Somme
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1916
O campo era uma visão da morte. Não havia humanidade naquilo, nenhum pingo de senso humano. Corpos de homens que batalharam estavam estendidos ao chão. Sujos, molhados, mofados, apodrecendo ao ar livre sem que tivessem alguém para retirá-los. Armas descarregadas, balas perdidas, destroços e trincheiras protagonizavam o terror naquele local.
Não havia um homem vivo sequer, apenas um corvo.
Ele se empoleirou numa tora de madeira que estava em pé, empilhada nas terras e nos corpos que jaziam. Os olhos brancos observavam toda a destruição, sem entender o que aquilo significava. Parecia procurar por alguém que não conseguia encontrar no meio daquela bagunça.
Era um horror.
A ave negra emitiu um som alto, como se gritasse por clemência e por ajuda. Gritou, gritou e gritou até não ter mais forças e se cansar de gritar. As asas bateram, mas no momento ele não levantou voo.
O sentimento que surgiu no animal naquele instante era um sentimento que nenhum humano sentia: pena. Estava triste por toda aquela matança, mesmo sem entender.
Aqueles olhos brancos ainda vasculhavam o local, buscando e buscando...
Até encontrar.