo... Felicidade é ter um emprego que pague as suas contas, é não precisar ser rebaixado por ninguém... Isso é felicidade!
— Felicidade é estado de uma consciência plenamente satisfeita por definição. Direito não me faz sentir isso e nunca fará... — Suspirei, o corpo cansado, a cabeça dolorida de dentro para fora, eu não estava em um estado de lástima, eu sou a própria lástima — Não se preocupe sobre me sustentar... Eu vou sair de casa, eu já estou procurando um lugar pra mim — Mentira — Eu sei me virar — Mentira.Ele não respondeu, nem mesmo olhou em minha direção, aceitei aquilo como um 'pode ir' então eu fui. Meu quarto ainda parecia o mesmo de quando eu tinha 12 anos, as paredes ainda se encontravam em um tom claro de azul, ainda tinham pequenos pássaros pintados no teto. Fotos de minha infância e adolescência enquadrando meu grande mural. Esse lugar já me passou paz. Hoje tudo que sinto nesse lugar é uma sensação tortuosa de sufocamento. Sob minha escrivania, como um troféu imaculado estavam as economias de uma vida inteira.
No momento o nome correto para aquele grande vaso de porcelana completamente lacrado era 'salvação'.
Tudo que eu queria fazer era me deitar, dormir até meus problemas irem embora, não poderia, e não o faria.
Não sei quando eu comecei, mas já sentia minha cabeça latejar pelas horas na frente da tela mediana de meu computador. Meus olhos já tinham contemplado todos os tipos de apartamentos possíveis. Muitos quartos, muitos banheiros, nenhum quarto, nenhuma sala de estar... Nada que me interessasse e estivesse dentro de minhas não tão abrangentes condições financeiras.
Minha necessidade por ar fresco me fez sair do quarto. Tudo estava quieto. Meus pais provavelmente já estavam dormindo. Todo o local se encontrava em um breu noturno, apenas a luz da lua adentrava pálida pela janela da sala.
Uma coisa que adoro sobre morar em um prédio na Coréia, é que a grande maioria deles tem um ambiente maravilhoso no último andar, geralmente um jardim com uma pequena mesa.
Não havia nenhuma luz acessa ali, apenas a luz da lua iluminava o local. Parte da cidade ainda parecia acordada, alguns faróis faziam uma bela vista, sumindo e aparecendo de meu campo de visão.
— É uma bela vista — Meu corpo inteiro se assustou com a presença estranha. Aquele lugar era raramente visitado quando dia, ter alguém aqui no meio da madrugada é no mínimo assustador.
— Quem é você?
— Sou a nova moradora, me mudei hoje... Estava com dificuldades para dormir então resolvi vir aqui — Se tratava de uma garota pequena, entre 1,55 e 1,60. Ela possuía bochechas avermelhadas e gordinhas, seu rosto era quase infantil, mas ela parecia ter a minha idade, ela sorria de forma doce. Sorri também.
— Bem vinda ao prédio então... — Voltei a encarar a vista a minha frente.
— Me diga senhorita... Gosta de história?
— Senhorita? Nós provavelmente temos a mesma idade, pode me chamar de você — Me virei rapidamente pra ela. Apoiei meu corpo na mureta do prédio, cruzando os braços na altura dos seios.
— E então... Gosta de história? — Ela se repetiu.
— História tipo... História pra criança ou a matéria escolar?
— Eu diria que... Ambas.
— Não e não — Respondi simples. Ela por sua vez arregalou os olhos, como se eu tivesse dito algo absurdo.
— Não? E por que não?
— Histórias para dormir apenas iludem as crianças... Príncipes e princesas encantados não existem... E sobre a matéria escolar, por que eu tenho que aprender sobre algo que já aconteceu? Algo que eu não posso fazer nada pra mudar, mesmo sendo algo terrível... É perda de tempo — Respondi e sorri novamente. Já a garota a minha frente parecia aterrorizada. E eu achando que eu era a jovem adulta estranha do prédio — Mas eu não tenho nada contra quem gosta, cada um com o seu cada um...
— Eu não entendo... Digo, você é você... Juno nunca erra — Ela olhava pro chão, andando de um lado para o outro — Ela não pode ter começado a errar agora... Você é (s/n) (s/sob) certo?
— Eu nunca te disse meu nome... Como você...
— Ah Juno... Sempre pregando peças — A garota cortou minhas palavras, quase que as ignorando.
— Tudo bem... Eu acho melhor eu ir, deixei o ferro de passar ligado — Sorri sem graça, tentando me mover em direção a porta que dá a escadas. Mas a garota continuava a minha frente.
— Olha, tudo vai parecer novo e levemente assustador, não se preocupe no entanto, Juno sempre sabe o que faz e como faz. Apenas tente se lembrar da história, eu sei que a senhorita a conhece... Todos conhecem — A garota suspirou — Apenas siga seu coração e vai saber o que fazer... Eu sinto muito por ter que fazer isso...
— Fazer o que? — Ela não respondeu. Com uma calma absurda, sua mão direita tocou minha têmpora. E isso é tudo que me lembro antes de tudo a minha volta se apagar, foi como cair em um lago profundo, parecia que eu estava vendo tudo debaixo de uma profunda camada de água, tudo que havia acima de mim era uma forte luz branca, então tudo se escureceu, e eu não me sentia mais como eu.
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Moon Tales
FanfictionTudo que eu tinha eram problemas normais, de garotas normais. Pais que não sabem o que eu quero e não me entendem, poucos amigos... Até acordar e estar vivendo a vida de outra pessoa, em outro século, maldita Juno!